the songs of thunderstorms;

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Os gritos dolorosos da mulher faziam harmonia com os trovões. O capitão Heesik estava nervoso, mas não deixava transparecer, pois a tempestade talvez fosse forte demais para Grazia e seu filho iria nascer naquela noite. Tinha que manter todas as pessoas naquele navio vivas. No quarto abaixo dele, uma mãe cansada, que sentia o coração bater de forma mais lenta, segurava um menino pequeno, que não chorou ao nascer. — Amorzinho–Sua voz estava fraca, e a parteira tentava parar seu sangramento. — Pela sua vida darei a minha, então viva honestamente. Suspirou fundo, olhando para o bebê em seus braços, que respirava profundamente. Ela pôs a mão trêmula sobre o peito do menino. — Seja um homem de bom coração, e me faça alegre na outra vida. Beijou levemente o topo da cabeça do menino. — Meu Heeseung, meu menininho. Tirou de seu pescoço um colar, que levava um pingente azul como o céu limpo, colocando-o em volta do seu pequeno pescoço. Então o entregou a parteira, desmaiando logo em seguida. O bebê então chorou, berrando com toda força de seus pequenos pulmões. 
  Heesik não conseguia olhar para o rosto de Heeseung. Certa vez, alguém disse que o pior castigo e maior felicidade para um homem é que as suas crianças sejam parecidas com a mãe. E Heeseung era idêntico a Soonyoung. Desde a aparência até sua personalidade calma e tolerante. Até seus maneirismos e talentos eram iguais. Ele era o único filho e a única lembrança da esposa. Heeseung era ótimo com a espada, e aprendeu os truques de uma pistola tão rapidamente quanto um órfão aprende a roubar. Tinha sete anos e falava como um adulto, como se fosse um democrata, do mesmo jeito que Soonyoung falava. Ele amava seu filho, mas toda vez que olhava para seus olhinhos brilhantes de criança dele, sentia um horror descomunal. A parteira havia contado as últimas palavras da esposa, segregadas ao garotinho, e elas estavam cravadas em seu cérebro. Anos antes do nascimento de Heeseung, Soonyoung teve uma visão, de um menino que salvaria a todos iguais a ela. Heesik era agradecido pela única coisa que Heeseung não tinha de igual com Soonyoung, a magia dela.
   Quando Heeseung tinha quatorze anos, Heesik adoeceu, uma doença dolorosa, que o consumia lentamente. Nos últimos anos de vida, se dedicou a ensinar Heeseung a ser um capitão forte.
   Quando Heeseung tinha dezessete anos, doença levou seu pai. Os outros piratas, homens velhos e cheios de cicatrizes, não aceitariam ordens de um menino cuja voz falhava ao dar comandos.
  Piratas tinham pouca honra e muito ego, e logo desafiaram Heeseung pelo comando do navio e seus tesouros. E ele não negou nenhuma das brigas. Deu aos homens duas opções, a obediência a ele, ou a morte. Os espertos, ficaram ao seu lado, e os corpos dos outros encontraram o mar rapidamente. Daquele sangue que escurecia o chão nasceu um novo homem.
  Da antiga gangue de seu pai sobraram poucos, os mais novos e órfãos que haviam recebido a misericórdia de Heesik. Alguns moleques sujos e meninas que se vestiam de moleques por segurança. O mais velho deles tinha vinte e um e a mais nova, onze. Obedeciam às ordens rapidamente e as faziam da melhor maneira possível, talvez por medo do mesmo destino dos mais velhos ou por puro respeito a Heeseung, mas isso ele nunca saberia dizer. Sabia que agora, ou fazia daqueles adolescentes marinheiros de qualidade, ou perderia tudo.
   Passou quatro anos fazendo daqueles adolescentes sujos e malnutridos em ladrões e marinheiros. Não dizia para ninguém, mas sentia muito orgulho de si quando ensinou aqueles garotos a lutarem e matarem se necessário, e se sentiu feliz quando viu as garotas deixando de agir como rapazes. Logo começou a ficar conhecido, afinal de contas, era filho do capitão mais conhecido dos sete mares. E a notícia da morte de Heesik havia se espalhado rapidamente. 
