É assim que começa

33. Atlas

Liguei para Sutton depois de deixar Josh em casa e pedi para ela me encontrar no Bib's. Cheguei aqui uma hora antes do horário marcado. Nunca cozinhei para ela, então espero que o fato de que vou lhe preparar uma refeição a comova de alguma maneira. Que ela goste, que fique de bom humor. Tudo para deixá-la menos reativa.

Ouço uma notificação do celular, então me afasto do fogão e olho a tela. Pedi que me mandasse uma mensagem ao chegar para que eu pudesse deixá-la entrar. Ela está cinco minutos adiantada.

Atravesso o restaurante escuro e acendo algumas luzes no caminho. Ela está parada perto da frente, fumando um cigarro. Ao ver a porta se abrir, ela joga o cigarro na rua e entra atrás de mim.

- Josh está aqui? - pergunta.

- Não. Somos só nós dois. - Gesticulo na direção de uma mesa - Sente-se. O que gostaria de beber?

Ela me olha em silêncio por um instante, depois diz:

- Vinho tinto. Qualquer um que esteja aberto.

Ela se senta à mesa, e vou servir nossa comida. Preparei camarão ao coco porque sei que é seu prato favorito. Vi-a se apaixonar por ele quando eu tinha nove anos.

Foi a única viagem que fiz com ela. Fomos a Cape Cod, que não é tão longe de Boston, mas é a única lembrança que tenho da minha mãe fazendo algo comigo num dia de folga.

Ela costumava dormir ou beber nos dias de folga, então nossa viagem de bate e volta para Cape Cod, onde provamos camarão ao coco pela primeira vez, ficou marcada na minha memória.

Deposito nossos pratos e bebidas numa bandeja e a levo até a mesa. Coloco a comida e o vinho à sua frente, depois me sento do outro lado da mesa. Empurro os talheres para o seu lado.

Ela encara o prato por um instante.

- Foi você que fez?

- Foi. É camarão ao coco.

- Por que isso? - pergunta ela, abrindo o guardanapo. - Vai se desculpar por ter achado que daria conta de cuidar de um menino como ele?

Sutton ri como se tivesse contado uma piada, mas devido ao silêncio do restaurante, sua risada não surte efeito. Ela balança a cabeça, pega a taça de vinho e toma um gole.

Sei que ela cuida de Josh há doze anos a mais do que eu, mas aposto que já o conheço melhor do que ela. E Josh provavelmente me conhece melhor do que ela e olha que morei com Sutton durante dezessete anos.

- Qual era minha comida preferida na infância? pergunto.

Ela me encara inexpressivamente.

Talvez essa pergunta tenha sido difícil.

- Tudo bem. E meu filme preferido? - Nada. - Cor preferida? Música?

Dou mais algumas opções, esperando que ela saiba a resposta de pelo menos uma.

Ela não sabe. Dá de ombros, colocando a taça na mesa.

- Que tipos de livros Josh gosta de ler?

- Isso é uma pergunta capciosa? retruca ela.

Eu me recosto, tentando disfarçar minha inquietação, mas a sinto por todo o corpo.

- Você não sabe nada a respeito das pessoas que gerou.

- Eu fui mãe solo nos dois casos, Atlas. Não tinha tempo de me preocupar com o que vocês liam enquanto estava ocupada tentando sobreviver. - Ela solta o garfo que estava prestes a usar. - Meu Deus.

- Eu não te chamei aqui para fazer você se sentir mal, digo. Tomo um gole de água e passo o dedo na borda do copo.

- Não preciso de um pedido de desculpa. Nem ele. - Olho-a com atenção, chocado com o que estou prestes a dizer. Não era de jeito nenhum o que eu estava planejando, mas não são os motivos egoístas que me trouxeram até aqui que estão me incomodando. Quero te dar uma chance de ser uma mãe melhor para ele.