Caminhos Entrelaçados

𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐈𝐈𝐈

Kaiser estava na unidade médica, como de costume. Ele sempre seguia Serena para todos os lados, pronto para ajudá-la a qualquer momento, evitando, assim, que ela brigasse com ele.

— Vou tirar meu intervalo agora, então você pode ir fazer alguma coisa. — A mulher avisou, e Kaiser assentiu, fechando a caixa que segurava. Antes que pudesse se virar, Serena segurou seu braço com força.

— Mas não se esqueça de estar aqui em uma hora. E nada de lutar, você sabe o que acontece se me desobedecer, né? — Kaiser olhou assustado para ela, mas logo assentiu, e ela soltou seu braço. Sem perder tempo, o garoto saiu correndo para fora da unidade e desceu até o local onde os aspirantes treinavam para se tornarem cavaleiros. Ela tinha mandado ele não lutar, mas não disse nada sobre assistir.

Kaiser caminhou por cada campo de treinamento à procura de uma pessoa em específico, mas não a encontrou em lugar nenhum. Então, uma ideia surgiu em sua cabeça, e ele voltou a correr com determinação.

Ele finalmente chegou ao campo aberto onde havia lutado com Manigold algumas semanas atrás. Sua suposição estava correta: o garoto estava lá, sentado, arrancando algumas flores, claramente abalado por algo.

Kaiser se aproximou lentamente e se sentou ao lado de Manigold.
— Oi… — cumprimentou o moreno, esperando alguma reação do azulado.

— Oi. — Manigold respondeu, sem nem olhar para o amigo, continuando a arrancar as flores do chão.

— O que aconteceu com você? Eu fiz algo errado? — Kaiser perguntou com um lampejo de preocupação na voz, sem conseguir lembrar de nada que pudesse ter deixado seu amigo chateado.

— O Grande Mestre me levou para um treinamento…

— Não entendo, isso não deveria ser algo bom? — Kaiser arqueou uma sobrancelha, confuso com a tristeza do amigo.

— Seria, se o lugar fosse outro… Ele me levou para o submundo… Eu vi pessoas mortas lá, todas caindo uma atrás da outra em um buraco que as levaria ao inferno… Foi horrível. Eu vi uma garotinha cair lá dentro. — O moreno ao lado dele arregalou os olhos em descrença.

— Ele é louco? Não havia outra forma de te treinar sem isso tudo? Sinto muito por você… — Kaiser se aproximou de Manigold e o abraçou. O azulado não demorou a aceitar o gesto de afeto.

— Não tem problema. Acho que, de certa forma, já estou acostumado com coisas assim. — Manigold disse, apoiando a cabeça no ombro do amigo.

— Mas não deveria estar. Só porque você passou por aquela situação na sua vila, não significa que esteja pronto para ver coisas assim… Tem certeza de que esse velho gosta de você? — Manigold riu e se desvencilhou do abraço. Kaiser realmente se preocupava muito com ele.

— A intenção foi boa, pelo menos. Descobri que, apesar de tudo, devemos viver nossa vida ao máximo, sem arrependimentos. — Manigold olhou para Kaiser, que prestava atenção em cada palavra.

— Quanto a isso, você tem razão. Mas ainda não mudei minha opinião sobre ele. — O garoto moreno se levantou e estendeu a mão para o amigo. — Vamos lutar. Isso ajuda a esvaziar a cabeça. — Manigold sorriu e pegou a mão de Kaiser para se levantar, logo se posicionando para a luta. O outro fez o mesmo, e logo começaram a lutar.

Quase todos os dias eram assim. Kaiser terminava suas tarefas na unidade médica e corria ao encontro de Manigold, que o esperava no mesmo campo de sempre, após os treinos. Eles riam, conversavam, lutavam, riam de novo e voltavam ao santuário, compartilhando histórias.

Manigold gostava da companhia de Kaiser. Ele foi o único a aceitar sua personalidade difícil e o único com quem ele conseguia lutar de igual para igual.