Cap 2: Primeiras mudanças

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As semanas que se seguiram àquele encontro no parque foram cheias de aventuras e risadas para Amélia e Javon. Eles se viam quase todos os dias, sempre no mesmo parque. Javon continuava seu treinamento, mas agora havia mais espaço para as brincadeiras de Amélia em sua rotina. Ela o desafiava a usar a imaginação de maneiras que ele nunca havia considerado. Com o tempo, Javon começou a se sentir mais à vontade para soltar a criatividade, e, aos poucos, as brincadeiras de faz de conta de Amélia se tornaram parte do cotidiano dele também.

— Você é o príncipe agora, tá bom? E eu sou a princesa que precisa ser resgatada — dizia ela, com uma seriedade teatral que sempre fazia Javon rir. — Vamos, você tem que lutar contra o dragão! — Ela apontava para uma árvore grande no meio do parque, que, segundo a imaginação dela, era um dragão terrível.

Javon, com uma expressão meio cética, tentava entrar na brincadeira.

— Não sei se sou bom em lutar contra dragões. Eu só sei boxear — disse ele, fingindo preocupação.

Amélia rolava os olhos, sempre impaciente com a falta de imaginação dele.

— É só fingir! Você pode fazer qualquer coisa se acreditar que é real! — exclamava ela.

Com o tempo, Javon aprendeu a soltar-se mais, e as tardes no parque se tornaram o ponto alto do seu dia. Ele ainda treinava duro com o pai, mas agora havia espaço para diversão, e Amélia estava sempre lá para garantir que ele se lembrasse de rir.

Entretanto, um dia em particular, Amélia chegou ao parque diferente. Ela estava séria, algo muito incomum para ela. Seus olhos estavam um pouco inchados, como se tivesse chorado. Javon, que estava ajustando seu saco de pancadas, notou imediatamente que algo estava errado.

— O que foi? — perguntou ele, se aproximando.

Amélia olhou para ele, segurando as lágrimas que ameaçavam cair.

— Meu pai… — começou ela, a voz embargada. — Meu pai disse que a gente vai se mudar. Vamos voltar para o Brasil.

Javon parou. Aquilo não fazia sentido. Mudar-se? Para o Brasil? Ele sabia que os pais de Amélia eram de lá, mas nunca tinha pensado na possibilidade de ela deixar Atlanta, de ela deixar ele. O coração dele disparou, e ele não soube o que dizer de imediato.

— Quando? — perguntou, com a voz baixa, tentando entender.

— Em algumas semanas — respondeu Amélia, as lágrimas finalmente caindo. — Eu não quero ir, mas… não tem escolha. Meu pai disse que é para o trabalho dele, e a gente tem que ir.
Javon sentiu o mundo desabar ao seu redor. Ele ainda era muito jovem para entender completamente o que significava uma mudança como essa, mas sabia que Amélia, sua amiga e companheira de aventuras, estava prestes a desaparecer de sua vida. Um nó se formou em sua garganta, mas ele tentou manter a calma, como seu pai sempre lhe ensinava durante os treinos. “Controle as emoções”, ele dizia. Mas, naquele momento, as emoções pareciam impossíveis de controlar.

Amélia continuava de pé, sem saber como dizer adeus a alguém que se tornara tão importante para ela. Seus olhos castanhos estavam cheios de tristeza, e ela tentava enxugar as lágrimas com a manga do vestido. Por mais que fosse uma menina cheia de imaginação e otimismo, a realidade daquela mudança era pesada demais até para ela.

— A gente pode continuar falando, né? — disse Javon, de repente, tentando agarrar-se a uma esperança. — Podemos escrever cartas, ou… ou mandar e-mails! Assim, não vai ser tão ruim.

Amélia forçou um sorriso, apreciando o esforço do amigo para amenizar a situação. Ela queria acreditar que seria tão simples, mas algo dentro dela dizia que seria muito mais difícil do que isso.

— Sim, vamos fazer isso — ela respondeu, tentando parecer confiante. — A gente vai continuar amigos, Javon. Não importa a distância, eu prometo.

Javon assentiu, ainda sem saber como processar aquilo. Ele não conseguia imaginar sua vida sem as brincadeiras de Amélia, sem o jeito como ela sempre o fazia rir, mesmo quando ele estava sério. Mas o tempo não parava, e ele sabia que a despedida estava próxima.

Os dias seguintes passaram como um borrão. Amélia e sua família começaram a fazer as malas, preparar documentos, e a empolgação que ela geralmente sentia para novas aventuras foi substituída por uma ansiedade crescente. Enquanto isso, Javon tentava se concentrar no treinamento, mas sua mente estava constantemente no parque, nos momentos que passava com Amélia, e na iminente separação.

O parque que antes parecia tão cheio de vida agora parecia mais silencioso. Eles ainda brincavam juntos, mas ambos sabiam que cada risada, cada brincadeira, tinha um fim marcado. Eles faziam de tudo para não falar sobre a partida, tentando prolongar o inevitável.

E então, chegou o dia que Javon tanto temia.

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