Não tem segredo.

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— Sabe o que fiquei sabendo? — Ela afasta o rosto do meu colo. — Que a minha mulher virou hétero.
Non capisco. — Há inocência nos belos olhos, agora, na luz do fim da tarde, mais verdes do que mel.
— Um passarinho me mostrou aquela entrevista. Não faz seu tipo, amore.

Nós rimos. Eu mais do que ela, que esconde o rosto em minha pele.

— Pare de tirar sarro de mim. — Tem então os braços envoltos em meu pescoço. — Você já disse que ia esperar.

Deixo existir entre nós um breve silêncio.

— Por mais quanto tempo? Sei lá, não posso me gabar por namorar você. Tá me deixando angustiada.

Sou capaz de medir que minha fala, mesmo com a leveza contida na entonação, incomoda. Uma tentação é simplesmente dizer que está tudo bem, jogar tudo tapete abaixo e beijar a linda mulher à minha frente. No entanto, há questões a serem debatidas hora ou outra, e prefiro fazê-lo nesse instante, aproveitando de seu bom humor.

— Já falamos disso, sabe que...
— Eu sei o que conversamos. É que você me beijou em cima de um palco pra todo mundo ver, não tô louca por pensar que era um passo à frente. Quer dizer, isso foi só o que a plateia viu — digo tentando manter a situação amena. Ela não parece achar graça da insinuação.

Como é tão simples instaurar nela um ataque repentino de fúria.

— Deixei bem claro que é difícil pra mim e não me sinto pronta — creio que perceba o próprio tom de voz elevar-se — Non voglio descutire con te, Ana.

— Não tô discutindo, só... precisava? Não podia ter ficado sem responder?

Ela se afasta de mim no sofá.

— Continuariam especulando.
— Que você me ama? Chiara, você não pode me tratar como seu segredo sujo só porque disse que ia ficar em particular. Uma coisa é não abordar a vida pessoal, mas chego a me perguntar se pensa mesmo em assumir o que a gente tem um dia.

— No meu momento! Chega, não vou ouvir você duvidar de mim. Falamos sobre isso mille volte, você sempre concorda e começa tudo de novo. — Sua expressão é fechada em raiva crescente.
— Porque tô cansada de esperar e você não aceita a realidade. Não age como se tivesse a mínima intenção de mudar isso.
— Ana, eu agi de acordo com o combinado. — A esse ponto, ela grita, gesticula, alonga deliciosamente os 'R's das palavras.

Tudo em que posso pensar é que ela realmente procede da Itália e como isso é engraçado, porque mesmo dentre a briga que nasce e do que me magoa, não sou capaz de verdadeiramente me aborrecer. E não me perdoaria por não dormir com ela esta noite, tão fisicamente próxima. Sei além disso que uma vez irritada, quase nada no mundo é capaz de fazê-la ceder. Quase nada.

— Diz pra mim o que disse lá, tesoro.
Ma che? — fala me olhando com uma feição de desprezo que, contraditoriamente, muito me agrada.
Ami gli uomini, vero? — Aproximo-me dela como quem caminha em direção a um oásis. — Não gosta quando faço assim?

Os beijos em sua mandíbula são meu esperado banho de chuva ao deserto, mas a dona de todas as situações levanta do sofá assim que tiro uma alça de seu ombro na pretensão de descê-los pela clavícula. Imediatamente seguro-a pelo pulso. Indignada, ela para em minha frente. Sequer arruma a roupa, apenas me encara de braços cruzados e olhar de superioridade.

Por vezes, nosso carinho perdura por horas, por outras, uma metamorfose o faz desejo. Nas minhas favoritas, ela não demanda carinho algum, como agora. E eu estou sempre disposta a entrar em seu jogo, seja qual for.

"Por que não desarrumá-la um pouco mais?". Sorrio com o pensamento — ergo a saia do vestido justo.

— Nada disso, Ana Carolina. — Ela segura meu queixo antes que eu possa alcançá-la com a boca.

Mesmo que me sinta uma presa, levanto para conduzi-la de volta ao sofá, apoiando um braço no escosto. Convenientemente, meu joelho a pressiona entre as pernas enquanto beijo seu pescoço.

— Eu já disse que não quero. — Sua mão empurra meu peito, mas ela pressiona o quadril contra mim.
— Não tô te prendendo. — Surpreendendo-a ao sugar forte e repetinamente a região, ela não pode conter um som grave e rebelde. — Me tira de você.

Recebo um revirar de olhos, mas as respostas prévias do seu corpo são lições de exatamente como tocá-la. Tanto que a resistência a abandona quando subo pela delgada pele da sua coxa, apertando-a antes de sentir a umidade do tecido que cobria meu pecado e paraíso.

— Prefere resolver isso sozinha? — digo com o sorriso mais lascivo que sou capaz de produzir. Selo nossos lábios com leveza, demoradamente, antecedendo qualquer reação. — Eu gosto tanto de quando você fica brava, passione.

A outra mão trilha um caminho retilíneo que acaba sobre a garganta; mantenho-a ali ao beija-la com pressa, gana, até mesmo desespero.

Posso confessar ter outrora começado discussões acaloradas apenas o suficiente para que ela descontasse a sua raiva dessa forma. É provável que haja efeitos colaterais em perturbar nossa convivência de propósito, mas ela se torna ainda mais irresistivelmente atrativa.

Abro o zíper, corro as mangas pelos braços, deixo o colo desnudo em milissegundos. A visão me obriga a prover mais ar aos pulmões conscientemente. O aroma que sinto ao levar a boca à derme dos seios é inebriante, maravilhoso e irreplicável, cheiro de amor.

Os murmúrios nunca tímidos, pelo contrário, de um timbre plenamente confiante, tornam-se constantes. Tiro o que resta das roupas que cobrem as curvas tingidas em duas cores pelo sol da praia. Coloco-me por trás dela, uma das coxas sobre a sua, um de seus pés adornados pelos saltos apoiado no assento. Garanto que não possam fechar-se as pernas.

Desço um dedo em viagem até seu íntimo, torturando-a pela lentidão e finalmente arrancando um grito. No início, exploro-a devagar.

Ela maltrata com as unhas curtas toda porção da minha pele que pode encontrar, o que me incentiva a prosseguir aprofundando os toques. Das poucas palavras compreensíveis, "dai", o meu nome e "duo dita", ordem clara que obedeço sem pestanejar.

Após certo tempo ela demanda calma, que o momento não seja tão fugaz.
Age meu instinto de ouvi-la proferir a poesia vulgar: questiono se ela pensa poder haver apenas um ápice, faço o contrário somente até que os xingamentos doces me coloquem de volta aos eixos.

Trêmula, a coluna tortuosa, a cabeça estirada para trás, ela encontra meu cabelo e o puxa. Passa também a contribuir com a mão direta sobre si mesma, mas eu faço toda a questão. Tomo breves notas mentais de seus movimentos e interrompo o constante estímulo apenas ao me ajoelhar em sua frente.

Enlouquecidamente ela me afoga no mar que se forma.

Segundos quietos, surge um sorriso de satisfação em seu rosto. Subo em seu colo, levo os dedos úmidos à boca, ela assiste atenta e me beija pelo tempo que o fôlego quase nulo permite.

Ti amo.
Questo è show, Carolina.

Ela jamais se rende.

Nuda sul Sofa' | ChianaOnde histórias criam vida. Descubra agora