Capítulo 1

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Era uma vez um reino próspero, cercado por florestas densas, montanhas que tocavam o céu e rios que corriam com uma força indomável. Mas, por trás de toda a beleza daquelas terras, havia um governante implacável. O rei, temido por todos, era um homem que conhecia apenas o poder e a força bruta. Ele governava seu povo com mão de ferro, raramente mostrando compaixão ou piedade. Seu nome era sussurrado com reverência e temor, e poucos ousavam olhar diretamente em seus olhos sombrios.

Mas, por trás da fachada dura do monarca, havia dois filhos que carregavam o peso do legado de sua linhagem. Jeon Jungkook, o primogênito, com 18 anos, era o herdeiro do trono, destinado a seguir os passos de seu pai. Jeon Joo-woo, o irmão mais novo, tinha 16 anos e olhava para o irmão mais velho com admiração e respeito. Embora a coroa fosse destinada a Jungkook, ele secretamente desejava que fosse Joo-woo quem a herdasse. Jungkook sempre sentira uma inquietação em seu coração, uma sensação de que ele não estava destinado a ser o rei que seu pai queria que ele fosse.

Desde cedo, Jungkook sabia que seu destino estava traçado. Aos 19 anos, ele tomaria o lugar de seu pai no trono, e isso era algo que ele não podia evitar. A ideia o sufocava. Ele via como a coroa havia transformado seu pai — um homem que outrora era nobre e justo, mas que, com o passar dos anos, havia se tornado frio e distante. O poder parecia consumir a alma daqueles que o possuíam, e Jungkook temia que o mesmo destino o aguardasse.

No entanto, ele não podia expressar essas preocupações a ninguém. Seu pai o ensinara que a fraqueza não era aceitável, especialmente para um futuro rei. "Reis não têm tempo para sentimentos," seu pai costumava dizer. "O coração de um rei deve ser de pedra. Só assim ele pode governar com justiça e força."

Uma manhã fria, o rei decidiu que era hora de seu filho mais velho aprender mais sobre como governar o reino. Eles fariam uma visita à aldeia, um gesto que, na superfície, parecia de cuidado para com o povo, mas que na verdade era um lembrete do poder da coroa sobre todos.

— Você virá comigo hoje, Jungkook, — o rei declarou enquanto passava sua pesada capa de veludo sobre os ombros. — Está na hora de aprender mais do que só lições no palácio. Um rei deve conhecer seu povo, saber o que se passa em suas terras, e mostrar que sua autoridade está sempre presente.

Jungkook assentiu em silêncio, sentindo o peso dessas palavras. Embora respeitasse o pai, ele sabia que não queria se tornar como ele. Ser rei para seu pai significava usar o medo como ferramenta para controlar e governar, e Jungkook desejava algo mais. Ele queria um reino onde pudesse inspirar respeito, não medo.

Eles partiram do palácio montados em seus cavalos. O vento cortava o ar enquanto avançavam pelos caminhos de terra que levavam à aldeia. As colinas, cobertas por uma leve neblina, davam à paisagem um ar misterioso e encantador. Os campos vastos, que uma vez floresceram com cores vibrantes, agora estavam envoltos pela melancolia do outono. As árvores ao redor perdiam suas folhas lentamente, como se o próprio reino estivesse refletindo o peso que Jungkook carregava em seu coração.

Ao se aproximarem da aldeia, o som dos cascos dos cavalos parecia anunciar a chegada do rei, e logo os aldeões começaram a sair de suas casas, formando filas nas ruas de terra batida. Os plebeus reverenciavam o rei com medo, baixando a cabeça e evitando contato visual. Os sorrisos que forçavam eram tensos e desprovidos de qualquer alegria. Para o povo, a visita do rei era um lembrete do poder absoluto que ele possuía sobre suas vidas.

