Juliette falou tudo para o pai e para a mãe. E a reação foi péssima.
- Não te criei para ser uma mentirosa. Acompanhante? Isso é garota de programa. - esbravejou o pai.
- Não pai. Eu nunca fiz programa.
- Mas não é mais honrada. Se perdeu naquela cidade.
- Isso também.
- Minha filha, não diga isso a seu pai.
- Não quero mentir e dizer que sou uma virgem sem ser. Eu já não sou quem eu era quando sai daqui, me perdoem por favor.
A mãe de Juliette perdôo, mas o pai lhe deu um ultimato.
- Só volte aqui no dia que nós poderemos sentir orgulho de você. Até lá, vá embora da minha casa.
Juliette recolheu novamente as suas coisas e trocou as caixas por outra bolsa. Sua mãe, que vivia de lavagem de roupas e de faxinas lhe deu algum dinheiro.
- Minha menina eu te amo. A mãe vai orar muito por você.
- Obrigada mãe.
- Seja forte e não desista. Se precisar de mim, estou aqui sempre, mesmo que seu pai seja contra.
- Eu te amo minha mãe. - Juliette disse chorosa.
Ela pegou o ônibus de volta a Uberlândia. Era a cidade que ela mais conhecia e que podia lhe dá alguma oportunidade de trabalho.
...
No primeiro dia do seu retorno, Juliette buscou um lugar para morar. Teve dificuldade para achar principalmente pelo valor, mas conseguiu ainda no final do dia.
Naquela primeira noite, ela dormiu no chão e só fez uma única refeição no dia, mas tentou se manter firme.
Na manhã seguinte, buscou trabalho e conseguiu. Faxineira era a função em um hotel modesto num bairro da cidade.
Um mês depois, ela passou frente a um posto de gasolina e viu o anúncio de uma vaga de frentista. O trabalho era um expediente corrido e ela achou mais vantajoso que ser faxineira.
Fez o teste e foi aceita, começando no mesmo dia só que no expediente noturno. Terminou o trabalho as 22 horas, mas estava satisfeita. Chegou no seu quitinete e frente a sua porta tinha uma cama.
A vizinha logo se apresentou e perguntou se ela queria por que estava desapegando e não tinha visto ela entrar com nenhuma mobília.
Juliette aceitou de imediato. Não era uma cama nova, mas era de madeira e o colchão ainda era confortável se comparado ao chão. Ela ficou muito grata e seus vizinhos também.
...
Um mês depois...
Juliette estava bem habituada ao novo trabalho e as pessoas que frequentavam o posto apreciavam o seu atendimento. Tudo ia muito bem, não fosse um detalhe: Juliette estava atrasada e tinha quase certeza que esperava um filho de Rodolffo.
No dia que recebeu seu primeiro salário de frentista, ela comprou um novo colchão, um fogão e um botijão de gás. Tudo ia se ajeitando aos poucos, mas ela não hesitou em comprar um teste de gravidez.
Na manhã seguinte, ela passou seu primeiro café na quitinete e enquanto tomava um gole do café olhava a fita do teste de gravidez.
Dois traços bem definidos lhe deram a certeza que ela já tinha no seu coração.
- A mamãe vai te dá muito amor. Eu juro! Se Deus me deu você é por que ele sabe que sou capaz de te amar e te cuidar. Te amo bebê.
...
Enquanto isso no aeroporto de Belo Horizonte. Jorge estava com o filho.
- Pai... Eu já te expliquei que me afastei do lecionar por um ano para concluir o meu doutorado. Vou até Lisboa e depois ao interior de Portugal. Lá tem excelentes terras cultiváveis.
- Novamente está mergulhando nos estudos para fugir da realidade. Não vai atrás da Juliette?
- Não tenho como ir... Até na cidade natal dela eu fui, mas ela não está com a família. Ela soube sumir.
- Você não soube procurar.
- Infelizmente não há volta pai. Eu sei que não. Eu falei o quê não devia.
- Você foi um cafajeste da pior espécie.
Rodolffo engoliu no seco.
- O seu tão adorado doutorado, não vai te dá grandes felicidades além de status científico. Um diploma a mais não vai te enriquecer...
- Tem um adicional no meu salário pai...
- Mas dinheiro não lhe trará amor. Não vai aquecer a sua cama... O dinheiro não vai te chamar de papai.
- O meu filho está no céu. Então eu me conformo com isso.
- Que você encontre a cura para as suas dores por que quem fica ferido como você está, só traz dor para os que estão próximos de você. Deus te abençoe.
Jorge se despediu sem um abraço e Rodolffo sentiu-se triste.
Já embarcado, Rodolffo não olhou para além das janelas do avião como sempre fez, mas sim para uma fotografia de Juliette.
- Que um dia a gente possa se encontrar de novo. E eu consiga conquistar o seu perdão. Eu te amo. - ele disse beijando a foto.
...