30. Lily

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Atlas fecha a porta do quarto, e eu me vejo sozinha na sala de estar.

Estou me sentindo péssima pelos dois. Não consigo acreditar que aquela era a mãe dele. Ou até consigo. Depois de ouvir as histórias sobre ela, eu a imaginava descontrolada assim, mas acho que esperava que ela tivesse outra aparência. Tanto Atlas quanto o irmão parecem tanto com ela que fica difícil ver aquele tipo de atitude em alguém que é parente de Atlas. São pessoas completamente opostas.

Sento-me na beirada do sofá, chocada por ter testemunhado tudo aquilo. Nunca vi Atlas tão abalado. Quero ir abraçá-lo, mas entendo totalmente que ele precisa de um momento de paz. Josh também. Coitado do garoto.

Não quero ir embora sem me despedir de Atlas, mas também não quero perturbá-lo até que ele se recupere. Vou até a cozinha e abro a geladeira. Procuro os ingredientes para preparar o café da manhã para eles.

Preparo algo simples porque, na verdade, é tudo o que sei fazer. Faço ovos mexidos e bacon, e ponho uma bandeja com pãezinhos no forno. Quando os pãezinhos estão quase prontos, bato à porta do quarto de Josh. Pelo menos posso perguntar se ele quer comer alguma coisa enquanto espero Atlas sair do quarto dele.

Josh abre a porta uns cinco centímetros e me encara.

- Quer tomar café? - pergunto.

- Sutton já foi?

Assinto, e ele abre a porta e me segue pelo corredor. Josh pega algo para beber enquanto tiro os pãezinhos do forno e monto uma bandeja de café da manhã para nós. Ele me olha enquanto come, e tenho a sensação de estar sendo avaliada.

- Cadê a Emerson? pergunta ele.

- Está com a tia.

Josh faz um gesto com a cabeça e come. Em seguida, pergunta:

- Há quanto tempo você e meu irmão estão juntos?

Dou de ombros.

- Isso depende. Conheço Atlas desde que eu tinha quinze anos, mas começamos a sair mais ou menos um mês e meio atrás.

O rosto de Josh se ilumina com a surpresa.

- Mesmo? Vocês eram, tipo, amigos na época ou algo do tipo?

- Algo do tipo. Dou um gole no café e apoio a xícara com cuidado. - Seu irmão não tinha onde morar quando o conheci, então eu o ajudei por um tempo.

Josh se reclina na cadeira.

- Mesmo? Achei que ele morava com a nossa mãe.

- Só quando ela e o seu pai deixavam - revelo. - Mas ele passava muito tempo tentando sobreviver sem a ajuda deles. Espero não estar contando demais, mas acho que Josh precisa entender Atlas melhor. - Pega leve com seu irmão, tá? Você é muito importante para ele.

Josh me encara por um momento, e então assente. Ele se inclina outra vez sobre o prato e dá uma mordida no bacon. Deixa o bacon cair de volta no prato e limpa a boca com um guardanapo.

- Normalmente ele cozinha melhor.

Dou uma risada.

- É porque fui eu que fiz.

- Ah, merda - pragueja Josh. - Foi mal.

Não fico nem um pouco ofendida porque tenho certeza de que ele está se acostumando à comida de Atlas.

- Acha que vai ser chef como ele? Atlas me falou que você gosta de ajudar nos restaurantes.

Ele dá de ombros.

- Não sei. É divertido. Talvez. Mas acho que vou enjoar. Ele trabalha muito à noite. Mas eu acho que vou enjoar de qualquer trabalho depois de alguns anos, então não sei o que vou fazer. Às vezes eu tenho a sensação de que eu ainda não sei o que quero ser quando crescer.

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