No coração de um reino distante, onde as montanhas pareciam tocar o céu e os rios sussurravam segredos antigos, havia uma ponte misteriosa que ligava as duas margens de um profundo desfiladeiro. Diziam que a ponte fora construída em tempos imemoriais, por mãos hábeis, mas amaldiçoadas. Uma lenda se erguia em torno dela: quem ousasse atravessá-la nunca mais conseguiria voltar.
O povo evitava o lugar, movido pelo medo e pela superstição. Até que, um dia, o velho mais sábio do reino, conhecido por todos por sua mente afiada e seu coração justo, faleceu. Antes de partir, deixou um enigma. Ele escreveu um bilhete para a população:
“Do outro lado da ponte, jaz um tesouro. Aquele que o encontrar terá sua vida transformada. No entanto, há uma condição para voltar, e essa condição só será revelada a quem atravessar. Boa sorte.”
O anúncio causou alvoroço no reino. A ganância, a curiosidade e o desejo de glória despertaram em muitos. Grupos se reuniram nas tavernas, conspirando sobre como poderiam desafiar o destino e retornar com o tesouro. Mas, dia após dia, aqueles que tentavam atravessar nunca voltavam.
Os habitantes começaram a temer ainda mais a ponte e o legado do velho sábio. Questionavam se o tesouro existia de fato, ou se aquilo era uma cruel brincadeira de um homem que partira. A desconfiança crescia. Até que um jovem aprendiz, que havia sido discípulo do sábio, decidiu que faria a travessia.
— O que mais tenho a perder? — murmurou para si mesmo.
Com o coração na garganta e a mente inundada de dúvidas, ele pisou na ponte. A cada passo, sentia-se mais leve, quase como se fosse parte da própria ponte. Atravessou, e do outro lado, como prometido, encontrou um baú. Ao abri-lo, porém, não encontrou ouro, nem joias, mas um espelho.
O jovem ficou atônito. O tesouro era o reflexo de si mesmo?
Confuso, ele se lembrou da condição para voltar, que o bilhete prometia. Mas o espelho não oferecia respostas, apenas mostrava o seu rosto refletido, questionador, e um pensamento passou por sua mente:
“Talvez a resposta sempre esteve comigo.”
Caminhando de volta para a ponte, ele percebeu algo que os outros não haviam compreendido. Aqueles que atravessaram antes dele nunca voltaram porque buscavam algo externo: riqueza, poder, fama. O tesouro do velho sábio era uma lição simples, porém profunda: o verdadeiro valor está no autoconhecimento.
Ao pisar novamente na ponte, sem medo de perder nada, sentiu-se em paz. E foi então que, ao contrário dos outros, ele conseguiu atravessar de volta.
Quando retornou ao reino, sem ouro e sem joias, o povo o cercou, ansioso por respostas.
— Como conseguiu voltar? Onde está o tesouro? — perguntaram.
O jovem sorriu e ergueu o espelho.
— O tesouro é este — disse ele. — E a condição para voltar é entender que o que realmente importa não está do outro lado da ponte, mas aqui, dentro de nós.
A multidão ficou em silêncio, absorvendo as palavras. O velho sábio, afinal, havia deixado não apenas uma pegadinha, mas uma profunda lição: o maior tesouro que podemos encontrar está na jornada de nos compreendermos, e não no que podemos conquistar. E a ponte, outrora temida, tornou-se um símbolo de reflexão, onde as pessoas iam não para buscar riqueza, mas para encontrar a si mesmas.

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O Reino De Elandor
General FictionO Reino de Elandor é uma coletânea de crônicas que transporta o leitor a um reino antigo repleto de mistérios e encantos. Cada história revela um fragmento da rica tapeçaria da vida em Elandor, onde os desafios enfrentados pelos habitantes são entre...