capítulo 27 - Passado

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Vicent Rossi -infância

Lembro daquela primavera como se fosse ontem, o vento batia forte arrancando balanço das folhas das árvores que as deixavam cair no chão suas pétalas alaranjadas, nos fundos do jardim havia uma floresta muito densa que eu costumava caçar quase todos os dias.

Era quase tudo perfeito em meu mundo porém minha paz de espírito foi abalada com a chegada do treinamento de sucessão, todos elogiavam como eu seria a perfeição em carne e osso do império dos Rossi, e eu não duvidava de mim somente sentia que me faltava alguma coisa.

....

Hoje era a realização de uma grande festa em homenagem ao meu pai que completava 25 anos no comando do negócio da família, eu fugi para os fundos da floresta para escapar de toda aquela burocracia, o que eu menos precisa era os filhos dos convidados me rodarem até ao pescoço.

Procuro com os meus olhos por um lugar para me sentar a vontade , não tendo sucesso decido escalar uma árvore, esta não era muito alta e nem muito baixa, seus troncos eram firmes o suficiente para aguentar meu peso, alcançei seu topo deixando as pernas de lado.

Daqui em cima podia ver o lago da nossa casa, o barulho dos pássaros assobiando era relaxante, esse era meu único refúgio para as vozes que tentavam mandar em mim a cada segundo.

Fechei os olhos tentando aproveitar ao máximo antes que algum empregado viesse a minha procura em ordem do meu pai mas essa paz não dura muito pois ouço passos leves vindo em minha direção o que acaba de vez com o meu bom humor.

Olhei para baixo vendo a silhueta de uma menina que parecia perdida, seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar e seu vestido se encontrava sujo de terra e lama, Seu joelho esquerdo tinha um ferimento de arranhão bem feio.

Eu deveria a mandar embora do meu território porém algo nela me deixa inquieto.

Desço da árvore dando um pulo caindo bem na frente dela que se assusta cambaleando para trás, observei seu estado que parecia mais agravante perante a minha presença.

Seu cabelo todo emaranhado a deixava com um ar de mendiga perante a um membro da realeza .

—Ei! Ratinha qual é o seu nome? Ordenei cruzando os braços em frente ao meu peito.

—Rato??!! Onde??!! Ela saltou tão alto que esqueceu por um momento que tinha o joelho machucado.

—Quem mais seria!!? Estou falando de vc mendiga!!

Eu esperava por uma resposta da parte dela porém em vez de raiva recebi olhos negros como céu estrelado deixando cair uma chuva impertinente.

Fiquei chocado com sua reação que esqueci de me manter neutro.

—Ei não chore!! Falei com voz de mandão —Onde estão seus pais?! Perguntei sem saída já que seu choro só aumentava.

—Não! Mamãe vai brigar comigo! Conseguiu responder no meio do choro.

—Porquê ela faria isso? Só assim reparei com atenção em seu estado, Seu lindo vestido rosa claro detinha manchas de suco e a cobertura acastanhada não era lama se não chocolate. —Quem fez isso com vc? Minha raiva veio a tona não sei o porquê.

— As meninas malvadas!! Limpou as lágrimas com o antebraço —Elas são más, não gostaram do meu vestido por isso jogaram suco em cima de mim!! Sua indignação era fofa e ao mesmo passe lamentável.

—E quem são as meninas malvadas? Um gelo se instalou em meus ossos —Vc pode me dizer?

—Não! Suas bochechas se encheram de ar a deixando parecer um esquilo que guardou suas nozes na boca.

—Como não?! Porque ela se negaria a reportar suas valentonas?

—Eu não quero a ajuda de ninguém!! Disse determinada

—Porquê? Como alguém tão pequena como vc vai se defender?

—Isso não é da sua conta! Mas uma coisa eu garanto aquelas sapas feias vão receber o que merecem!

A determinação de vingança era presente e vísivel em seus olhos, jamais encontrei alguma menina que fosse tão rancorosa e que não tinha medo dos meus olhos, ela realmente tinha algo de especial.

—Eu posso ajudar? Perguntei divertido com a ideia.

—Com uma condição! Apontou o dedo na minha cara.

—O que estiver ao meu alcance.

—Vc vai ter que seguir minhas ordens!! Determinou.

—Vc está querendo que eu seja seu lacaio? Essa menina tinha uma ousadia e tanto.

—Se não quiseres eu passo continuar sozinha! Cruzou os braços virando a cabeça para o lado com um beicinho.

—Como vc desejar, meu nome é vicent mestra. Fiz uma saudação.

—Vc pode me chamar de Maya mas só quando estivermos sozinhos.

Nesse momento diante destas árvores e todo ser presente nesta floresta, essa Pirralha conseguiu arrancar uma parte do meu coração de pedra e o transformou em carne que bombeava um novo sentimento para todo o meu corpo.

—Então, quais são suas ordens pequena? Um sorriso descabido e sinistro tinha tomado conta de mim num instante.

—Primeiro eu preciso de roupas novas, qualquer coisa serviria, segundo preciso de uma tesoura e por fim um balde de tinta vermelha. Ela ditou firme e eu fui anotando em minha mente hipnotizado nela.

Sem pensar duas vezes eu a conduzi por um atalho dentre os corredores desta casa que eu conhecia como a palma da minha mão, paramos em frente a um quarto abandonado.

Abri a porta dando espaço para ela entrar, o lugar apesar de não ser usado era bem organizado e limpo diariamente, pertencia a alguma servente mas ela foi despedida a muito tempo então ninguém vinha para cá.

Eu esperava ver ela assustada por estar sozinha com um desconhecido que conheceu numa floresta num quarto aleatório de uma mansão mas ela só olhava com apreciação para o quarto.

—Fique aqui, eu não vou demorar. A coloquei sentada na cama indo as pressas a procura de sua demanda.

Não esperei por sua resposta e sai do quarto, estava na metade do corredor quando o pensamento de que ela pudesse desaparecer tinha me tomado, eu não era paranoico ou talvez sim porém voltei num instante até a porta do quarto.

Observei ela balançado as pernas em cima da cama e respirei tranquilo, odeio esse sentimento de não poder fazer nada se ela decidisse evaporar.

Olhei para a chave no canto da escravinha e a peguei, introduzi ela fechando a porta para qualquer um que viesse a sua procura.

Pronto agora vc só vai pensar em quando eu vou voltar para ti.


.....

Mais um capítulo terminado com sucesso.Momentos emocionantes nos esperam.

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