Um certo dia, não mais tão vago na memória corrompida de Selene Holloway, sua mãe, Tris, lhe dissera: "Quando tocamos o céu, sentimos nele toda a necessidade e a prudência e nos sujeitamos, lentamente, ao que pode ser considerado bom. Porém, quando é ao contrário, quando tocamos, sem querer, as sombras, parte de nós vai embora. O medo passa a nos sufocar e, sem querer, nos destrói." Tris Holloway estava, digamos, certa, mas quando nossos dedos percorrem um corpo amaldiçoado, quando nosso coração bate para o mal, nada mais importa. Na verdade, a densidade da sombra é o toque, e tudo que o envolve.
Depois que Cassian, seu noivo, saiu para o trabalho, Selene se dissolveu das roupas e encheu a banheira. Afundou-se nela, deixando que a água morna envolvesse seu corpo tenso, vagando pelos seus pensamentos fragmentados. Os olhos estavam avermelhados, uma mistura de noites mal dormidas e a dor inconfessável que carregava dentro de si. O corpo protestava, cada músculo parecia gritar, mas era sua mente que a torturava incessantemente. Havia um borrão em tudo, como se o que antes era tão sólido agora escorresse pelos seus dedos, escapando-lhe. Ela fechou os olhos, e o rosto de Lucian surgia nas sombras. O coração dela batia mais rápido. Cassian, o homem que ela jurava amar, estava cada vez mais distante na névoa da sua culpa, enquanto o toque proibido de Lucian, marcado por uma intensidade sombria, a puxava mais para o fundo. Cada memória da última vez em que esteve com ele queimava em sua mente. Ela sabia que, se continuasse nesse caminho, sua alma se perderia completamente.
Um grito silencioso ecoou em seu peito, mas nenhum som saiu. Selene afundou-se mais na água, deixando-a cobrir seus ouvidos, abafando o som do mundo exterior, como se assim pudesse silenciar a tempestade que rugia dentro dela. Mas as memórias vinham implacáveis, arrastando-a para a escuridão que sua mente tanto temia. O toque de Lucian, sempre frio, mas ao mesmo tempo arrebatador, voltava em flashes, como uma faca que perfurava a sua sanidade. O cheiro dele, a textura de sua pele, o sussurro rouco de suas palavras sedutoras — tudo estava gravado em sua carne, e por mais que tentasse, ela não conseguia apagar.
Havia algo em Lucian que despertava o pior nela. Ele personificava a própria decadência, o prazer nascido do sofrimento. Quando estava com ele, cada toque a fazia sentir-se viva e morta ao mesmo tempo. Era como se estivesse presa em uma corda bamba entre o êxtase e a destruição. No fundo, ela sabia que ele a estava moldando, destruindo sua essência, mas, ao mesmo tempo, isso a fazia se sentir mais intensamente do que jamais sentira com Cassian. O amor de Cassian era doce, constante, mas o que Lucian lhe oferecia era visceral, irracional, uma chama que queimava tudo que tocava.
"Você está se perdendo" ecoava a voz de Tris em sua mente. Sua mãe sempre avisara sobre os perigos das sombras, mas Selene não havia escutado. Agora, era tarde demais. Lucian havia feito com que ela experimentasse algo que nunca soubera existir, um mundo de sombras onde prazer e culpa andavam de mãos dadas, onde a moralidade não passava de um conceito frágil, facilmente quebrado.
Ela tocou os próprios lábios, lembrando-se de como eles haviam tremido sob o beijo de Lucian. Cada vez que estava com ele, ela sentia como se algo dentro dela estivesse sendo arrancado. Não era apenas um prazer físico; era uma forma de destruição que ela secretamente ansiava. Cada encontro a levava mais fundo para um abismo sem fim, onde cada passo era mais escuro que o anterior. A culpa, porém, era constante, como um peso invisível que a esmagava a cada momento em que pensava em Cassian. Ele era o símbolo de tudo que deveria ser bom em sua vida — estabilidade, carinho, segurança. Mas em comparação com Lucian, a segurança de Cassian era sufocante, sua bondade irritante, e sua ignorância, cruel. Ela amava Cassian, ou ao menos acreditava nisso, mas ao mesmo tempo odiava o que esse amor a fazia sentir. Odiava que ele não fosse suficiente para impedir sua queda.
— Eu não sou a mesma pessoa — ela sussurrou para si mesma, seus lábios mal se movendo sob a água. — Não posso voltar atrás.
Lucian a havia corrompido, não de forma evidente, mas aos poucos, como uma doença que se instala silenciosamente e toma conta. Agora, cada toque de Cassian era um lembrete da traição, uma cicatriz invisível que ela carregava. E, por mais que tentasse, sabia que não poderia manter essa farsa por muito mais tempo. Seu segredo estava começando a apodrecer dentro dela, e a qualquer momento poderia transbordar, arruinando tudo. Ela abriu os olhos e encarou o teto, tentando respirar fundo, mas o ar parecia pesado, carregado de culpa e desejo. A cada respiração, a sensação de estar afundando mais no abismo ficava mais forte. E Lucian... ele estava sempre lá, à espreita, pronto para puxá-la ainda mais fundo, com aquele sorriso diabólico que fazia seu corpo tremer. Selene sabia que estava à beira de perder tudo, mas não conseguia parar.
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Nosso Segredo Sombrio | CONCLUÍDO
Mystery / ThrillerLivro inadequado para menores de 18 anos. Selene Halloway era como a maçã do Éden: irresistível, bela, e perigosamente proibida. Com sua pele bronzeada, marcada pelo pecado, ela estava destinada a uma vida de poder ao lado de Cassian Thorn, um homem...