Cap 1: A magia da infância

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Era uma manhã tranquila e ensolarada em Atlanta, na Geórgia. A cidade, pequena e pacata, acordava devagar. O canto dos pássaros preenchia o ar, e as crianças que moravam ali corriam pelas ruas e brincavam nos parques. Para Javon Walton, com apenas seis anos, aquele parecia ser apenas mais um dia comum de treino. O menino já demonstrava uma seriedade incomum para sua idade. Seus pequenos punhos se fechavam com firmeza enquanto ele praticava socos, focado no saco de pancadas que seu pai havia amarrado em uma árvore no quintal.

— Isso, Javon, mais rápido! — incentivava seu pai, vendo o filho se empenhar. — Precisa ser mais forte também! Cada soco conta!

Javon não respondia, mas seus olhos brilhavam com determinação. Ele queria ser forte, queria ser o melhor. Sua rotina já era marcada por disciplina e dedicação ao boxe, algo que seu pai fazia questão de incentivar. Embora ainda fosse muito jovem, já tinha sonhos de grandeza, de um dia ser reconhecido como um grande lutador.

Do outro lado da cidade, Amélia  Siqueira estava em seu próprio mundo. Ela, diferente de Javon, era cheia de energia e risos. Mélia adorava correr pelos parques, dançar sob o sol e, acima de tudo, inventar histórias. Seu cabelo escuro balançava ao vento enquanto ela imaginava ser uma princesa em um reino encantado. Seus pais, brasileiros, a haviam criado com muita liberdade para sonhar e explorar. Sua paixão pela atuação já era evidente, mesmo tão pequena. Qualquer coisa podia virar uma cena, uma história; Amélia estava sempre interpretando papéis diferentes, fosse em casa ou na escola.

Naquele dia, Amélia corria no parque, como de costume, seu vestido leve girando com ela. Suas sandálias já estavam abandonadas em algum canto, e seus pés descalços afundavam na grama fofa. Ela imaginava estar fugindo de um castelo, em uma grande aventura, quando algo chamou sua atenção. Não muito longe dali, um menino treinava sozinho, socando um saco com tamanha intensidade que Amélia não pôde deixar de notar.

Curiosa como sempre, ela se aproximou, os passos leves, os olhos brilhando de interesse. O menino parecia muito focado, tão concentrado que parecia estar em outro mundo, completamente alheio ao parque ao seu redor.

— Oi! — disse ela, interrompendo o silêncio. Sua voz clara e cheia de energia fez Javon parar imediatamente, surpreso.

Ele olhou para ela por um momento, confuso. Não estava acostumado a ser interrompido, especialmente por alguém que ele nunca tinha visto antes. Mélia sorriu, sem se intimidar pela expressão séria dele.

— Você é muito bom nisso! — continuou ela, admirada. — Como você consegue ser tão rápido?

Javon, ainda um pouco desconcertado pela interrupção, limpou o suor da testa e deu um passo para trás. Ele estava acostumado a ouvir os elogios do pai, mas ouvir isso de uma criança que claramente não sabia nada sobre boxe o deixou sem resposta por um momento.

— Eu treino bastante — ele respondeu, tentando parecer casual. — Todo dia.

Amélia abriu um sorriso ainda maior, impressionada. Ela não conseguia imaginar como alguém podia fazer a mesma coisa todo dia sem se cansar.

— Uau! Eu não consigo fazer a mesma coisa por mais de meia hora! — disse ela, rindo. — Mas eu também gosto de treinar… Só que eu treino ser atriz!

Javon franziu a testa, curioso. Ser atriz? O que isso significava exatamente? Para ele, o conceito de treinar significava lutar, se preparar fisicamente para alguma competição. Nunca tinha ouvido falar de "treinar" para ser algo como uma atriz.

— Como você treina para isso? — perguntou ele, genuinamente intrigado.

Amélia riu de novo, encantada com a pergunta.

— Eu finjo ser outras pessoas! Finjo ser uma princesa, uma médica, uma super-heroína. É como se eu estivesse em um filme o tempo todo! — Ela gesticulou, empolgada, e seus olhos brilhavam. — Quer tentar? Eu posso te ensinar!

Javon olhou para ela como se ela estivesse falando uma língua diferente. Ele era um menino prático, que gostava de ações concretas e desafios físicos. Fingir ser outra pessoa parecia uma ideia distante, algo que ele nunca tinha considerado antes.

— Eu não sei… Acho que não sou bom em fingir — ele disse, hesitante.

— Claro que é! Todo mundo pode ser! — insistiu Amélia, sem se deixar abalar pela relutância dele. — Aposto que você seria um ótimo príncipe! Ou… talvez um lutador famoso! — Ela riu, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Javon riu junto, mais para agradá-la do que por acreditar naquilo. Mas, de alguma forma, Amélia parecia ter uma energia contagiante. Era como se o mundo dela fosse infinitamente mais colorido, cheio de possibilidades que ele nunca havia considerado. Para Javon, tudo sempre fora sobre o boxe, sobre se esforçar, melhorar, lutar. Amélia parecia viver em um mundo de sonhos, e, estranhamente, aquilo o atraía.

Eles passaram aquela tarde juntos, correndo pelo parque. Amélia, como sempre, inventava histórias, e Javon a seguia, meio hesitante, mas rindo quando ela o fazia participar de suas brincadeiras. Ele nunca havia tido uma amiga como ela antes. Alguém tão diferente, mas ao mesmo tempo tão fácil de gostar.

Quando o sol começou a se pôr, tingindo o céu de tons laranja e rosa, Amélia se sentou na grama ao lado de Javon. Eles estavam exaustos, mas felizes. Amélia, ainda ofegante, olhou para ele com um sorriso.

— Você acha que a gente vai ser amigos para sempre? — perguntou ela, de repente.

Javon a olhou, surpreso pela pergunta.

— Claro que sim — respondeu ele, sem hesitar. Afinal, por que não seriam?

Amélia sorriu, satisfeita com a resposta. Ela estendeu o dedo mindinho para ele, como se selasse um pacto importante.

— Promete?

Javon riu, mas entrelaçou seu dedo mindinho no dela.

— Prometo.

Eles riram juntos, sem saber que aquela promessa, embora verdadeira no momento, seria muito mais difícil de manter do que poderiam imaginar.

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