CAPÍTULO 1

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ALESSANDRO FONSECA DAMAGGIO

Taormina, Sicília

Junho de 2011

Não via a hora de chegar à Itália. Adorava passar boa parte das férias de verão na Sicília com os meus três melhores amigos e nossos familiares. Meu primo, Dante, e eu fizemos um acordo com a vovó Greta de que a outra metade das nossas férias seria fazendo estágio na indústria farmacêutica da nossa família.

Adoro o Brasil tanto quanto amo a Itália. São minhas duas casas. Meu tataravô fundou a Damaggio em São Paulo em 1945 com o seu melhor amigo. Estabeleceu-se e se tornou um império bilionário. Estamos no topo do país. Desde que me lembro, adoro tudo que envolve ciência, principalmente ligado à saúde. Formei-me em farmácia ano passado e ingressei no programa de mestrado e doutorado em farmacologia em Harvard. Não apenas eu, como Dante e Leonardo entraram no programa que queriam em suas respectivas áreas.

Nossas avós, Greta e Valeria Fabbri, fizeram uma grandiosa festa para comemorar. Beberam até não aguentar mais. A amizade dessas duas é algo inexplicável. Uma coisa é certa: somos melhores amigos por causa delas, que sempre incentivaram nossa amizade.

Meu pai, Vittorio, e os meus tios Carlo e Dario competem o tempo inteiro desde que eram crianças, pois meu avô sempre deixou claro que o melhor assumiria a presidência da família. Consequentemente, minha meia-irmã, primos e primas iniciaram um jogo de disputa sem trégua. Dante e eu somos os únicos que nos damos bem. Somos irmãos. Daria minha vida por ele sem pensar duas vezes.

— Tem que se declarar, irmão — aconselho meu melhor amigo.

Estou com medo de estragar nosso quarteto. Fizemos uma promessa — confessa, apoiando os braços no parapeito.

Fizemos a tatuagem 5'- 3' — lê-se cinco linhas – três linhas — essa numeração refere-se à posição dos átomos de carbono no açúcar de cada nucleotídeo do DNA. Por isso é chamada de o sentido da vida. Tatuamos aos dezoito anos o antebraço esquerdo. Foi para simbolizar a amizade que começou na infância e prometemos levar para o resto da vida.

Nunca imaginei que ficaria tão ligado com Anita, Dante e Leonardo. Aprontamos muito juntos. Foram inúmeras confusões, mas o apoio que nos damos é incondicional.

Conhecia o meu primo mais do que ele mesmo. Estava apenas aguardando o momento em que se sentiria pronto para dividir seus sentimentos pela nossa melhor amiga. Anita sempre foi moleca, contudo, floresceu. Tornou-se uma mulher muito bonita, de longos cabelos pretos.

Durante a pré-adolescência, pensei estar apaixonado pela minha melhor amiga. Acredito que tenha sido um evento catatônico com os hormônios e por ela sempre estar presente na minha vida. Não demorou muito para eu entender os sentimentos e concluir que não era paixão. Era admiração.

Funcionamos como melhores amigos, sempre procuramos ceder para continuarmos fazendo parte da vida um do outro. Contudo, Anita é diferente do que espero encontrar em uma mulher. Se é que um dia irei conhecer o amor. Ela é minha alma gêmea, a irmã que gostaria de ter tido, mas nunca funcionaríamos como casal e jamais arriscaria tentar por achar conveniente.

Encaro os olhos verde-escuros do Dante, percebendo o quanto parece ansioso. O olhar dele muda quando está falando da nossa melhor amiga. É desse jeito desde os quatorze anos. Mesmo se eu gostasse da Anita, nunca ficaria no caminho do meu primo. Nossa amizade é o meu alicerce.

— O que de pior pode acontecer? — questiono.

— Minha irmã dizer: não — Leonardo fala ao se aproximar, limpando os seus óculos de grau.

A TEORIA DO ÓDIOWhere stories live. Discover now