C. Covarde demais 💌

26 8 4
                                    

- Eu tenho uma proposta. - Enzo falou quando Ramiro se sentou do outro lado da bancada do laboratório no qual trabalhava.

- Não poderia ter sido feita sem que eu precisasse sair de casa?

- Não, porque você tem que começar a sair. - disse com firmeza. - Já é hora de seguir a vida.

- É tão fácil falar.

- Não é fácil, ou esqueceu quem é a minha noiva? Mas ela está tentando, Ramiro, por mais dura que a realidade seja, ela está tentando fazer o que ele desejaria que ela fizesse. Que você fizesse!

- Ele iria desejar muitas coisas, estar morto não era uma delas, mas olhe só...

- É isso... - Enzo suspirou apontando para o homem. - Esse não é você.

- Talvez eu não queira ser "eu", Enzo, porque é mais fácil de estar sem o Kelvin se eu for outra pessoa. - gritou, logo percebendo seu erro. - Eu sinto muito, não queria gritar.

- Você não, mas esse não é você. - seu amigo repetiu sem se exaltar. - Pelo menos dessa vez, me deixa te ajudar. Se achar que isso não tem valor, pegue suas coisas e vá embora, volte pra casa e faça o que tem feito, desista de tudo enquanto passa o tempo que resta sozinho, mas me escuta antes.

- Tudo bem... - concordou ainda incerto sobre o rumo que aquela conversa poderia tomar. - O que precisa que eu ouça?

- Como eu te disse, tenho uma proposta, e se você aceitar, pode ser uma chance única de dizer adeus.

Enzo explicou o que queria: dar sequência na pesquisa para a qual já o tinha convidado certa vez, convite que se perdeu com a notícia da morte de Kelvin e todas as mudanças que surgiram após tal acontecimento.

O que ele queria era a possibilidade de testar sua ideia sobre o efeito borboleta e a linha tênue entre nenhuma, pequenas ou grandes alterações.

Era buscar pela chance de uma mensagem enviada ao passado.

Ramiro disse sim naquele dia. Disse sim para a ideia de Enzo a qual, para a maior parte de seus colegas, parecia quase impossível, mas não o disse para um adeus, por mais que dia após dia tivesse insistido para si mesmo que sim.

E então ele enviou aquela única palavra, os dois traços ficaram azuis, uma foto e o maldito "digitando" surgiu, e ali, encarando ainda estático a tela de seu celular, aquele homem soube que estava tentando enganar sua própria pessoa ao concordar que iria apenas se despedir.

Ele foi corajoso o bastante para responder, sabendo quantos riscos teria que assumir.

Ou talvez tenha sido covarde demais ao fazê-lo, com medo de perder a pessoa da sua vida mais uma vez.

Tell Me SomethingOnde histórias criam vida. Descubra agora