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GABRIEL MEDINA Bali, Indonésia

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GABRIEL MEDINA
Bali, Indonésia

Meu corpo estava totalmente queimado pelo sol e aquela sensação era horrível, por mais que fosse familiar. Estava sentado na areia olhando para o mar que estava na minha frente, enquanto pensava em algumas coisas.

— Tá tudo bem? — a voz de Lipe me tirou do meu transe. Olhei para o lado e vi ele se sentando ao meu lado na areia, com a expressão curiosa, como se soubesse exatamente o que estava acontecendo.

— Sim, só estou pensando em algumas coisas. — respondi, enquanto desenhava padrões aleatórios na areia com os dedos.

— Essas “coisas” se chamam Bianca. — Ele me olhou diretamente, um sorriso irônico no rosto. Eu soltei uma risada fraca, mas sem muito humor, balançando a cabeça.

— Você pode mentir pra qualquer um lá dentro, mas pra mim não, cara. — Ele continuou, sem perder o tom de brincadeira.

Eu suspirei, sabendo que não adiantava tentar esconder nada de Lipe. Ele sempre conseguia enxergar através de mim, e, para ser honesto, eu já estava cansado de fingir que não estava sendo consumido por tudo o que estava acontecendo.

— Tem razão. — admiti, afundando os ombros. — Mas a real é que eu nem sei mais o que pensar, mano. Tudo tá uma bagunça.

Lipe ficou em silêncio por um momento, esperando eu continuar. Olhei para o mar à minha frente, tentando organizar as ideias, mas era difícil. As ondas quebrando na areia pareciam muito mais calmas do que o turbilhão que estava rolando dentro de mim.

— A gente tava tentando manter tudo em segredo, sabe? — comecei, e ele assentiu. — A gravidez, o que rolou entre a gente... Bianca só queria paz, e eu também. Mas, depois que vazaram a notícia, as coisas desandaram de vez.

— É, eu vi isso. — Lipe comentou, com uma expressão séria agora. — Mas e aí? Isso fez vocês se afastarem?

— Pra caralho. — confirmei, com uma risada amarga. — Bianca mal fala comigo desde então. Não sei se é culpa, raiva ou o que, mas ela se fechou pra mim. E o pior é que eu entendo. Ela já não queria estar exposta assim, e aí alguém foi lá e jogou tudo nos jornais. É como se a gente tivesse perdido o controle da própria vida.

Eu passei a mão pelo cabelo, ainda sentindo a areia grudada na pele. Aquela sensação de desconforto parecia refletir exatamente o que eu estava sentindo por dentro.

— Eu tento falar com ela, sabe? Tentar resolver as coisas, mas... — eu pausei, frustrado. — Parece que ela só se afasta mais. E eu tô aqui, no meio dessa bagunça, sem saber o que fazer. Eu quero estar lá por ela e pelo bebê, mas como se ela nem me deixa me aproximar?

— E você acha que ela tá se afastando por causa do vazamento ou tem mais coisa aí? — Lipe perguntou, sempre direto, o que eu respeitava nele.

— Eu não sei, estávamos bem, tentando recomeçar algo, mas aquilo foi a gota da água. — suspirei. — Sabe, a gente não tá junto há anos. Quando ficamos próximos de novo, foi por causa da gravidez, mas agora... parece que nem isso tá segurando.

Lipe assentiu, parecendo processar tudo o que eu disse.

— Cara, eu não sei como você tá lidando com isso, mas deve ser uma barra. Só que eu acho que, se você realmente quer consertar as coisas com a Bianca, você tem que continuar tentando. Mesmo que ela te afaste, você tem que mostrar que tá lá, que vai estar lá, entende?

— É o que eu tento fazer, mas... — balancei a cabeça. — Tem horas que eu penso se ela realmente quer que eu esteja lá. Talvez fosse mais fácil pra ela sem mim.

— Mas você quer estar lá, não quer? — Lipe perguntou, me encarando como se a resposta fosse óbvia.

— Claro que quero. — Falei sem hesitar. — Eu me importo com ela. E tem o bebê também, cara. Eu não vou ser o tipo de pai ausente. Eu quero estar presente, quero fazer parte da vida do meu filho, ou filha... seja o que for.

