Capítulo 1

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Nicholas Chavez estava sentado na sala de briefing da delegacia, os braços firmemente cruzados sobre o peito e o maxilar tenso, revelando a impaciência que tentava conter. Com apenas 25 anos recém-completados, ele exibia uma imponência natural.

Seu chefe, Antonio Borges, estava em pé na frente de um quadro cheio de fotos, diagramas e anotações sobre a Família Koch. Nicholas mal conseguia disfarçar o tédio e a irritação que sentia cada vez que esse nome era mencionado. Já havia escutado o discurso de Borges mais vezes do que gostaria de lembrar.

— Vou provar que a família Koch está envolvida no tráfico de pessoas — rosnou Borges, os olhos brilhando com uma intensidade que beirava a loucura. — Eles são responsáveis por cada gota de sangue derramada nesta cidade!

Nicholas respirou fundo, tentando não revirar os olhos. Ele havia se tornado policial por obrigação, por pressão do pai, um veterano da força que esperava que o filho seguisse seus passos. Era bom no que fazia, mas não amava o trabalho.

— Vou continuar cavando até que possa provar que eles participaram da morte de Fontoura, mesmo que seja a última coisa que eu faça. — Borges lançou um olhar furioso para Nicholas, esperando algum tipo de resposta, um sinal de apoio. — Juro por minha mãe.

Nicholas não pôde evitar.

— Acredito — murmurou, sem esforço para disfarçar o sarcasmo na voz.

Borges estreitou os olhos, claramente irritado com o tom.

— O que foi, Nicholas? Não está levando a sério a missão?

Nicholas se inclinou na cadeira, cruzando os braços de forma mais relaxada.

— Eu só acho que temos outras prioridades. A cidade está cheia de criminosos mais óbvios e fáceis de prender do que os Kochs. Mas, claro, se quiser continuar caçando fantasmas, quem sou eu para dizer o contrário?

O chefe bufou, dando as costas e voltando a focar no quadro.

— Eu não espero que você entenda. Isso é pessoal.

"Pessoal demais," pensou Nicholas, mas não disse nada. Sabia que mexer com a fúria de Borges não valia a pena.

— Alexander Koch foi assassinado. — disse o chefe finalmente, se sentando à mesa.

Nicholas sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Aquilo era inesperado. Alexander Koch não era qualquer nome. Havia algo de muito errado ali.

— O quê? Como assim?

Borges cruzou os braços, claramente satisfeito em estar à frente de informações que nem mesmo Nicholas sabia.

— Os Koch não sabem que Alexander está morto. Pelo que eu soube, eles acham que Alexander está apenas desaparecido, há mais de dez anos. Estão certos de que foi algum inimigo da máfia que o capturou.

Nicholas esfregou o rosto com as mãos, tentando processar a informação.

— Por quanto tempo vai conseguir manter isso em segredo? — Nicholas perguntou, agora mais sério. — Porque, quando descobrirem, os Koch vão rasgar essa cidade ao meio procurando vingança.

Borges pegou uma pasta de documentos e entregou a Nicholas. O olhar dele era indecifrável, mas algo em seus movimentos calculados indicava que ele já tinha um plano em mente.

— Isso é para você.

Nicholas pegou a pasta com uma expressão desconfiada. Ele abriu a pasta, folheando rapidamente os documentos, fotos e informações detalhadas sobre a vida de Alexander.

— Por que você está me mostrando isso? — Nicholas perguntou, sentindo a tensão no ar.

Borges se inclinou contra a mesa, cruzando os braços e sorrindo com um ar calculista.

— Porque você vai ser Alexander Koch.

Nicholas travou. A ideia era tão absurda que, por um momento, ele achou que Borges estava brincando. Mas o chefe não brincava. Nunca.

— Você está louco? Isso é perigoso demais. Eu sou policial, não um criminoso, e se os Koch descobrirem que sou um impostor... Eles me matam.

Borges deu uma risada baixa, o sorriso sinistro se alargando ainda mais.

— É claro que é perigoso, Nicholas. Mas ninguém precisa saber. A família Koch finalmente terá Alexander de volta, e você será ele. É perfeito.

— Perfeito?! — Nicholas bateu com a mão na mesa, o rosto vermelho de raiva. — Eu me pareço com ele, mas isso não vai funcionar! Eles vão perceber! E, além disso, por que eu faria isso?

Borges se aproximou, inclinando-se para mais perto de Nicholas, como se revelasse o segredo de um plano magistral.

—É perfeito. Alexander Koch está desaparecido há dez anos. As pessoas mudam. E agora, com o pai dele morto e a mãe doente de Alzheimer... será fácil.

Nicholas piscou, incrédulo.

— O que você quer dizer com 'fácil'? Isso é uma loucura.

— É mais simples do que parece. — Borges pegou uma das fotos de Alexander e a colocou ao lado do rosto de Nicholas, comparando os dois como se estivesse mostrando uma obra de arte.

— Você se parece tanto com ele que a família não vai questionar. A mãe dele mal se lembra das coisas. O resto da família? Bom, vão estar tão aliviados de ter Alexander de volta, que não vão querer levantar dúvidas. Além disso, você vai trabalhar diretamente com eles. Dentro da organização.

Nicholas se afastou, empurrando a cadeira para trás.

— Isso vai acabar mal. Não importa como você queira vender isso, Borges. Essa missão vai me enterrar. Eu não posso entrar na máfia disfarçado como... como ele. Não vai funcionar.

Borges sorriu ainda mais, como se já tivesse calculado a objeção.

— Você não tem escolha, Nicholas. Esse é o único jeito de derrubar os Koch de uma vez só. Infiltração. Você vai trabalhar para eles, ganhar a confiança deles, e quando for a hora certa, você vai destruí-los de dentro para fora.

Nicholas ficou em silêncio por um momento, o coração batendo contra o peito. Ele sabia que Borges estava forçando a barra, usando sua posição para empurrá-lo para essa missão suicida.

Borges percebeu a hesitação e sorriu.

— Se você fizer isso, será um herói. Não apenas para a polícia, mas para todos que foram vítimas dessas famílias. Pense nisso, Nicholas. Você foi feito para isso.

Nicholas fechou a pasta, sentindo o peso da decisão que tinha que tomar. Sabia que era uma jogada arriscada, mas Borges tinha o poder de forçá-lo.

Amor Sob Falso NomeOnde histórias criam vida. Descubra agora