26. Lily

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Você me decepciona, Lily.

Estou encarando o celular, chocada.

Isso é uma piada?

Você me trata como um monstro, sou o pai dela cacete.

São 5h. Acordei para ir ao banheiro e, naturalmente, dei uma olhada no celular antes de dormir mais uma horinha até o despertador tocar.

Todas as mensagens são de Ryle. Ele não dá notícias desde que apareceu aqui em casa no domingo. Já se passaram quatro dias, e ele nem se deu ao trabalho de entrar em contato para se desculpar por ter perdido a cabeça comigo. Ele passou quatro dias em silêncio, e agora vem com essa?

Eu era mais feliz antes de te conhecer.

Leio as inúmeras mensagens, sabendo muito bem que ele estava bêbado quando as enviou ontem à noite. A primeira chegou à meia-noite, e a última, escrita às 2h da manhã, diz:

Divirta-se trepando com o morador de rua.

Largo o celular na cama, as mãos trémulas. Não acredito que ele me enviou essas mensagens. Achei que os quatro dias de silêncio significassem remorso, mas está na cara que ele anda remoendo a raiva.

Isso é bem pior do que eu imaginava.

Tento voltar a dormir, mas não consigo. Eu me levanto e preparo uma xícara de café, mas estou enjoada demais para tomá-lo. Passo a próxima meia hora parada na cozinha, olhando para o nada, pensando sem parar nas mensagens.

Quando Emerson finalmente acorda, fico aliviada. Vai ser ótimo me distrair com nossa rotina matinal agitada.

Depois que a deixo com minha mãe, chego ao trabalho às 8h em ponto. Sou a primeira na floricultura, então me ocupo o máximo possível até Serena e Lucy chegarem. Lucy percebe que há algo de errado comigo, e em dado momento até me pergunta como estou, mas respondo que está tudo bem.

Finjo que estou bem, mas olho para a porta da frente sempre que posso, achando que vou ver Ryle irromper por ela. Fico esperando outra de suas mensagens cruéis, fico esperando o telefone tocar.

Horas se passam e nada. Nem mesmo um pedido de desculpa.

Não conto para Atlas, não conto para Allysa, não conto para ninguém ao longo do dia sobre o que ele fez. É vergonhoso. As mensagens insultaram a Atlas e a mim. Não tenho ideia do que fazer, mas sei que não estou disposta a tolerar esse tipo de coisa. Eu me recuso a passar os próximos dezessete anos da vida da minha filha sofrendo qualquer abuso, mesmo que seja por mensagens de texto.

Serena já foi embora, e estou sozinha com Lucy quando o inevitável enfim acontece. Já passa das 17h, e estamos nos organizando para fechar a floricultura a fim de que eu possa buscar Emerson na casa da minha mãe quando Ryle entra pela porta da frente.

Minha ansiedade jorra dentro de mim como uma explosão de lava.

Lucy nunca foi muito fã de Ryle, então solta um gemido baixo quando o vê e diz:

- Se precisar de mim, vou estar lá atrás.

- Lucy, espere sussurro. Olho para o celular como se estivesse ocupada com alguma coisa para que Ryle não veja meus lábios se mexendo. - Fique aqui.

Olho para ela, pois quero que perceba a preocupação em meus olhos. Ela apenas assente e vai fazer alguma coisa para fingir que está ocupada.

Meu coração está martelando no peito quando Ryle se aproxima. Nem tento disfarçar quando o encaro.

Ele sustenta meu olhar por alguns segundos e depois olha Lucy de esguelha. Aponta a cabeça para o meu escritório.

- Podemos conversar?

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