A chuva caía forte do lado de fora. Era uma noite de sábado, tranquila ou talvez solitária demais. Minha casa estava quieta, vazia, e meu celular não oferecia nada interessante o suficiente para prender minha atenção. Minhas mensagens para Ivan permaneciam sem resposta; ele sequer retornava minhas ligações.
A penumbra da sala de estar era quebrada apenas pela luz da televisão, que exibia um filme de terror antigo — daqueles que mais fazem rir do que sentir medo. Enrolada nas cobertas, eu me preparava para pegar no sono quando ouvi batidas na porta.
— Eu voltei — disse Charlotte, com a voz carregada de melancolia. Ao abrir a porta, me deparei com ela encolhida, uma mochila nas costas e o olhar abatido.
Charlotte havia decidido voltar para sua casa depois de passar alguns dias comigo, e eu apenas respeitei sua escolha. Mas agora ela estava ali novamente, confessando que não conseguiu ficar sozinha. Eu não questionei. Apenas a deixei entrar. Ela se sentou no tapete, escorando as costas no sofá, e começou a mexer na mochila. Seus olhos estavam vermelhos, cansados, e o rosto inchado denunciava as lágrimas que haviam marcado sua semana inteira. Com um suspiro pesado, ela tirou um pequeno livro de páginas gastas de dentro da mochila.
— Encontrei isso enquanto mexia nas coisas dele — disse, lançando-me um olhar carregado de tristeza, os lábios curvados em algo que parecia um sorriso melancólico. — Meu pai me contava essa história nos primeiros meses depois que minha mãe morreu.
Me sentei ao seu lado, curiosa, observando o título do livro: Pode Chorar, Coração, Mas Fique Inteiro.
— Sobre o que é? — perguntei, tentando quebrar o silêncio.
— Sobre a morte — ela respondeu, suspirando.
Charlotte começou a folhear as páginas, revelando ilustrações infantis que deixavam claro o público-alvo do livro. Ela voltou ao início, como se fosse ler, mas permaneceu em silêncio. De repente, outra sequência de batidas na porta quebrou o momento, chamando nossa atenção.
— Você está esperando alguém? — Charlotte perguntou, visivelmente surpresa.
— Não — respondi, levantando-me.
Caminhei até a porta, enquanto os relâmpagos iluminavam brevemente o interior da casa. Sem pensar muito, abri a porta e, para minha surpresa, vi Ammy, encharcada, parada na varanda.
— Ammy?
Ela havia aparecido de repente, trazendo apenas suas roupas molhadas e uma explicação confusa sobre sua insegurança de ficar sozinha no hotel que Ivan havia alugado para ela. Pelo jeito, essa visita já estava nos planos dela desde o início.
Eu não me importei. Deixei que ela entrasse e emprestei um conjunto de pijama de Friends que, para sua sorte, coube perfeitamente nela. Mas o ambiente ficou carregado. A tensão era palpável quando Ammy e Charlotte se encararam, ambas claramente desconfortáveis.
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"Querido Diário" de Lana Berger
Romance🥀 Dark Romance 𝕷𝖎𝖛𝖗𝖔 l Lana Berger é uma adolescente de 17 anos que depende de medicamentos controlados devido ao seu transtorno de personalidade antissocial, o qual influencia sua intensa obsessão por um colega de classe desde o sétimo...