Capítulo 2

415 19 0
                                    

Júlia Ribeiro

O dia já amanhecia lá fora, os primeiros raios de sol passavam pela minha janela iluminando o chão à minha frente. Sentada no chão da minha sala, tentava mais uma vez entender o que estava acontecendo comigo.

O dia estava bem, apenas as preocupações cotidianas de costume até que Rafael me ligou, desencadeando o que seria o início do meu tormento.

Suas palavras estão perfeitamente vivas na minha memória...

— Júlia, eu sinto muito fazer isso e fazer isso dessa maneira, mas estou encerrando o nosso relacionamento de Dom e Sub. Eu sinto muito, você é incrível...e-eu, é minha culpa. Estou num momento ruim. De verdade, eu sinto muito. — Ele disparou assim que atendi o telefone, não me dando tempo de sequer cumprimentá-lo.

Ficamos um tempo em silêncio, até que eu saí um pouco do meu choque inicial.

— Aconteceu alguma coisa? Eu fiz alguma coisa? Por quê, Rafael, não sei o que está acontecendo, mas eu acredito que merecia pelo menos uma conversa cara a cara. Não um telefonema às pressas — falei para ele. As lágrimas já desciam pelo meu rosto e eu agradeci aos céus por ele não poder me ver.

Escutei sua respiração pesada do outro lado da linha.

— Eu sei, você merecia sim... você merecia. Você não fez nada, você é incrível. Ju, me perdoe... — e então ele desligou na minha cara. As emoções tomaram conta e eu chorei, chorei muito.

Eu e Rafael tínhamos uma relação de mais de um ano como dominador e submissa. Existia confiança, respeito. Alimetávamos o fetiche um do outro. Não estávamos envolvidos romanticamente, essa era uma de nossas regras. Mas existia sim um sentimento, um cuidado. Eu nunca imaginei que ele seria capaz de terminar as coisas assim.

Será que eu fui uma submissa tão ruim assim esse tempo todo? O que aconteceu para ele terminar comigo dessa maneira? Não faz sentido, nós sempre conversamos. Sempre fomos sinceros um com o outro... por que isso agora? Por que ele parecia tão culpado?

Será que ele já queria fazer isso há algum tempo e não tinha coragem? Mas não faz sentido, ele sempre foi honesto comigo.

Olhei no relógio e vi que muito tempo havia se passado, o café já estava fechando e eu nem desci para ajudar o pessoal. Fui no banheiro me recompor e quando voltei tive a minha segunda surpresa do dia.

Sentado na minha poltrona como se fosse o dono do mundo, estava Dominic Bianchi.

Flashes da primeira vez que nos vimos, onde ele estava sentado da mesma maneira, vieram à minha mente.

O que ele estava fazendo aqui?

O questionei sobre isso apenas para descobrir que ele agora é o dono deste prédio. Assumindo que esse era o assunto, me sentei para conversar, extremamente incomodada pela sua atitude. Ajeitei minha postura e me preparei para encará-lo de frente. A minha postura submissa não se estende nos meus negócios. Se ele acha que irei baixar a cabeça e obedecê-lo com essa pose de macho alfa, ele está muito enganado. Ou era o que eu achava, porque nem em um milhão de possibilidades eu imaginaria que aconteceria o que aconteceu a seguir.

Muita coisa sobre nossa conversa fica rondando na minha mente. E eu me recordo o exato momento em que percebi que o homem sentado à minha frente era perigoso.

A maneira como ele me olhou e disse que me queria é algo que eu nunca vou esquecer. Meu corpo inteiro suou frio e minha barriga deu um nó.

Mas foi quando ele falou sobre meus avós, a riqueza de detalhes me deixando cada vez mais apavorada, que eu senti o medo tomar conta. A ameaça direta em suas palavras é algo que eu não consegui digerir até agora.

Cobiça - Disponível no TelegramOnde histórias criam vida. Descubra agora