35. Atlas

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- Você não é rico? - pergunta Brad. - Não pode contratar um pessoal para fazer isso por você?

- Eu tenho dois restaurantes, estou longe de ser rico. E por que eu contrataria alguém se tenho vocês dois?

- Pelo menos não vamos subir nenhuma escada - observa Theo.

- Aprenda com seu filho, Brad. Veja o lado positivo. Não temos muito o que levar. Lily não precisou de muitas das suas coisas, pois minha casa já está mobiliada, então doou a maior parte a um abrigo para vítimas de violência doméstica da região. Acho que à tarde seu apartamento já estará completamente vazio.

Brad é a única pessoa que conheço que tem uma picape, então ele e Theo estão nos ajudando a levar as coisas que não couberam em nossos carros. O berço de Emerson, a televisão da sala de estar de Lily, alguns quadros que estavam pendurados nas paredes.

Josh deu sorte. Ele está no treino de beisebol, então não precisou ajudar com a mudança.

Fiquei surpreso quando cheguei em casa alguns meses atrás e ele me contou que tinha se inscrito para participar dos testes para o time. Ele entrou e tem se dedicado bastante. Lily e eu não perdemos nenhum jogo.

Mandei a programação dos jogos para a mãe dele, mas até agora ela não compareceu a nenhum. Ela só foi uma vez para os nossos jantares de terça. Estava torcendo para que ela quisesse se envolver mais, mas não me surpreende o fato de ela não querer. Também duvido que Josh esteja surpreso. Não prestamos muita atenção ao que não está dando certo em nossa vida. Prestamos atenção ao que está dando certo, e temos muito o que agradecer. As duas principais coisas são: consegui obter a guarda dele, e Lily e Emerson estão vindo morar com a gente. Engraçado como a vida pode mudar drasticamente em um piscar de olhos.

O Atlas do ano passado não saberia o que pensar do Atlas deste ano.

Lily está começando a subir a escada quando chego à base dela. Ela sorri e me dá um beijo ao passar, depois sobe o restante dos degraus correndo.

Theo balança a cabeça.

- Ainda não consigo acreditar que você chegou tão longe com ela.

Ele ergue a caixa com o joelho e pressiona as costas na porta do prédio para abri-la. Ele a segura para Brad e para mim, mas paro quando chegamos ao estacionamento.

Tem um carro parecido com o de Ryle parando a algumas vagas de distância da picape de Brad.

Sou tomado por uma sensação de apreensão. Não interagi com Ryle nem uma vez desde o dia em que ele tentou brigar comigo no meu restaurante, mas isso já tem meses. Não faço ideia do quanto ele aceitou a ideia de Lily e eu, mas, pelo olhar que lança na minha direção, não parece ter aceitado muito.

Tem mais alguém com ele. Um homem sai do banco do passageiro. Pelo que Lily me contou, deve ser o cunhado de Ryle. Eu conheci a mãe da Lily, e conheci Allysa e Rylee, mas não Marshall.

Vou até a picape de Brad e coloco nela a caixa que estou carregando, mas sem tirar os olhos do carro de Ryle. Theo e Brad entram no prédio de novo, alheios à presença dele. Marshall tira Emerson do banco de trás e fecha a porta. Ryle continua no carro enquanto Marshall vem com Emerson na minha direção.

Ele estende a mão.

- Oi. Atlas, não é? Sou o Marshall.

Aperto sua mão.

- Isso. É um prazer conhecê-lo

Ele assente, mas, quando Emerson me vê, Marshall precisa segurá-la com mais força, pois ela se joga em cima de mim.

Dou um passo à frente e a pego.

- Oi, Emmy. Você se divertiu hoje?

Marshall me observa com ela por um instante, depois diz:

- Tome cuidado. Ela vomitou em Ryle duas vezes hoje.

- Ela não está se sentindo bem?

- Está, mas passou o dia inteiro com a gente. As duas meninas comeram açúcar no café da manhã. E no lanche. E também no almoço e no segundo lanche e... Bão. Lily e Alissa estão acostumadas com isso.

Emerson ergue o braço e tira os óculos escuros do meu rosto. Tenta colocá-los no próprio rosto, mas eles ficam tortos, então a ajudo a ajustá-los até ficarem na posição certa. Ela sorri para mim, e eu sorrio de volta.

Marshall olha para o carro onde Ryle está e depois para mim.

- Desculpe por ele não querer sair. Isso tudo ainda é um pouco estranho para Ryle... Ela ir morar com você.

Quando Marshall diz ela, não está se referindo a Lily. Está olhando para Emerson. Assinto compreensivamente, pois eu realmente entendo.

- Tudo bem. Imagino que não deva ser fácil mesmo.

Marshall bagunça o cabelo de Emmy e diz:

- Vou me mandar para que vocês possam terminar a mudança. Foi um prazer finalmente te conhecer.

- Digo o mesmo. - respondo.

E estou sendo sincero. Marshall parece o tipo de pessoa de quem eu poderia ser amigo, se as circunstâncias fossem outras.

Ele se vira para voltar até o carro de Ryle, mas para e me olha de novo antes de se afastar.

- Obrigado-diz. - Lily é muito importante para a minha esposa, então... é isso. Obrigado por fazê-la feliz. Ela merece.

Assim que Marshall diz isso, ele balança a cabeça e ergue as mãos, dando um passo para trás.

- Agora eu vou mesmo antes que a situação fique muito constrangedora.

Ele segue para o carro de Ryle, mas eu meio que queria que ele não tivesse se afastado tão depressa. Também teria lhe agradecido. Sei o quanto o apoio dele significou para Lily.

Marshall fecha a porta do passageiro, e Ryle dá partida e vai embora.

Olho para Emmy, que agora está mordendo meus óculos.

- Quer ir dar um oi para a mamãe?

Começo a andar na direção do prédio, mas paro quando vejo Lily encostada na porta da escada.

Assim que me vê, ela se vira e enxuga os olhos rapidamente. Não sei por que está chorando, mas ando mais devagar para que ela possa limpar as lágrimas antes de cumprimentar a filha. E de fato, vários segundos depois, ela se vira com um sorrisão e pega Emmy dos meus braços.

- Você se divertiu com o papai hoje? - pergunta, pouco antes de sufocar a menina com vários beijos.

Quando me olha, encaro-a curioso, perguntando-me por que estaria chorando. Lily gesticula na direção do estacionamento onde o carro de Ryle estava alguns momentos antes.

- Foi um momento importante - revela. - Quer dizer, sei que Marshall estava com ele, mas o fato de que Ryle sentiu que podia deixá-la com você... - Ela está começando a lacrimejar de novo, o que a faz suspirar e revirar os olhos devido à própria reação. - É bom saber que os homens da minha vida conseguem pelo menos fingir se dar bem por causa de Emmy.

Sendo honesto, também acho isso bom. E que bom que ela estava lá em cima quando eles chegaram. Sei que Ryle estava no carro quando Marshall trouxe Emmy, mas foi um passo na direção certa. Talvez Ryle e eu estivéssemos precisando de uma interação assim tanto quanto Lily.

Acabamos de provar que a cooperação é possível, mesmo que magoe.

Enxugo a bochecha molhada de Lily e depois lhe dou um beijo rápido.

- Eu te amo. Coloco a mão na cintura de Lily e a levo na direção da escada. - Mais uma viagem e aí você terá que me aturar para sempre.

Lily ri.

- Não vejo a hora de te aturar para sempre. 

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