- Onde você estava? - Aline bufou nervosa de preocupação, mas, ao ver o meu tênis sujo de terra preta e minhas mãos sujas, seu semblante foi para incredulidade. - Não acredito que Nate te levou para Gomno à noite. Irresponsável!
- Eu ia seguir ele de qualquer jeito, Aline. - Ela riu com deboche da minha réplica. Ao chegar ao quarto, vi sua mochila sob a cama. - O que está fazendo aqui? Não ia dormir na casa daquela tua amiga Alessa?
A postura dela ficou rígida, retraindo os lábios e evitando meus olhos.
- Preferi ficar aqui. Queria conversar com Nathan, só que ele resolveu dar um chá de sumiço e levar nosso ás para o meio da zona rural de Rheyk que é repleta de predadores.
Sua escolha de palavras me incomodou bastante. Peguei uma muda de roupa mais confortável e fui rumo ao seu banheiro, em completo silêncio. Antes de fechar a porta, a chamei. Sim, ela parecia chateada com alguma outra coisa e acabou descontando em mim. Só que eu não era saco de pancada de seu ninguém para aguentar certos comentários calada.
- Nate está lá embaixo. Se quiser conversar, é só descer um lance de escada. E não se preocupe. Vou só tomar um banho e deixarei o seu quarto todinho só para você. O ás aqui vai dormir no sofá.
- Enny, não quis dizer isso. - Ela movimentou a mão como se pedisse para eu me acalmar.
Minha língua passou pelos meus dentes enquanto examinava bem as palavras que diria. Eu não podia ser agressiva demais ou perderia o abrigo de Tia Lúcia e ficaria realmente largada às traças. Então tive que ser mais ponderada, hábito que vinha aprendendo aos poucos neste mundo.
- Mas foi exatamente isso que você disse. - A culpa lhe transpassando a face não me amoleceu em nada. - Uma pena porque realmente achei que estávamos construindo uma amizade. Pelo visto, sou para você a mesma coisa que sou para Victor ou Aliat, uma peça nesta guerra. Obrigada por deixar claro.
Não esperei qualquer resposta dela, batendo logo a porta do banheiro, me despindo e deixando a água fria do inverno escorrer gratificantemente pelas minhas costas. Por mais que tentasse focar na minha atual raiva, diversas vezes fui tomada pela memória do meu primeiro beijo. Em determinado momento, desisti de resistir e me permiti relembrar de cada segundo.
Que droga eu estava fazendo com a minha vida?
Tracy e Luna mandaram não me envolver com ele. Eu sabia que Nathan era alguém complicado. Mas, no final, Jane estava certa. O difícil era tirar do coração. E, de fato, agora eu estava ferrada porque sequer o queria fora do meu coração. E tinha algo pior: como seria daqui para frente? Fingiríamos que não rolou e vida que segue? Ou ele queria algo mais sério? Se fosse mais sério, como eu poderia dizer que não estava pronta para algo tão sério quanto ele era habituado? Ou como ficaria o grupo? E será que eu desistiria de voltar para casa? Não, isso nunca.
Coloquei minhas mãos no rosto para conter o grito que rasgou minha garganta. Essa cacofonia mental estava me matando! Desliguei o chuveiro, me vesti e fui fazer um novo curativo, notando que a ferida tinha aparência de uma semana de cicatrização. Poxa, a pomada de Honesh é boa mesmo. Assim que finalizei o cuidado com meu machucado, peguei o livro "Um Estudo em Vermelho", que comprei recentemente para reler pela 3ª ou 10ª vez, e me dirigi com meu travesseiro e edredom para o sofá.
Admito que fiquei grata com a ausência de Aline, ela deveria ter ido lá em Nathan mesmo. Por mais que gostasse de todas as garotas, com algumas, a confiança era algo difícil e, se meu "caso" com Nathan viesse a público, seria pior. Céus! Só pare de pensar nele, Enny Scott! Peguei o livro, achei uma posição confortável e me entreguei a familiar leitura.
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Os Segredos de Rheyk - Série Enny Scott (VERSÃO BETA)
General FictionEnny, uma jovem de 16 anos, começa a ter visões assustadoras de sua morte e de um universo alternativo. Sua vida vira de cabeça para baixo quando um monstro aparece para matá-la, e ela é salva por seis adolescentes que a levam para uma dimensão para...