- Vai mesmo fazer isso? - pergunta Theo.
Estou na frente de um espelho, ajeitando a gravata. Theo está sentado no sofá, tentando me convencer a deixá-lo ler meus votos antes do casamento.
- Não vou ler os votos para você.
- Você vai é passar vergonha provoca.
- Não vou. Eles estão bons.
- Atlas, para com isso. Estou tentando te ajudar. Do jeito que você é, provavelmente vai concluir com algo do tipo: Só mais uma coisinha... quer ser minha peixinha?
Rio. Não sei como ele ainda consegue inventar mais dessas rimas depois de dois anos.
- Você fica praticando seus insultos no meio da noite, é?
- Não, eles surgem naturalmente.
Alguém bate à porta e a abre um pouco.
- Cinco minutos.
Dou outra olhada no espelho antes de me virar para Theo.
- Cadê o Josh? Preciso confirmar se ele está pronto.
- Eu não deveria te contar.
Inclino a cabeça para o lado.
- Cadê ele, Theo?
- Da última vez que o vi, ele estava no jardim com a língua na garganta de alguma garota. Você vai virar vovó em breve.
Sou irmão dele. Eu seria tio, não avô. - Olho pela janela, mas o jardim está vazio.
- Vá atrás dele, por favor.
Josh e eu somos muito parecidos, mas ele é um pouco mais confiante com as garotas do que eu na sua idade. Ele acabou de completar quinze anos, e até agora essa é a idade de que menos gostei. Tenho certeza de que vou envelhecer uma década inteira no próximo ano, quando ele tiver idade para dirigir.
Tenho que pensar em outra coisa. Já estou ficando nervoso. Talvez Theo tenha razão e eu devesse dar outra olhada nos meus votos para conferir se não tem nada que eu queira mudar ou acrescentar.
Tiro a folha de papel do bolso e a desdobro, depois pego uma caneta caso eu queira fazer alguma mudança de última hora.
Querida Lily,
Estou acostumado a escrever cartas para você que ninguém mais vai ler, e talvez seja por isso que tive dificuldade quando comecei a escrever estes votos. Achei um pouco assustadora a ideia de lê-los para você em voz alta na frente de outras pessoas.
Mas votos não se fazem em particular. O propósito dos votos é fazer uma promessa intencional que é testemunhada, seja por Deus ou pelos amigos e familiares.
Imagino, porém, que as pessoas se perguntem ou pelo menos eu me perguntei por que os votos em público são necessários. Não pude deixar de pensar no que deve ter acontecido no passado para criar essa necessidade de o amor ser testemunhado.
Será que isso significa que, em algum momento, uma promessa foi descumprida? Um coração foi partido?
Quando realmente paramos para pensar no motivo de os votos existirem, ficamos decepcionados. Se acreditássemos que todos vão cumprir a palavra, os votos não seriam necessários. As pessoas se apaixonariam e continuariam apaixonadas, fielmente, para todo o sempre e ponto final.
Mas é justamente essa a questão, imagino. Somos pessoas. Somos humanos. E às vezes as pessoas nos decepcionam.
Perceber isso fez meus pensamentos tomarem outro rumo enquanto escrevia estes votos. Comecei a me perguntar: se as pessoas costumam ser tão decepcionantes e raramente são bem-sucedidas no amor, o que podemos fazer para garantir que nosso amor vai durar? Se metade dos casamentos termina em divórcio, isso significa que metade dos votos já feitos acabaram sendo descumpridos. Como assegurar que não seremos um dos casais que entram para essa estatística?
VOCÊ ESTÁ LENDO
É assim que começa
RomanceLily e Ryle acabaram de chegar a um acordo civil para a guarda conjunta da filha, Emerson, quando Lily repentinamente esbarra em Atlas, quase dois anos após terem se falado pela última vez. Feliz que o timing finalmente parece estar favorável para q...