O ano era 1685. Paris, a Cidade Luz, cintilava sob o céu noturno. Mas naquela noite, quem brilhava era Catherine Voltaire, ou melhor, agora LeBlanc. Ela caminhava vagarosamente até o altar, vestida com um lindo vestido azul-claro, ricamente bordado, com gola alta que cobria seu pescoço, e mangas longas e bufantes. O corpete ajustado moldava sua cintura e realçava o busto, destacando sua feminilidade.
O cabelo da noiva estava cuidadosamente penteado; seus cachos dourados presos com fitas e flores. Um véu de renda cobria seu belo e entristecido rosto, delicadamente maquiado com um leve blush nas bochechas e um toque de cor nos lábios finos.
À espera no altar estava Auguste LeBlanc, com um olhar frio e distante. Ele era dezessete anos mais velho que a jovem de dezessete anos, mas isso pouco importava à família da noiva. O que realmente contava era a fortuna e o poder de Auguste. A união, celebrada com pompa e circunstância, era um pacto de conveniência, um acordo selado por ambição e interesse. No entanto, por trás da fachada de opulência e felicidade, escondia-se uma verdade venenosa, prenunciando um futuro sombrio.
Meses depois da cerimônia, Catherine descobriu que estava grávida. Um fio de esperança surgiu no coração da jovem, que acreditava que essa seria a chance de uma felicidade que lhe fora negada: um amor genuíno, um laço que a libertaria da solidão que a consumia. Os dias se arrastavam em lentidão; Catherine contava as horas, os minutos, os segundos, buscando o momento perfeito para revelar a gravidez.
A incerteza e o medo a atormentavam. Qual seria a reação de Auguste? A cada dia que passava, sua barriga crescia, e a sombra da dúvida se tornava mais densa, enquanto a pressão em seu peito aumentava drasticamente. Auguste, como sempre, era um fantasma, uma presença fria e distante. Ele jamais notou a mudança no comportamento e no corpo de Catherine. Tratava-a com uma cortesia educada, mas vazia, como se ela fosse uma sombra silenciosa em sua vida. Não fazia diferença para ele, nunca fez, pois sempre estava em longas viagens de negócios, deixando-a sozinha.
As noites eram as piores. Deitada em sua cama, Catherine sentia o abismo que os distanciava. Auguste dormia profundamente, sem se importar com a inquietação que a perturbava. Ela o observava de longe, buscando um sinal, um gesto, qualquer coisa que indicasse que ele se importava, que ele era capaz de amar. Mas ele permanecia impassível, um iceberg flutuando em um mar de indiferença.
Um dia, enquanto Auguste se preparava para mais uma de suas longas viagens de negócios, Catherine decidiu que havia chegado a hora: contaria tudo a ele naquele dia.
— Auguste, preciso falar com você. — A voz dela saiu quase como um sussurro, tremendo ligeiramente.
Auguste ergueu o olhar; seus olhos frios e penetrantes pousaram sobre ela.
— O que é, Catherine?
— É sobre... algo importante. — Ela hesitou, as palavras engasgando em sua garganta.
— Não me faça perder tempo, Catherine. Tenho assuntos mais importantes para tratar.
Catherine apertou os punhos, forçando-se a continuar.
— Estou grávida.
O silêncio que se seguiu foi denso, quase palpável. Auguste não se moveu, não esboçou nenhuma reação. Seus olhos continuavam fixos em Catherine, mas sem qualquer emoção.
— Grávida? — Ele repetiu, a palavra soando como um eco vazio. — Isso é... interessante.
Catherine esperava alguma reação, um sinal de afeto, um mínimo de interesse. Mas Auguste permaneceu impassível, como uma estátua de mármore.
— É... é uma bênção, Auguste. — Ela tentou, com a voz trêmula, mas a palavra "bênção" soou estranha em seus próprios ouvidos, diante da frieza de Auguste.
— Bênção? — Ele soltou uma risada seca, sem humor. — Não seja ridícula, Catherine. Não é mais que sua obrigação. É o que se espera de uma esposa.
Catherine sentiu um aperto no peito. As palavras de Auguste, cruéis e desumanas, a feriram como um punhal.
— Espero que seja um menino — ele continuou, como se estivesse falando do tempo. — Um herdeiro para perpetuar o legado da família LeBlanc. Não me interessa nada além disso.
A frieza em sua voz, a indiferença em seus olhos, a deixaram sem palavras. Catherine se sentiu como um objeto, um receptáculo para gerar um herdeiro, sem qualquer valor além disso.
— Auguste... — Ela tentou protestar, mas as palavras se perderam em um nó na garganta.
Ele a interrompeu com um gesto impaciente.
— Não me incomode com bobagens. Tenho assuntos importantes para tratar.
Catherine se afastou, derrotada. A conversa havia confirmado o que ela já temia: a gravidez não era um motivo de alegria para Auguste, mas um fardo, uma obrigação. A união que havia sido selada por interesse e conveniência agora se transformava em um campo minado de desilusão e sofrimento.