Lipe sorriu de canto e me deu um tapa amigável no ombro.

— Então você já sabe o que fazer. Só não desiste, cara. No final das contas, Bianca pode até estar passando por um inferno agora, mas ela sabe que você tá do lado dela. Só não deixa que isso se perca.

Eu fiquei em silêncio, processando o que ele disse. Ele tinha razão. Mesmo com toda a confusão, eu não podia simplesmente me afastar. Mesmo que Bianca estivesse distante, eu tinha que continuar mostrando que estava ali, que estava disposto a fazer isso funcionar, de alguma forma.

— E outra coisa — Lipe continuou, se levantando e batendo a areia das calças. — Se Bianca realmente vier pra Bali, pode ser uma oportunidade de vocês dois finalmente conversarem de verdade, cara a cara, sem toda a pressão da mídia ou de outras pessoas em cima.

Eu olhei para ele, confuso.

— Como assim, "se ela vier pra Bali"? — perguntei, franzindo a testa.

Lipe olhou para mim, com uma expressão levemente surpresa.

— Você não sabe? — Ele riu, balançando a cabeça. — Nathalia me disse que ela e Bianca tão vindo pra cá. Vão ficar na pousada com a gente. Devem chegar amanhã de noite.

Meu estômago revirou na mesma hora. Bianca estava vindo pra Bali? Eu não fazia ideia. E agora? O que eu faria? Meus pensamentos ficaram em um turbilhão, e meu coração acelerou.

— Pera aí... — comecei, tentando juntar as peças. — Você tá me dizendo que Bianca... vai ficar aqui?

— Exatamente, cara. — Lipe confirmou, com um sorriso que eu não consegui interpretar. — Acho que vai ser interessante, né?

Interessante? Aquilo não era a palavra que eu usaria. Confuso, complicado, talvez. Eu nem sabia como reagir. Parte de mim estava animada por saber que ela estaria perto, que talvez a gente tivesse a chance de conversar e esclarecer as coisas. Mas, ao mesmo tempo, outra parte de mim estava apavorada. Porque, se ela realmente quisesse se afastar, então o que eu estava esperando?

Lipe percebeu meu silêncio e deu mais uma batida no meu ombro.

— Relaxa, irmão. Vai dar tudo certo. E quem sabe Bali não acaba sendo o lugar onde vocês dois conseguem resolver essa parada de vez?

Eu ri, mas era uma risada nervosa.

— Tomara, né?

Minha cabeça estava a mil. A ideia de Bianca estar vindo pra cá, pra Bali, não saía da minha mente. Parecia que cada passo que eu dava de volta pra pousada me afundava ainda mais nas dúvidas. Será que ela também estava nervosa? Ou talvez ela estivesse aliviada de finalmente me ver pra gente acabar logo com isso.

Cheguei à pousada, e o barulho dos caras rindo e falando alto só me fazia sentir mais fora de lugar. Eles não tinham ideia do que estava rolando na minha cabeça. Passei direto pela sala, peguei uma água e subi pro quarto. Precisava de um momento sozinho, longe de tudo aquilo.

Me joguei na cama, olhando pro teto. Meu celular estava ali, do meu lado, me provocando.Talvez eu devesse mandar uma mensagem para ela, só para sentir como as coisas estavam antes de vê-la cara a cara. Ou talvez fosse melhor esperar. Quem sabe o que uma mensagem agora poderia causar?

Eu estava prestes a ligar quando uma notificação apareceu na tela. Era uma mensagem de Nathalia: "Oi dina, estamos indo para Bali, acho que chegamos amanhã de noite ou madrugada. Se cuidem"

Meu estômago deu um nó. Merda, já era real agora. Bianca estava a caminho, e logo eu ia ter que encarar tudo isso. Sem nenhuma desculpa.

Respirei fundo, guardando o celular. Não dava mais pra voltar atrás. Bali sempre foi o meu refúgio, o lugar onde eu conseguia clarear as ideias. Mas, dessa vez, a sensação era completamente diferente. Eu sabia que, quando a gente se encontrasse, alguma coisa ia mudar. Pro bem ou pro mal, não tinha mais como escapar.

retorno das ondas: Gabriel Medina Onde histórias criam vida. Descubra agora