37 | negro

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O medo do amanhã é como um quadro tingido de negro e cinza.

🎨

Junho, 2023.

O céu noturno trazia um toque acolhedor, junto com o medo de não saber o que tinha na escuridão.

Mesmo sendo noite, Jimin resolveu ir até a galeria. O choque da perda do seu avô foi grande, mas o tempo cuidou em curar ele, mesmo que ficasse triste sempre que lembrava daquilo. Ainda estava de luto — mesmo tendo passado quatro meses e ainda ainda se sentir tremendamente triste —, então se reservou a ficar em casa e cuidar da sua dor. Mas o diretor mandou uma mensagem querendo conversar com ele, e como não estava fazendo nada em casa e Leung ainda estava na galeria, resolveu ir até lá agora mesmo para resolver tudo logo.

Estava de férias da vida, de tudo. Não estava saindo para beber, não estava esculpindo e apenas ficava em casa sem fazer nada. Às vezes tinha muita vontade de fumar, mas comia um doce para enganar a vontade e passava o restante do dia se sentindo fisicamente bem, mesmo que sentisse seu emocional cansado do momento que acordava até o momento que dormia. Parecia que ele estava internado em alguma clínica, só que uma bem solitária e longe de tudo.

Quando passou pela porta da galeria, se sentiu bem em estar ali novamente, como se finalmente tivesse voltado para casa após uma longa viagem. Aquele prédio era bem branco, bem claro, deixando apenas a arte ser a alegria do lugar e contar sua história. Jimin gostava muito dali, pois era onde podia ser quem era de verdade e isso causava um bem grande na sua criança interna que precisou se esconder boa parte da vida. Caminhou lentamente pela sala, observando as artes e percebendo alguns novos quadros que não tinha visto ainda. Até viu um assinado com TK e se perguntou quando Taehyung iria voltar, se é que um dia iria voltar.

Seu amigo sumiu e não deixou rastros, nem uma explicação, o que era bem irritante. O diretor também não sabia onde ele estava, apenas dizia que ele tinha pedido folga do contrato e que logo estaria de volta, mas já fazia um ano e meio que o garoto tinha sumido e até agora nada. Ninguém pedia folga por mais de uma ano

Andando mais um pouco pelos corredores, ele viu Leung parado em frente a sua escultura mais famosa, uma meia-lua. Se aproximou devagar, querendo ver o que ele olhava tão intensamente e imerso na própria mente, mas não achou nada, apenas a escultura que tinha feito nos primeiros meses que estava ali.

— E aí — chamou a atenção do homem, que o olhou no mesmo instante.

— Não precisava vim agora, poderia muito bem vir amanhã — disse, preocupado por ele sair tarde de casa naquele momento tão delicado.

— Tava sem nada pra fazer. — Deu de ombros, olhando mais uma vez para a escultura.

— Sinto muito pelo seu avô. — Jimin assentiu. Já tinha ouvido tanto aquela frase que nem sentia mais o que deveria sentir. E ele nem sabia o que deveria sentir. — Enfim, pelo menos você saiu de casa um pouco. — Sorriu, como se tivesse cumprido seu propósito.

— E então, o que queria? — perguntou, querendo ir logo ao ponto sem muitas enrolações.

Leung respirou fundo, como se estivesse nervoso para revelar suas intenções que eram bem óbvias.

— Eu tava pensando... porque não faz uma exposição? Não seria maneiro?

Jimin quis rir pelo jeito que ele falava, e o pior era que ele era daquele jeito mesmo, mas não deixava de ser estranho um homem de meia-idade falando como um adolescente na puberdade. Sem contar que Leung já tinha feito aquela proposta e ele já tinha aceitado, apesar de nunca ter começado uma escultura para a tal exposição. Aquilo ficou em segundo plano diante de tudo que aconteceu, e aparentemente seu chefe até tinha esquecido disso.

cores são sentimentos, tysOnde histórias criam vida. Descubra agora