38 | roxo

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O roxo, sábio e profundo, reflete a sabedoria em sua essência.

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Enquanto caminhava lentamente pelas ruas barulhentas que há tempos não via, ele respirava aliviado por não sentir mais aquela poluição que antes o incomodava.

Estava aproveitando o momento: o som das pessoas andando, os carros passando, os motoristas de moto reclamando. Fazia quase dois anos que Taehyung estava preso no quartel, e, embora a doutora o aconselhasse a sair um pouco para curtir a cidade, ele simplesmente não sabia o que fazer com essa liberdade. Não conhecia ninguém naquele país, e seus colegas de serviço tinham medo dele. Então, preferia trabalhar, ocupar a mente e se manter em silêncio, um silêncio que, ao longo do tempo, aprendeu a usar a seu favor, em vez de tratá-lo como um monstro.

Agora, era bom ver o mundo novamente, e ele não sentia mais medo da vida.

Enquanto arrastava a mala pelas calçadas, Taehyung observava tudo na cidade como se tivesse passado uma década longe. Cada detalhe parecia novo, e até mesmo o barulho era reconfortante, algo que nunca imaginou que apreciaria. Sabia que ainda tinha muito a fazer para se curar dos fantasmas que às vezes rondavam sua mente, mas agora estava determinado a tentar vencer aquilo. Queria ser alguém que vivia de verdade, que sabia aproveitar a vida, e não apenas alguém que comia para manter o corpo vivo por mais um dia. Queria aprender a comer e realmente saborear a comida — e, claro, sabia que isso não era apenas sobre a comida, mas sobre a vida como um todo.

Quando passou em frente a um shopping, não hesitou em entrar. Procurou as melhores lojas e roupas, algo que não fazia há anos. Na verdade, ele nunca fez compras para si mesmo; usava as mesmas roupas de sempre, e, quando precisava de algo novo, recorria a um brechó. Essa era a primeira vez que entrava em um shopping para comprar roupas para si, e não para seu irmão. Jungkook havia completado 20 anos recentemente, estava estudando e logo começaria a trabalhar. Taehyung sabia que o irmão iria se virar bem quando precisasse de algo.

Taehyung provou todas as roupas que achou bonitas, experimentou todos os óculos de sol que chamaram sua atenção, e até experimentou as joias mais brilhantes, comprando algumas de presente para si mesmo. Fez amizade com os vendedores, que foram gentis demais, e saiu de lá com um jantar marcado com todos eles. Ele aceitou o convite, percebendo que, embora pudesse ser reservado, não precisava ter medo de tudo que respirava.

Saiu do shopping se sentindo bem, mas faminto. Parou em um restaurante sofisticado, com vista para um lago onde famílias de classe alta passeavam e faziam piqueniques. Observando aquela cena, Taehyung também quis aquilo para si. E, pela primeira vez, permitiu-se sentir inveja de algo que qualquer ser humano poderia ter, como um simples passeio em família.

Enquanto fazia todas essas coisas, Taehyung quase não se reconhecia, mas agradeceu internamente por ter tomado aquela decisão. Pela primeira vez em sua vida, que antes era apenas suportável, ele se colocou em primeiro lugar. E era uma sensação indescritível poder fazer algo por si mesmo.

Quando chegou ao novo apartamento, um pouco mais distante do antigo e mais próximo ao centro da cidade, Taehyung soltou um suspiro profundo, carregado de sentimentos que agora conseguia identificar. Após meses no exército, finalmente estava de volta à vida civil, e aquele espaço vazio, com as paredes brancas e os móveis mínimos, representava uma nova fase de sua vida, uma fase na qual ele queria permanecer por muito tempo.

Ele caminhou até a janela, deixando a mala e as compras pelo caminho, e observou a cidade brilhante abaixo. Sentia uma mistura de alívio e incerteza. Estava finalmente em casa, e isso trazia um grande alívio ao seu peito apertado, mas a incerteza sobre o que restava de sua antiga vida ainda o atormentava. Especialmente seus homens, aqueles que ele amou por uma única noite antes de partir. Não sabia se eles ainda estariam por perto, se ainda o queriam como um dia o quiseram, ou como iria encará-los se os reencontrassem. Nem mesmo sabia se eles o aceitariam novamente. Mas, foi justamente por ter amado aqueles homens por apenas uma noite que Taehyung sabia que os amava. E se fosse necessário se arrastar no chão, pedindo perdão, ele o faria, pois não queria, e nem poderia, perdê-los. Mesmo sabendo que era egoísmo da sua parte esperar que eles ainda estivessem à espera do seu retorno.

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