  Durante esses anos, trouxe novas pessoas para seu navio, de uma ilha trouxe um cartógrafo chamado Jay, e seu irmão, um jovem talentoso na cozinha, chamado Sunghoon. De um navio que havia bombardeado com seus canhões, dois órfãos, Sunoo e Jungwon, esse que em tentativa de proteger seu irmão mais novo, havia dado a Heeseung uma cicatriz no braço. Acharam que Heeseung o mataria na hora, mas ele via apenas medo nos olhos pequenos do garoto, então ele o poupou. Em uma das ilhas que visitaram, em um bordel, conheceu Niki, um moleque magro que atendia atrás do balcão. Quando foi pagar, Niki segurou sua mão e implorou baixo, para que o levasse junto a ele. Heeseung achou estranho, mas quando viu as marcas roxas e cicatrizes nos braços do menino, entendeu seu pedido e o trouxe junto.
  Heeseung tinha a fama, seu tesouro aumentava cada vez mais. Seus companheiros de viagem eram competentes e Heeseung era agradecido por suas ações. Sua fama trouxe inimigos antigos de seu pai, e novos para ele.
  Quando tinha vinte e um anos, Heeseung conheceu Jake. Seria um dia normal se Heeseung não estive sangrando até a morte no chão de um navio inimigo. O capitão daquele navio, Yeonghan, com a pouca honra que tinha, havia capturado uns dos seus, e exigia seu tesouro, e sabia que Heeseung dava mais valor a eles do que qualquer ouro ou pedra preciosa. Quando Heeseung disse não àquela proposta, o homem se irritou, dizendo que faria daquele garoto um brinquedo para os homens de seu navio se ele não concordasse. Heeseung sentiu seu sangue ferver quando ouviu as risadas malignas daqueles ignorantes. Sua ordem de ataque transformou aquele barco em uma carnificina. Enquanto brigava com um dos de Yeonghan, foi pego de surpresa ao sentir a espada daquele capitão o atravessar, e se lembrou da pouca honra de um pirata.
Sentia seus olhos pesarem, sentia todos os ossos de seu corpo se contraindo, e sentia também a espada que o atravessava das costas e saia de seu estômago, pingando sangue. Sentiu que era seu fim ali, que seu navio seria saqueado e seus companheiros mortos e suas companheiras estupradas e então vendidas como escravas. Levou a mão até o pingente em seu peito, o segurando com força e pensou em sua mãe. A única imagem de sua mãe, era um quadro pendurado na cabine do capitão. Quando era pequeno, passava suas horas livres encarando aquela pintura. Nele, sua mãe estava sentada em uma cadeira parecida com um trono, vestida com roupas de tons roxos, um pigmento caro, apenas para a realeza, e um sorriso lindo no rosto. Ele sabia a semelhança física que tinha com ela, todos os lembravam disso. Fechou os olhos, sentindo dor ao respirar. Não acreditava em deuses, mas pediu para o levarem junto a ela na outra vida. Então os gritos de Niki o acordaram, ouvindo a pistola que havia dado de presente ao garoto disparar e logo em seguida seu grito cortar o ar. Sentiu as mãos de duas pessoas pegar seus braços, logo sendo levantado, ouviu Eunchae chamando por ele. Eunchae era a pequena jovem que um dia se vestia como garoto, e era agora quem cuidava dos machucados deles. Heeseung sentia orgulho dela. Ouvia também a voz de outra pessoa, um rapaz, o qual ela chamava de Jake. Heeseung não tinha ideia de quem era ele, não havia nenhum Jake entre seus companheiros. Talvez ela estivesse chamando por Jay, e talvez o machucado estivesse o deixando burro e as pequenas explosões de pistolas o deixando surdo. Sentia as pernas enfraquecendo cada vez mais e sua visão escurecer, e a última coisa que ouviu foi o grito dela, quando ele desmaiou.

A Sailor's Lament.Onde histórias criam vida. Descubra agora