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ECOS E SUSURROS





"A guerra é a paz. A liberdade é a escravidão. A ignorância é a força." — George Orwell (1984)




28 de novembro de 3400

DIA DA REBELIÃO

As vozes abafadas ressoavam como um sussurro distante, rapidamente se transformando em gritos agudos que cortavam o ar pesado. A fumaça, espessa, serpenteava pelos cantos, mergulhando tudo em uma escuridão sufocante. O cheiro amargo queimava os pulmões, tornando a respiração um desafio quase impossível. No entanto, em meio ao caos, sua mente fixava-se em um único pensamento: Corá. Sua irmã.

Naquela época do ano, todos deveriam estar juntos; porém, a guerra os separava. Dahlia Reishm, naquele momento, era apenas uma criança, mas já entendia o que se passava. Corá, a irmã mais velha e certa, era o que todos pensavam ser o futuro da família Reishm. No entanto, Dahlia sabia onde sua irmã estava, e não era em um lugar seguro. Ela havia escutado, atrás da porta, o que tanto seus pais escondiam: sua irmã não estava mais entre eles e, talvez, no futuro, eles fizessem a mesma coisa com ela — porém, só quando completasse 17 anos.

Quando os gritos cessaram, restou apenas a escuridão e a fumaça. Sua casa fora bombardeada, e os destroços se espalhavam por toda parte. Mesmo suja, ela não havia se ferido. O medo ainda pulsava dentro dela; mesmo com o zumbido nos ouvidos, conseguiu ouvir os gritos de sua mãe. Então, seus olhos se fixaram na porta que se abria, revelando seu pai vindo resgatá-la.


9 de dezembro de 3409

Se passaram nove anos desde o atentado da rebelião. Quando Dahlia acordou, o outro lado da cama parecia frio. Seus dedos se esticaram em busca do calor de sua irmã, mas encontraram apenas o vazio. Como em todas as noites, os pesadelos retornaram; não como sonhos, mas lembranças da primeira rebelião. 

Ela não queria permanecer ali, na cama, sabendo que aquela seria sua última noite. Ao pisar no chão frio de madeira da sua "nova casa" — ou, talvez, amanhã, sua antiga casa — ela então levantou-se e foi até o quarto de sua mãe. A cama já estava arrumada, como se sua mãe estivesse pronta para deixá-la. — É claro que era isso. Hoje é o último dia.

Na cozinha, ela observou a mesa, repleta de fartura, assim como no último dia de sua irmã. Dahlia apoia os cotovelos sobre a mesa de forma brusca, numa tentativa falha de expressar sua indignação pelo que estava acontecendo. Durante esses nove anos, ela esperou que algo mudasse, que a rebelião voltasse e alterasse seu destino, como se isso fosse possível.

A luz na cozinha era suficiente para que pudesse ver suas roupas sobre a cadeira, prontas para o seu destino no dia seguinte. Ao avistar sua mãe, correu até ela e a abraçou forte, lembrando-se de Corá, encolhida ao lado do corpo da mãe antes do ataque e do desaparecimento. Agora, era ela quem tinha as bochechas coladas à sua mãe.

Ela não havia dormido bem naquela noite e provavelmente não dormiria nas noites que viriam. Sua mãe parecia mais jovem, ainda um pouco desgastada, mas não inteiramente arrasada ou triste pela partida de sua filha. Dahlia sabia que não era culpa de seus pais; na verdade, era o governo quem comandava, e não eles. Não havia nada que pudessem fazer; não eram mais da monarquia há muito tempo, desde o dia em que seu bisavô se rebelou contra o Estado.

— Ele me odeia. — Ou pelo menos desconfia de mim. 

— Quem? — perguntou minha mãe.

Virei-me para encará-la. — Papai. — Seus olhos agora estavam inexpressivos. — Seu pai não te odeia, ele só está cansado de suas artimanhas.

Dahlia não suportava a ideia de ter que ir embora e de talvez estar morta ao amanhecer. Não sabia o que aconteceria a partir dali; só sabia que, talvez, nunca mais retornaria. Ela não era como os filhos da soberania, que não eram obrigados a ir. Claro que teriam que continuar a dinastia, pois não poderiam deixar qualquer um governar ou mandar no povo sem ordem.

— Você sabe que, por sua culpa, seu pai foi revogado da Ceifarão. — Mesmo banidos da monarquia, ainda tinham alguns privilégios, coisas que a maior parte do povo não possuía. Meu pai era um ceifador, mas, por minha teimosia, ele foi removido. Mesmo que estivesse nessa posição, isso não mudaria seu destino, pois até mesmo os filhos dos ceifadores eram obrigados a ir; eram incentivados desde cedo. Por isso, muitos decidiram não ter filhos, mesmo sabendo que precisariam deles para tudo continuar. Porque, mesmo sem um futuro, ainda seríamos reféns do medo e do poder; alguns passariam por cima de qualquer um para chegar ao poder.

Apesar de já ter se passado muito tempo, acho que ele ainda se lembra de como tentei afogar-me no rio quando ele trouxe as notícias para casa. Não foi uma ideia muito sábia, já que a família teria de se mostrar perfeita para ele subir de patente, e "nenhum filho escolhido pode deixar a vida nessa terra até o grande dia".

— Está na hora, vista-se — minha mãe me alerta. Então, ela coloca as novas botas compradas no mercado clandestino, o qual era mais barato fazer trocas, já que nós não tínhamos dinheiro.

A comida farta sobre a mesa era um presente do governo para as famílias no último dia. — Não faria mal eu levar um pouco de comida para a viagem, faria? — pensei.

Depois do atentado, a maior parte de nossas vidas mudou; não apenas o sofrimento se integrou, mas também a fome começou a fazer parte do nosso cotidiano. Isso me dava medo, pois me lembrava de Janu nas ruas da cidade.

Eu ainda conseguia ver seu corpo se degradando pela fome; ela era nossa vizinha e seus pais haviam morrido durante o atentado, a deixando sozinha. Não havia para onde ela ir; não havia orfanatos, não desde o primeiro mandato que mandou demolir todas as casas de adoção. Era proibido deixar um filho, pois, no fim, eles seriam usados como escudo para lutar.



Por favor, não esqueçam de curtir, isso me ajuda muito a continuar com as histórias! ✨📖

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