24-1. Lily

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Tem alguma coisa batendo dentro da minha cabeça.

E fora da minha cabeça.

Afasto o rosto do travesseiro e sinto a baba no meu queixo. Enxugo-a com a ponta da fronha. Sento e vejo que Atlas deixou uma carta ao meu lado. Estendo o braço para pegá-la, mas ouço a batida de novo, então coloco a carta debaixo do travesseiro para mais tarde e me obrigo a criar algum espaço no meu cérebro enevoado para poder entender o que está acontecendo neste momento.

Emmy está na casa da minha mãe.

Acabo de ter a melhor noite de sono dos últimos dois anos.

Tem alguém batendo na porta.

Pego o celular na mesa de cabeceira e tento me concentrar na tela. Tem várias ligações perdidas de Ryle, então fico preocupada de ter alguma coisa errada. Mas a única notícia que minha mãe mandou foi uma foto de Emmy tomando o café da manhã meia hora atrás.

Ufa. Emmy está bem. Relaxo na mesma hora, mas, como sei que provavelmente é Ryle batendo à porta, não consigo relaxar tanto assim.

- Já vou! - grito.

Visto algo rapidamente uma camiseta e uma calça jeans - e abro a porta para deixá-lo entrar. Ele passa direto por mim, entrando no apartamento sem ser convidado.

- Está tudo bem? - pergunta ele, parecendo estar em pânico, mas também aliviado por ver que estou viva.

- Eu estava dormindo. Está tudo bem. - Dá para perceber que ele está irritado. Ryle dá uma olhada pela sala, procurando Emmy. - Ela passou a noite na casa da minha mãe.

- Ah. Ele está decepcionado. - Tentei ligar porque queria vir buscá-la e passar algumas horas com ela. Você não atendeu e sempre está acordada a essa hora... - diz Ryle, com a voz ficando mais baixa depois que vê o sofá.

Nem preciso olhar o sofá para saber o que ele está vendo. Com certeza minha camiseta e minha calcinha ainda estão jogadas no encosto do móvel.

Vou ligar para a minha mãe e avisar que você vai passar lá. Vou pegar o celular no quarto, esperando que Ryle não esteja prestes a fazer nenhuma pergunta. Ele está estragando o bom humor em que Atlas me deixou ontem à noite.

Quando volto à sala, paro enquanto procuro o contato da minha mãe no celular. Ryle está segurando uma taça de vinho, inspecionando-a. É a que Atlas usou. A minha está ao lado dela, na bancada um sinal evidente de que havia alguém aqui comigo ontem à noite, bebendo vinho.

Antes que minha calcinha fosse tirada e largada no sofá. Vejo o ciúme de Ryle transbordar quando ele põe a taça na bancada e me olha.

- Alguém passou a noite aqui?

Não me dou ao trabalho de negar. Sou adulta. Adulta e solteira. Bem, talvez eu não esteja mais solteira, mas isso já é outra questão.

- Estamos divorciados, Ryle. Você não pode me fazer esse tipo de pergunta.

Talvez tenha sido a coisa errada a se dizer, pois Ryle reage imediatamente e dá dois passos rápidos na minha direção.

- Não posso te perguntar se alguém passou a noite no apartamento onde minha filha mora?

Recuo um passo.

- Não foi isso que eu quis dizer. E eu não levaria ninguém para perto dela sem sua aprovação, motivo pelo qual ela está com minha mãe.

Os olhos de Ryle estão semicerrados, acusadores. Ele parece enojado de mim.

- Você não permite que ela durma na minha casa, mas a deixa em outro canto quando quer dar pra alguém? - Ele ri. Que mãe excelente você é, Lily.

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