Neil é lindo

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Havia algo ali, sabe?

Algo na maneira como Neil envolveu seus braços em torno de Andrew e o puxou para perto, como se tivesse começado a chover dentro do vestiário e Neil não quisesse que ele se molhasse.

Mãos serpenteando em torno de seu corpo deveriam ter causado um arrepio de repulsa. O toque fazia isso com ele. Ele deveria ter desejado pegar o objeto cortante mais próximo antes que a ânsia tomasse sua garganta, ou pelo menos empurrar Neil para longe, ou até desejar que ele parasse, mas—

Mas Neil era... diferente.

Ele era impossível. Um sonho impossível: toques suaves, olhos penetrantes e mãos que pareciam o calor de uma cama após um longo dia.

Seguro. Neil era seguro, e Andrew também. Ele estava realmente seguro.

Com o rosto pressionado contra o colarinho de Neil, o ranger do velho vestiário foi abafado pelo som do coração de Neil. Ele cheirava a suor, fumaça de cigarro e mel. Tudo, tudo o que mantinha os pensamentos de Andrew ancorados na realidade e o fazia se sentir no chão. Isso emanava de Neil como uma granada de fumaça, escondendo-os de todas as coisas terríveis que os esperavam fora do abraço um do outro.

Ele mal percebeu Neil afrouxar o aperto até ser confrontado por um sorriso radiante, cheio de dentes entre lábios marcados. Cílios ruivos pesavam sobre olhos azuis cansados, observando seu rosto com algo que fez o estômago de Andrew revirar.

Ele teria feito algum comentário sarcástico se não fosse pela queimação desconhecida que crescia atrás de seu nariz e olhos, e o nó em sua garganta como se ele tivesse tentado engolir uma pílula a seco. Por um momento, ele realmente considerou se Neil estava realmente soltando fumaça, mas, no entanto, o mundo parecia mais brilhante e mais claro agora do que nunca. Neil era lindo: dentes, cicatrizes e cabelo acobreado. E tudo doía de uma maneira que Andrew não conseguia descrever. Doía de um jeito que o deixava indefeso; de um jeito que o fazia querer rasgar sua própria garganta para remover o bloqueio que tornava sua respiração fina e leve. Ele queria sufocar, gritar, mas, principalmente, segurar Neil para que a sensação de segurança permanecesse. Para que Neil permanecesse.

Ele não entendia o que estava acontecendo com ele. Ele só queria que aquele nó na garganta fosse embora, que a queimação em seu rosto morresse, e que Neil parasse de simplesmente ficar ali.

Acima de tudo, ele queria que Neil parasse de fazer aqueles barulhos estranhos e suaves enquanto hesitava ao levantar a mão para o rosto de Andrew. A respiração de Andrew continuava ofegante enquanto Neil passava o polegar por sua bochecha, fazendo a pele ali parecer quente e fria ao mesmo tempo. Correr naqueles últimos segundos o deixou tão exausto assim?

"Quer se sentar?" A voz de Neil estava quase num sussurro, um tom gentil demais. Andrew estava apenas sem fôlego. Ele balançou a cabeça, apesar dos joelhos trêmulos. "Andrew."

O tom de Neil saiu mais firme desta vez. Mãos quentes e calejadas continuavam a acariciar seu rosto, enquanto polegares alisavam a pele sob seus olhos. A sensação o fazia querer adormecer com a cabeça nas mãos de Neil.

"Você está chorando."

As palavras eram mais uma explicação do que uma observação, e Neil sabia disso. Para Andrew, explicava por que sua visão estava turva, sua respiração difícil e seu rosto desconfortavelmente molhado. A sensação era completamente estranha. Ele não chorava desde...

Havia uma boa razão para seu cérebro bloquear a lembrança de como era chorar.

"Você não está bem." Neil afirmou, simples, mas gentil, enquanto uma mão se movia para afastar a franja úmida de lágrimas do rosto de Andrew.

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