Helena
Não disfarcei minha cara de raiva ao ver minha mãe do outro lado da porta, com seu típico nariz empinado e ar de arrogância. Cruzei os braços e senti um cheiro familiar; Heloísa estava atrás de mim.
── O que foi? — Helô questionou, encarando a mais velha.
Mamãe entrou na sala como se fosse a rainha do mundo, com seus cabelos perfeitamente arrumados, uma blusa cara e a maquiagem impecável, que realçava seus traços. Sempre notei como ela se admirava nos espelhos, e hoje não era diferente. Na luz fraca que a lâmpada iluminava, seus olhos brilhavam de maneira quase hipnótica, mas havia algo que sempre me incomodava: o jeito que ela se colocava acima de nós, como se a nossa existência girasse em torno da sua.
── Vocês duas... — começou ela, com um tom de voz dramático, olhando para nós como se fôssemos duas crianças desobedientes. — O que aconteceu com o nosso vínculo? Por que vocês não têm tempo para mim? Acha que é fácil para mim? — O dedo dela se movia de maneira ameaçadora. — Olha o que eu faço por vocês!
A indignação subiu em meu peito. Como ela podia falar assim? A vida dela era uma cena, um espetáculo onde ela sempre tinha que ser o centro das atenções. Fiquei em silêncio, sentindo o olhar de Heloísa nas minhas costas. Minhas mãos tremiam. Cada palavra dela era como uma facada, não apenas porque ela estava se fazendo de vítima, mas porque estava tentando nos fazer sentir culpadas por algo que não era nossa responsabilidade.
── Você sabe que temos nossas vidas, mãe — Heloísa disse, buscando apoio. Eu admirei a coragem dela. Era difícil ser a mais velha e ter que se defender dessa forma, visto que geralmente eu era a desbocada que brigava com a nossa mãe mesmo sendo a mais nova.
── Oh, por favor! — Ela riu, mas era uma risada amarga, cheia de desprezo. — Não posso acreditar que vocês estão se deixando levar por esses garotos, um mero jogadorzinho e um... Surfista?! Desde que começaram a sair com eles, parece que esqueceram que eu existo! Não são mais as filhas que me admiravam, que viviam querendo saber sobre mim. Agora, estão apenas focadas nos namorados!
Como ela sabe do Gabriel e do Rodrigo?
A afirmação dela pesou no ar. A maneira como a mãe falava de ambos, como se fossem meros obstáculos em nosso caminho, me irritou profundamente. A raiva crescia dentro de mim, e a visão dela se transformava em um borrão enquanto tentava me controlar.
── Você não pode simplesmente culpar os nossos namorados por isso! — intervi, tentando manter a voz firme, mas a mágoa transparecendo. — Nós estamos crescendo, mãe. Nossas vidas estão mudando!
── Crescendo? — ela repetiu, erguendo uma sobrancelha com um olhar sarcástico. — Ah, e eu deveria ser grata por isso? Se fosse por mim, teria me tornado uma influenciadora, alguém a quem todos admirariam, mas não... eu tenho duas filhas que preferem passar o tempo com os namorados a olhar para a mãe que lhes deu tudo! Vocês não veem o quanto isso é triste para mim?
A cada palavra, o desprezo se intensificava. Olhei para Heloísa, que parecia estar processando o que a mãe acabara de dizer. O ar estava pesado, e a sensação de impotência me envolvia. Era como se estivéssemos presas em um ciclo vicioso de expectativas não atendidas e amor condicional.
── Mãe, nós te amamos! — Heloísa falou, a voz tremendo levemente. — Só estamos tentando viver nossas vidas, e isso não significa que estamos te abandonando!
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lentes no horizonte, gabriel medina.
Fanfic── Aquela lá é a Leninha, filha dos ventos, pior que furacão. Onde passa faz estrago! 01.08.2024