Capítulo I

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Eu definitivamente não era uma pessoa boa, e talvez nunca viesse a realmente ser alguém que tivesse essa virtude.

  Sentada no bar, ainda com o uniforme de executora, eu tomava uma dose de uísque, tentando afastar todas as memórias do meu dia de merda. O barulho das pessoas ao meu redor conversando sobre os mais diversos assuntos era como um zumbido distante ecoando em minha mente enquanto eu refletia sobre tudo o que tinha feito para chegar ali. Todos os dias, eu lidava com adolescentes e adultos que buscavam um escape, uma forma de relaxar, e para isso, recorriam às mais diversas drogas, inclusive o Shimmer. Às vezes meu dia piorava quando tinha que ir me encontrar com Silco em Zaun.
  A cada gole que tomava sentia meu corpo relaxando um pouco mais até um ponto em que minha visão se tornava turva e aos poucos o cansaço estava tomando conta do meu ser. Mesmo assim continuei bebendo e comendo alguma coisa para me manter de pé.

~~~

  Acordei sentindo a luz suave do sol tocar meu rosto, os raios mal iluminavam o ambiente, como se tentassem não me incomodar, mas mesmo assim me arrancaram do sono. A cabeça latejava e, por um instante, tentei lembrar como tinha voltado para casa. Nada. Bêbada, claro. Fazia sentido não me lembrar de fechar as cortinas, afinal de contas. Mas eu logo sou tirada dos meus pensamentos quando senti algo pesado sobre meu corpo, olhando para baixo vejo um braço mecânico bem em cima da minha barriga, só existia uma única pessoa que eu conhecia que tinha esse braço…
 

Meu coração acelerou. Virei o rosto um pouco nervosa para olhar onde estava e percebi que, além de não estar sozinha, eu não estava em minha casa. As paredes eram diferentes, o ambiente estranho... mas, ao menos, eu ainda estava vestida. Isso significava que nada demais havia acontecido, certo? Certo?

  Respirei fundo e, com todo o cuidado do mundo, olhei para trás, esperando — ou talvez rezando — para descobrir quem estava comigo. Meus olhos percorreram o contorno da figura adormecida ao meu lado até que...

Sevika?!

  Meu corpo ficou rígido, o choque me atingiu como uma onda gelada. Como, em nome de tudo, eu tinha acabado na cama com Sevika?

"Baby, está muito cedo para acordar," a voz de Sevika soou rouca e preguiçosa, algo nela completamente fora do normal. Esperei meu cérebro processar o fato de que, além de ter usado um apelido ridiculamente carinhoso, ela estava sendo... Gentil? Isso não fazia o menor sentido. Um nó apertou em minha garganta enquanto eu tentava, desesperadamente, lembrar como tinha ido parar ali. Mas a noite anterior era um borrão completo, o que só me deixava mais nervosa.

  Sem pensar duas vezes, peguei o braço dela que repousava sobre minha cintura e o afastei, me levantando da cama num impulso. Ela se virou para mim, confusa, os olhos ainda semicerrados de sono. "Ei, volte para a cama, está tudo bem com você?"

  Meu corpo inteiro tremia de confusão e pânico. "Sevika, que porra é essa?! O que aconteceu ontem à noite?"

  Se eu estava confusa, o olhar que ela me lançou me mostrou que eu não estava sozinha nessa. Suas sobrancelhas se uniram e, por um segundo, ela parecia ainda mais perdida do que eu. "Como assim? Nós ficamos em casa... Amor, eu estou ficando preocupada com você."

Amor? A palavra soou alta na minha cabeça, quase como se tivesse sido gritada. "Ficamos em casa? No plural?" Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia. "Ontem eu estava no bar bebendo! Como assim fiquei em casa com você? E por que diabos eu ficaria em casa com você? Nós nos odiamos!"

O rosto dela endureceu, algo mudou em sua expressão. Era como se, de repente, ela soubesse de algo que eu não sabia. Sevika se sentou lentamente na cama, passando uma mão pelos cabelos soltos, um detalhe que me pegou de surpresa. Nunca a tinha visto assim, com o cabelo fora de seu coque habitual.

Ela suspirou. "Você realmente não se lembra de nada?"

"Do que eu deveria me lembrar? Eu estava no bar bebendo, e agora estou aqui, com você. Isso não faz sentido!" Minha cabeça latejava com a confusão. Então, algo chamou minha atenção. Sobre a mesa ao lado da cama, havia um retrato emoldurado. Peguei-o com mãos trêmulas, o ar me faltando quando meus olhos pousaram na imagem.

Era uma foto de casamento. Eu estava nela. Com ela.

Sevika estava me beijando na foto.

Meus olhos arregalaram. "Isso... o que...?"

Ela olhou para mim, a tristeza evidente na sua voz. "Isso foi há alguns anos. Nós não nos odiamos mais. Você... não se lembra?”

"Tudo isso está confuso! Eu saberia se estivéssemos casadas. Eu me lembraria disso!" Minha voz tremia. A ideia era absurda demais para ser real. Como alguém poderia esquecer algo tão monumental como um casamento? Esquecer um relacionamento inteiro?

Sevika me olhou, o rosto pesado de dor, e seu suspiro veio carregado de tristeza. "Há algumas semanas, você saiu com a Jinx para testar algumas das bombas dela. No meio de uma confusão... ela teve mais uma de suas crises. O armazém onde vocês estavam explodiu." Sua voz vacilou, os olhos buscando os meus. "Ela também se feriu, mas as bombas foram lançadas na sua direção. O impacto da explosão... você foi quem mais sofreu."

De repente, tudo parecia parar. Minhas mãos instintivamente se moveram até meu corpo, e foi só então que percebi os hematomas espalhados pela minha pele. O choque me atingiu de novo, mas de uma forma diferente agora, mais visceral. Eu estava realmente machucada.

"Você se recuperou bem no início," Sevika continuou, a voz baixa e pesada. "Mas os médicos avisaram que isso poderia acontecer. Que talvez você perdesse a memória. Eles chamam isso de Amnésia Retrógrada."

As palavras pareciam flutuar no ar, desconexas, como se estivessem sendo ditas a outra pessoa. Amnésia? Eu tinha perdido a memória? Nada disso fazia sentido. Minha cabeça girava, as informações se embaralhando na minha mente. Eu estava... casada com Sevika?

Ela me observava, seus olhos revelando uma tristeza que eu nunca tinha visto antes. Não era a Sevika que eu conhecia, a mulher fria e inabalável. Havia uma vulnerabilidade ali, algo que fazia meu peito apertar. Ela parecia genuinamente devastada.

"Eu... eu não sei o que fazer," sussurrei, minha voz quase inaudível. Era tudo informação demais para processar.

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Olá pessoas, me chamo Satsuki e estou escrevendo essa fic porque percebi que quase não existem fanfics longas com a nossa querida Sevika, peço que vocês votem na história e comentem caso tenham gostado.
Não planejo fazer essa fic muito longa e  imagino que ela tenha no máximo 32 capítulos .

Lost Memories - Imagine SevikaOnde histórias criam vida. Descubra agora