Jungkook observava tudo com atenção. Ele sentia uma mistura de compaixão e tristeza ao ver a maneira como os plebeus tratavam seu pai. Embora soubesse que a autoridade era necessária para governar, ele não queria que seu povo o visse apenas como uma figura de medo e opressão. Queria ser um rei diferente, um que trouxesse prosperidade e esperança ao invés de medo e controle.

Enquanto cavalgavam pela praça principal da aldeia, algo inusitado aconteceu. Em meio à multidão, Jungkook viu alguém que capturou sua atenção como nada mais havia feito antes. Um jovem plebeu, loiro, com olhos azuis tão profundos quanto o céu em um dia claro, se destacava entre os demais. Ele era diferente, não apenas por sua aparência, mas pela aura tranquila que o rodeava. Enquanto todos os outros plebeus abaixavam os olhos em reverência ou medo, aquele jovem manteve seu olhar firme, e seus olhos se encontraram com os de Jungkook por um instante que pareceu durar uma eternidade.

O coração de Jungkook acelerou. Ele nunca havia sentido algo assim antes. O jovem parecia... quase etéreo, como se não pertencesse àquele mundo. Os olhos azuis do plebeu brilhavam de forma única, e Jungkook sentiu uma onda de emoções confusas. Era como se uma força invisível o atraísse para aquele rapaz, como se algo dentro dele tivesse despertado, algo que ele não conseguia entender.

Por um momento, o príncipe ficou completamente paralisado, incapaz de desviar o olhar. Sua mente estava repleta de perguntas. Quem era aquele jovem? De onde ele viera? E por que seu olhar mexia tanto com ele?

O tempo pareceu parar até que a voz do rei ecoou, tirando Jungkook de seu transe.

— O que tanto você olha, garoto? — o rei perguntou, com um tom curioso, mas impaciente. Ele notara a distração do filho e não gostava quando Jungkook desviava sua atenção do que realmente importava: aprender a governar.

Jungkook piscou algumas vezes, sentindo o calor subir em seu rosto, e rapidamente desviou o olhar.

— Nada, pai, — ele respondeu, tentando disfarçar o embaraço. O rei o encarou por mais alguns segundos, como se estivesse tentando ler os pensamentos do filho, mas logo voltou sua atenção aos plebeus.

Jungkook, por outro lado, mal conseguia se concentrar nas palavras que seu pai dizia. A imagem do jovem plebeu estava gravada em sua mente. Ele não conseguia parar de pensar naqueles olhos azuis, na serenidade daquele olhar, e na forma como seu coração reagira de maneira tão inesperada. Era como se uma porta dentro de si tivesse sido aberta, revelando um mundo de possibilidades que ele nunca havia imaginado antes.

Ao final da visita, enquanto voltavam ao castelo, o silêncio entre pai e filho parecia ainda mais pesado. O rei, satisfeito com a demonstração de poder, permanecia impassível. Jungkook, por outro lado, estava perdido em pensamentos. Ele sabia que algo havia mudado naquele dia. Algo dentro dele havia despertado, algo que ele não conseguia mais ignorar.

Quando chegaram ao castelo, o sol já estava se pondo, e as sombras longas das torres do castelo dançavam pelo pátio. Jungkook desmontou de seu cavalo e seguiu direto para seus aposentos, ainda atordoado pelo que havia sentido na aldeia.

Sentado à beira de sua janela, ele olhou para o horizonte distante, onde as luzes da aldeia começavam a se apagar. E, mesmo estando longe, ele ainda podia ver claramente os olhos azuis daquele jovem, gravados em sua mente como uma chama que se recusava a apagar.

— Quem é você? — ele sussurrou para si mesmo, sabendo que essa era uma pergunta que precisaria responder. O príncipe sabia que não seria capaz de ignorar essa nova obsessão. E, no fundo, ele também sabia que, de alguma forma, aquele plebeu de olhos azuis mudaria sua vida para sempre.

Azul como a cor dos seus olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora