Rodolffo não tinha muita esperança de que ela estivesse no seu apartamento, mas seu celular não chamava, então resolveu arriscar.
No seu íntimo Rodolffo tinha muitas dúvidas e também sentia-se frustrado. Mesmo amando Juliette, seu caráter estava muito duvidoso na visão dele.
Dirigiu com cautela, mas também com pressa. Chegando na portaria o porteiro logo lhe comunicou:
- A sua namorada chegou a pouco senhor e trouxe muita bagagem. Ela veio para ficar?
- Isso não é da sua conta. - o porteiro ficou admirado com a resposta, por que Rodolffo era sempre grato e gentil.
- Desculpa senhor.
Rodolffo seguiu para o seu apartamento e quando abriu a porta já viu muitas coisas espalhadas pela casa, incluindo um chinelo de Juliette.
No final de semana que passou com ela reparou no quanto Juliette era bagunceira e vê todo aquilo que ele considerava um caos, fez ela chamar ela de forma brusca:
- Juliette! Cadê você?
Ela saiu da direção do quarto e claramente havia chorado. Os olhos vermelhos e o rosto inchado lhe entregavam.
- Oi... - ela disse rouca.
- Por que você fez aquilo?
- Não fui eu Rodolffo. Com certeza foi a Amanda.
- Mas por que você correu se entregando para todos que Juliana Castro é na verdade Juliette, a biomédica do laboratório da universidade.
- Rodolffo sou eu nessa foto... Que pergunta é essa?
- Você está loira nessa foto. Tem diferenças. Eu iria dizer que era outra mulher.
- Que loucura é essa? Mesmo loira, o rosto é o meu... Eu não tenho uma irmã gêmea.
Rodolffo tirou os óculos do rosto e pôs em cima da mesa. Algo na sua expressão facial assustou Juliette e ela se afastou dele.
- Por que está me olhando assim?
- Tire a máscara Juliette. Tire!
- Que máscara Rodolffo? Isso tudo é culpa da Amanda.
- Sempre há um culpado, menos você...
- Não estou te reconhecendo... Não fale assim comigo.
- Por que tinha uma cópia da nossa primeira conversa? Qual era o seu objetivo? Me chantagear no futuro?
- Não fui eu... A Amanda acessava o meu computador e com certeza foi ela.
- Você sempre foi exitante no nosso relacionamento Juliette...
- Eu? Tem certeza disso? Foi você quem se afastou quando te confessei a minha virgindade.
- Eu tenho dúvidas... Na verdade tenho muitas nesse momento. Vivemos tempos modernos e uma garota ser virgem depois dos 20 anos é muito raro e quando ela mora com uma puta aí fica difícil de acreditar.
- Como é? - Juliette começou a chorar. - Seu idiota foi você quem fez amor comigo e me acusar de mentir é tão cruel da sua parte.
Rodolffo deu as costas a ela.
- Eu esperei por um homem que no meu pensamento seria para sempre. Eu vi o sofrimento de muitas amigas minhas se entregando a babacas e na minha cabeça pensava: vai acontecer com um homem que eu admire, que cuide de mim e que principalmente haja amor verdadeiro. Mas agora vejo que assim como elas, eu fui enganada.
- Eu amo você... Mas estou revoltado com as suas atitudes.
- Revoltado com as minhas atitudes? Só por que eu dei uma confissão saindo do campus.
- Eu ia dizer que era mentira. Mas com a sua fulga ficou impossível. As pessoas estão rindo de mim. A minha reputação está no lixo. Logo eu que sempre fui discreto e estimado. Os meus alunos riem de mim e nem disfarçam.
- É isso que te preocupa... A sua reputação. Eu te conheci numa farsa do homem bem sucedido. Te faltava uma mulher troféu e eu fiz esse papel, mas agora com a verdade revelada não sirvo mais. Como vai me apresentar diante da comunidade acadêmica? O quê vão dizer?
- Vão dizer que eu vivo com uma garota de programa.
- Antes eu tivesse sido isso. Ao menos não estaria tão destruída como me sinto agora. Eu tinha vindo para ficar. Aceitar o seu pedido de morar juntos e construir a nossa vida, mas claramente isso não é mais possível.
- Se eu fosse um cliente comum, se não soubesse dos meus vínculos e influências, com certeza nós nunca teríamos evoluído. Você não me ama, mas talvez ame o quê pude te proporcionar.
- Deus está vendo a injustiça que está fazendo comigo e no início até posso ter pensado na sua influência para conseguir um trabalho, mas nunca fiquei contigo por dinheiro.
- Está vendo... Agora confesse...
- O quê quer que eu confesse?
- Que me iludiu...
- Não! Eu não te iludi. Já menti nessa vida, mas naquela cabana estava inteira e entregue só para você.
- Se você sair por aquela porta, nunca mais voltará.
- Eu vou sair e eu não vou morrer. Haja o quê houver, resistirei por que o meu amor próprio há de ser maior do que o meu amor por você.
Juliette passou por Rodolffo e começou a juntar suas bagagens. Quando ela abriu a porta, ele segurou no seu braço.
- Eu posso dizer que não era você e que fugiu por ciúmes...
- Diga... Isso para mim é irrelevante. Mas as duras palavras que me disse, essas sim me cortaram por dentro.
- Me perdoe? Eu estou desnorteado com tudo isso.
Juliette virou-se para Rodolffo e soltou-se.
- Ontem me pediu em casamento e hoje desconfia do meu caráter. Eu não te perdôo. Vou sair por essa porta e nunca mais nos veremos. Você é a lembrança triste que eu vou esquecer um dia...
Ela deu as costas e se foi. Rodolffo sentia dor, mas era consciente que tudo seria irreversível.
...
Juliette saiu do edifício bem perdida. Não tinha um norte e estava muito abalada. Sentou-se num banco de uma praça pública e rodeada por suas coisas, que apesar de serem poucas, ainda ocupavam algum espaço.
Ela viu um táxi passar e acenou para ele. O carro a levou para o terminal rodoviário. Era hora de voltar para casa e dizer a família toda a verdade: ela havia fracassado e não tinha sido pouco.
Ao cair da noite voltava para casa e adormeceu chorando no ônibus.
...
A família de Juliette morava no interior e tinham uma visão limitada das coisas. Ela chegou em casa já ultrapassava as 22 horas e o horário assustou os seus pais.
Ela só queria dormir e prometeu explicar tudo no início da manhã. Deitou na sua cama, mas seus pensamentos só lembravam das palavras de Rodolffo e da injustiça que ele cometeu.
- Se eu tivesse saído apenas com os senhores e os gays, não estaria sofrendo tanto. - pensou.
...