Regressar ao trabalho depois do fim de semana prolongado faz-me bem, sobretudo porque sinto que não aproveitei o fim de semana como queria. Passei grande parte do tempo a pensar na minha conversa com o Dinis, nas coisas que ele me disse. Gostava que não tivesse mexido comigo, mas a verdade é que mexeu e que me fez refletir sobre tudo o que tem acontecido nos últimos anos e nos últimos meses, sobre as minhas relações passadas e sobre a forma como lido com as relações.
Depois da relação com o Rúben, apenas tive mais uma relação séria, com o Tiago, que era do meu curso, mas um ano mais velho. Conhecemo-nos porque tínhamos amigos em comum, eu achava-lhe piada, ele gostava de me picar e as coisas começaram a evoluir entre nós, começando apenas por uns amassos até, depois, começarmos a namorar. Estivemos juntos durante praticamente dois anos, mas chegámos a um ponto em que a nossa relação estava estagnada e, a dada altura, parecia que não havia mais do que uma amizade entre nós. Estávamos juntos só por estar, mas já não havia aquela paixão inicial entre nós. Foi aí que eu decidi abrir o jogo e sugerir que cada um seguisse o seu caminho, algo com que o Tiago concordou sem grande resistência - o que me levou a concluir que se sentia exatamente da mesma forma que eu.
A conversa com o Dinis fez-me repensar o fim da minha relação com o Tiago, os últimos meses em que estivemos juntos e se, de alguma forma, fui eu quem sabotou essa relação. A verdade é que uns meses antes de terminarmos, o Tiago tinha começado a falar da possibilidade de vivermos juntos. Já trabalhávamos os dois e tínhamos algum dinheiro com que podíamos perfeitamente pagar uma renda. Na altura, eu não me sentia pronta para dar esse passo e ele até aceitou relativamente bem, mas não consigo deixar de pensar que esse pode ter sido um momento crucial para as coisas arrefecerem entre nós e termos perdido a ligação que tínhamos, o que culminou no término da nossa relação. Será que eu ergui essas tais barreiras invisíveis que impedem as pessoas de avançar? Será que, de facto, eu tenho fugido de relações sérias, pondo um travão de cada vez que as coisas começam a evoluir?
Forço-me a parar com as minhas divagações e a terminar o duche, antes que me atrase para o trabalho. Uma vez que hoje vou ter um dia bastante preenchido, em que vou ter de ir ver dois dos projetos nos quais tenho estado a trabalhar, decido vestir algo mais prático e confortável. Resgato umas confortáveis calças de linho beges, que combino com uma t-shirt preta básica e uns sapatos rasos pretos. Não coloco qualquer maquilhagem além do habitual rímel e escolho acessórios simples em tons de dourado para finalizar o outfit.
Preparo uma taça de cereais com iogurte e pêssego para o meu pequeno-almoço, comendo rápido para não me atrasar, e saio de casa um bocadinho mais tarde do que é o meu habitual, verificando mentalmente se não me estou a esquecer de nada. Felizmente, como estamos em agosto, verifica-se uma considerável diminuição do trânsito, por isso consigo chegar ao trabalho a tempo e horas.
Antes de me sentar à secretária a ver os e-mails pendentes e a organizar o trabalho para hoje, vou tirar um café para me ajudar a concentrar e ganhar energia para o longo dia de trabalho que se avizinha. Troco dois dedos de conversa com a Tânia, antes de cada uma de nós se focar nos seus afazeres. Em teoria, agosto é um mês mais calmo de trabalho, mas visto que vou estar de férias na primeira quinzena de setembro, tenho de deixar o máximo de trabalho adiantado, o que faz com que as próximas duas semanas se avizinhem de muito trabalho.
Passo o dia bastante concentrada no trabalho, porque tenho muito que fazer e porque concentrar-me no trabalho me impede de divagar para outros pensamentos. Paro apenas meia hora para almoçar, visto que, da parte da tarde, tenho de sair para ver dois projetos. Estou a voltar ao escritório, para deixar uns papéis e tratar de umas coisas rápidas antes de dar o dia por terminado, quando recebo uma chamada da minha irmã.
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Pontos Nos Is | Rúben Dias
Romance«Hoje é o dia de a agarrar Pra ficar com quem eu sempre quis E se a voz nervosa não falhar Talvez vá ser feliz!»