28-1. Lily

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Allysa teve a ótima ideia de simplesmente colocar os bolos no chão em cima de uma camada de sacos de lixo, para que fosse fácil limpar depois. Agora Emmy e a prima Rylee estão cobertas de bolo.

Emmy não faz ideia do que está acontecendo, mas está se divertindo. Acabamos fazendo uma festinha para ela aqui na casa de Allysa. Minha mãe está aqui, os pais de Ryle também, além de Marshall e Allysa.

Ryle também está aqui, mas já vai embora. Ele tira algumas fotos no celular antes de dar um rápido beijo de despedida nas duas meninas.

Ouvi-o dizer para Marshall que teve um dia agitado no trabalho, mas ele conseguiu comparecer à festa. Achei bom que ele chegou a tempo de ver a abertura dos presentes, e ele ficou até o bolo estar quase todo destruído. Sei que um dia isso vai ser importante para Emmy, quando ela vir as fotos.

Não nos falamos desde que ele chegou. Passamos perto um do outro, fingindo que está tudo bem na frente das outras pessoas, mas Ryle não está nada bem. Sinto a tensão que irradia dele do outro lado da sala. Mas é melhor ele me ignorar do que jogar a culpa em mim. Sempre vou achar que ser ignorada é melhor do que a alternativa.

Infelizmente, não sou ignorada por muito tempo.

Ryle faz contato visual comigo pela primeira vez hoje. Cometi o erro de ficar parada sozinha, e ele interpreta isso como uma oportunidade de se aproximar e parar do meu lado. Meu corpo enrijece, e não quero fazer isso agora. A gente não se fala desde que ele me insultou enquanto saía da floricultura na semana passada. Sei que precisamos conversar, mas aqui, na festa de aniversário da nossa filha, não é a hora nem o lugar para isso.

Ryle põe as mãos nos bolsos. Encosta o queixo no peito e encara o chão.

- O que sua advogada disse?

Sinto a raiva arder dentro de mim. Olho-o de esguelha e balanço a cabeça.

- Não vamos falar sobre isso agora.

- Quando então?

Não é uma questão de quando, mas com quem? Pois nunca mais vou discutir nada com ele sozinha. Ryle me provou que não estou segura quando fico a sós com ele, então esse privilégio acabou.

- Eu te mando mensagem - digo e me afasto, deixando Ryle sozinho.

Minha mãe está com Emmy no colo, limpando o bolo do rosto e das mãos dela, então vou em sua direção, mas Allysa me puxa antes que eu a alcance.

- Vamos conversar, diz ela.

Sigo-a até seu quarto, e ela se senta na cama.

Allysa só me traz para o seu quarto quando quer me questionar em relação a alguma coisa e escolhe os momentos ideais com uma intuição impecável. Reviro os olhos assim que entro no cômodo, depois me sento na cama.

- O que você quer saber?

Faz umas duas semanas que não conversamos a sós. Ela pode estar querendo fazer várias perguntas sobre a minha vida.
Tem acontecido muita coisa ultimamente.

Allysa se deita na cama.

- As coisas parecem meio esquisitas entre você e Ryle hoje.

- Deu pra perceber?

- Eu percebo tudo. Você está bem?

Reflito bastante sobre a pergunta. Você está bem? Eu costumava me esconder dessa pergunta porque não estava bem. Mesmo meses depois do nascimento de Emerson, quando alguém me perguntava isso, eu abria um sorriso enquanto me sentia arrasada por dentro.

É a primeira vez que não estou mentindo quando digo:

- Estou, sim.

Allysa me encara em silêncio. Sua expressão é reconfortante, como se ela até acreditasse em mim desta vez. Ela pega minha mão e me puxa até eu estar deitada ao seu lado. Entrelaça nossos braços na altura dos cotovelos, e ficamos apenas encarando o teto, curtindo um momento de silêncio em uma casa cheia de gente.

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