Capítulo III

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A casa era um monumento ao silêncio, mergulhada em uma aura densa que parecia pesar sobre cada parede. As luzes, poucas e distantes, lançavam um brilho fraco e pálido sobre o ambiente. Não havia quadros, nem fotografias, e muito menos qualquer sinal de vida que trouxesse algum calor ao espaço. O ambiente era minimalista ao extremo, quase impessoal, com móveis de linhas retas e sem detalhes. As cores predominantes eram preto e um cinza apagado, como se a própria casa tivesse sido drenada de qualquer tonalidade vibrante. Era uma casa que, em sua simplicidade, transmitia um ar de desolação silenciosa, quase fantasmagórica.

Sunghoon, cujo nome parecia se perder no meio dos murmúrios silenciosos de seus colegas, sentava-se no quarto, o único lugar que possuía algum traço de sua personalidade. O quarto era pequeno, as paredes lisas, pintadas de um cinza claro. Dali, ele podia ver uma vasta floresta ao longe, a névoa fina que pairava sobre as árvores criando uma visão quase sobrenatural. A casa ficava em uma região afastada, às margens da cidade de Quioto, como se estivesse à beira do mundo, em um lugar onde o tempo não corria do mesmo jeito.

Os móveis eram tão simplistas quanto o resto da casa: uma cama baixa, quase rente ao chão, uma escrivaninha de madeira escura sem enfeites, e uma cadeira de linhas retas. A única decoração, se é que poderia ser chamada assim, era uma estante de madeira crua, coberta por livros velhos e empoeirados. Pareciam ter sido deixados ali há décadas, esquecidos pelo tempo. Algumas das lombadas estavam rachadas e desbotadas, e as páginas amareladas sugeriam que não eram tocadas há muito tempo. Os títulos, em línguas antigas e indecifráveis.

Entre os livros, pequenos objetos estranhos decoravam as prateleiras. Um globo de vidro rachado que refletia a luz de forma peculiar, um conjunto de velas que jamais foram acesas, e um pedaço de madeira entalhado em formas geométricas que não faziam sentido. Havia também um frasco antigo, de vidro âmbar, com uma substância desconhecida em seu interior, e uma pequena caixa de ferro, fechada, com detalhes intrincados gravados na tampa. Esses objetos não eram muitos, mas cada um carregava uma sensação de mistério, como se guardasse segredos antigos.

O ar dentro do quarto parecia pesado, não pela poeira ou pela falta de ventilação, mas por algo mais profundo, algo que estava no próprio espaço. O garoto, sentado na escrivaninha com o corpo relaxado de forma quase displicente, observava a janela com olhos vazios. A luz da lua filtrava-se entre os galhos das árvores, iluminando seu rosto de forma sutil. Havia algo quase antinatural em sua quietude, como se ele próprio fosse uma extensão daquela casa silenciosa e isolada. Seu cabelo caía levemente sobre os olhos, e seus traços eram suaves, mas marcados por uma palidez incomum, como se o sol fosse uma memória distante.

Ele olhou de relance para os livros na estante, mas não fez menção de se mover. Havia uma estranha relação entre ele e os objetos naquele quarto. Era como se eles fossem parte de um mundo antigo e esquecido, e ele, o guardião silencioso daquele universo inerte. Nada ali parecia realmente pertencer ao tempo presente. A única conexão com o exterior era a janela que se abria para a vasta floresta. Ele a observava frequentemente, seus olhos escuros vagando pelas copas das árvores, como se procurasse algo na escuridão densa. O vento movia as folhas suavemente, mas o som não alcançava o interior do quarto, isolado como se fosse de outra dimensão.

Havia uma distância quase emocional entre ele e tudo ao seu redor, como se fosse um espectador em sua própria vida. Ele vivia ali, naquele espaço, mas não pertencia completamente a ele. Talvez, se alguém olhasse de perto, poderia dizer que a própria casa o observava de volta, como se ele e o ambiente estivessem presos em uma dança silenciosa e antiga, onde o tempo não tinha poder.

A lua brilhava um pouco mais agora, lançando sombras longas e distorcidas pelas árvores. A floresta, vasta e imponente, parecia murmurar algo que apenas ele podia ouvir, e seu olhar permaneceu fixo, perdido entre as sombras.

My Cold Blood - SunghoonOnde histórias criam vida. Descubra agora