O vento cortava como lâminas, carregando o cheiro de terra molhada e folhas secas. Alice observava a estrada estreita pela janela do carro da avó. O caminho parecia interminável, serpenteando pela densa floresta, cada curva trazendo consigo um novo nível de isolamento. Ela apertou o casaco contra o corpo, tentando conter o frio, embora soubesse que a sensação gélida não vinha só do clima.
— "Vai se acostumar, querida," disse a avó, com a voz cansada, mas doce. "Aqui é tranquilo. Talvez seja o que você precise para... para se curar."
A palavra curar soou oca para Alice. Desde o acidente, o mundo parecia sem cor, sem vida. As lembranças de seus pais, aquele sorriso caloroso e a sensação de estar segura, tudo havia sido arrancado dela de maneira brutal. Ela ainda sentia o impacto da notícia, o choque, o vazio que tomou conta de si.
— "Eu sei, vó... vou tentar," respondeu, tentando parecer mais forte do que se sentia, mas sua voz saiu baixa, quase um sussurro.
A estrada estreita levou a um lugar ainda mais remoto. A casa da avó era pequena, uma construção de madeira antiga, cercada por árvores altas que pareciam vigiar o local. Era como se o mundo tivesse desaparecido e restassem apenas elas duas, presas em um canto esquecido do tempo.
Alice saiu do carro, sentindo o peso do ar ao seu redor, denso e carregado de uma estranha melancolia. As montanhas ao longe pareciam observar, suas formas escuras contra o céu cinzento. Ela respirou fundo, tentando se convencer de que esse lugar poderia lhe dar algum tipo de paz, mas havia algo errado... algo inquietante.
— "Vai descansar, querida. Amanhã você se sentirá melhor, prometo," disse a avó, acariciando gentilmente seu ombro. Alice apenas assentiu, desejando acreditar nas palavras de sua avó, mas algo dentro dela não a deixava relaxar.
Assim que entrou na casa, o chão de madeira rangeu sob seus pés. O interior era simples, acolhedor até, mas nada naquele ambiente lhe trazia conforto. Subiu as escadas lentamente, os degraus ecoando a cada passo, até alcançar o quarto que sua avó havia preparado. As paredes estavam cobertas de papéis de parede antigos e desbotados, e a cama era pequena, com lençóis que cheiravam a lavanda, mas nem isso aliviava a sensação de desconforto.
Deitou-se, tentando se perder no silêncio, mas, ao contrário do que esperava, o silêncio era opressivo, como se houvesse algo oculto nele. Fechou os olhos, forçando o sono a vir, mas a sensação de estar sendo observada não a deixava.
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Lá fora, oculto nas sombras, ele estava. Dante. Observava a casa com um interesse perturbador, os olhos fixos na janela do quarto de Alice. Ele havia esperado por aquele momento por anos, planejando cada detalhe. Agora, finalmente, ela estava ao seu alcance. Ela não sabia ainda, mas já era dele.
— "Finalmente," murmurou para si mesmo, os lábios se curvando em um sorriso frio e sombrio. "Você vai me conhecer, Alice. Vai me temer. E, no fim, vai me amar."
Ele já havia preparado o local onde a levaria. Uma casa abandonada nas montanhas, mais isolada ainda do que a da avó dela. Lá, ninguém iria a encontrar . E a cada dia, ele se aproximaria mais, quebraria cada pedaço de sua resistência, até que ela pague por algo que não cometeu.
Dante deslizou silenciosamente pela escuridão, seus passos leves como a brisa que balançava as árvores ao redor. Ele sabia esperar, era paciente. Mas agora, o tempo da espera estava acabando.
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Alice acordou com o coração acelerado. Havia sonhado com sombras, com olhos que a observavam, penetrantes, implacáveis. Ela se levantou, suando frio, sentindo o quarto subitamente menor, mais apertado. Caminhou até a janela e olhou para fora. Tudo parecia calmo, mas seu instinto gritava que algo estava errado.
No chão lá fora, sob o brilho pálido da lua, um único objeto reluzia. Algo que não estava ali antes. Ela franziu o cenho, tentando entender o que era. Com hesitação, desceu as escadas em silêncio, tomando cuidado para não acordar a avó.
Quando saiu pela porta, o ar frio a envolveu, mas isso não era o que mais a incomodava. Aproximando-se do objeto, seu coração batia cada vez mais forte. Era um bracelete. O bracelete que sua mãe usava. As mãos de Alice começaram a tremer enquanto pegava o objeto do chão.
— "Mas como...?" sussurrou, a mente inundada de perguntas. Sentiu os olhos se encherem de lágrimas.
De repente, um farfalhar entre as árvores a fez congelar. Seu olhar rapidamente foi atraído para a escuridão da floresta. Havia algo – ou alguém – ali.
Ela sentiu o peso da presença antes mesmo de vê-lo. Dante, envolto pelas sombras, observava cada movimento dela, um predador à espreita. O medo rastejou pela espinha de Alice, enquanto a noite ao seu redor parecia ainda mais sufocante.
— "Você... não deveria estar aqui sozinha," uma voz masculina ecoou das árvores, profunda e sedutora.
Alice deu um passo para trás, o coração acelerado. Ela não sabia da onde tinha saido, mas, naquele momento, não havia escapatória. Dante deu um passo à frente, sua silhueta se tornando mais clara à luz da lua.
— "Mas agora que está... eu infelizmente não vou deixar você ir."
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Dark Romance
FanfictionSinopse: Após perder os pais em um trágico acidente de avião, Alícia é forçada a deixar sua vida para trás e se mudar para uma região remota, onde passa a viver com sua avó. Isolada e atormentada pelo luto, ela tenta se adaptar à nova realidade, mas...