**No dia seguinte**
Hoje mais cedo, fui chamado à diretoria com mais dois alunos. Não sabia o que havia feito de errado; nunca fui de me meter em encrenca e estava extremamente nervoso. Sabe aquela sensação de medo, mesmo quando você não fez nada? Era exatamente isso que eu estava sentindo. Quando eu e os outros dois alunos entramos na sala da diretora, lá estava ela com um sorriso no rosto e um homem alto, vestido elegantemente, ao lado dela. Não consegui entender o que estava acontecendo, mas antes que pudesse raciocinar, eles começaram a falar:
- Vocês três devem estar se perguntando por que os chamamos aqui; a resposta é bastante simples, aliás, mas vou deixar que o senhor Croner explique. - disse a diretora, sorrindo.
- Bom dia, alunos! Podem me chamar de Croner; não precisam dessa formalidade toda. Embora pareça bravo, acreditem em mim: sou bem mais doce do que imaginam. - respondeu o senhor Croner com um sorriso.
- Voltando ao assunto, vocês estão aqui porque os três passaram na prova de ontem. Lembram-se, não é? A prova que lhes concede uma bolsa para estudar na melhor escola deste lugar, bem aqui pertinho, também conhecida como "School Of The Century". Temos uma grade de ensino vasta e muito ampliada. Embora nossa escola seja particular, sabemos que há muitos talentos nesta cidade cujos pais não têm condições de arcar com nossa mensalidade. Essa escola em que vocês estudam (administrada pela querida diretora) tem se destacado nos últimos seis anos por seus alunos incrivelmente inteligentes que chegam a competir em nível global junto à nossa instituição. Como os três tiraram nota máxima na prova, decidimos que vocês deverão fazer uma redação sobre qualquer tema que desejarem. Mais do que notas, prezamos pela criatividade e queremos que vocês desenvolvam isso. Entreguem a redação para a diretora até sexta-feira e na segunda teremos o vencedor. - concluiu o senhor Croner com seu impressionante discurso.
Naquele momento, fiquei extremamente paralisado; enquanto os outros dois meninos comemoravam, eu apenas conseguia refletir e pensar no que escreveria na redação. Passei o dia todo pensando nisso e, para ser sincero, se eu começasse a estudar na "School Of The Century", teria dificuldades para conciliar estudo, trabalho e compor minhas músicas ao mesmo tempo. No entanto, parar de trabalhar não era uma opção; eu precisava ajudar minha mãe custe o que custasse. Mas também não queria deixar um sonho morrer em vão. Ao chegar em casa, contei a notícia para ela e sua reação me surpreendeu um pouco.
- Mãe, podemos conversar um pouco? É meio complicado - falei para minha mãe.
- Claro, filho! Sente-se e me diga: o que aconteceu? Você passou o dia calado desde que chegou do trabalho - respondeu minha mãe.
- Mãe, eu passei na prova da escola! Sabe aquela prova para ganhar uma bolsa para a "School Of The Century"? Eu empatei com outros dois meninos e agora precisamos fazer uma redação sobre qualquer tema e entregá-la até sexta-feira - falei para minha mãe.
- Não posso acreditar! É sério isso, filho? Isso é incrível! Tenho certeza de que você vai conseguir. Você é maravilhoso escrevendo músicas e tenho plena confiança de que também será excelente escrevendo uma redação - respondeu minha mãe.
- Obrigado, mãe. Mas o problema é que, se eu entrar na nova escola, não sei se conseguirei continuar trabalhando e compondo minhas músicas ao mesmo tempo. Não quero deixar nada de lado. Estou preocupado porque nossa situação financeira não está boa. Estamos vivendo praticamente apenas com a aposentadoria da vovó; você ainda está desempregada e não sei o que me deu na cabeça para fazer aquela prova - reclamei para minha mãe.
- Escuta, filho, você é inteligentíssimo e muito talentoso em compor suas músicas; canta super bem e ainda é lindo. As coisas estão realmente difíceis para nós, mas tenho certeza de que vão melhorar. Você pode parar de trabalhar se entrar na nova escola. Isso valerá a pena no futuro, meu filho. E por falar nisso, tenho uma novidade: consegui um emprego! - disse minha mãe, sorrindo de alegria.
- Um emprego, mãe? Como assim? Onde? - indaguei.
- Em um restaurante de luxo a alguns quarteirões daqui. Vou ser garçonete lá e meu salário não será ruim. Ah, e não se preocupe com a vovó; meu turno é só à noite. Então, depois que eu colocá-la para dormir, irei trabalhar. Só precisarei que você fique cuidando dela. Posso contar com você, filho? - perguntou minha mãe.
- Mas é claro que pode, mãe! Eu te amo muito, minha velha - respondi rindo enquanto nos abraçávamos.
Depois da nossa conversa, fui para meu quarto começar a pensar na minha redação; porém, estava vindo um vento gelado do lado de fora. Então fui para minha sacada fechar a porta e dei de cara com Luna em sua sacada me observando.
- Dormindo tarde, hein? - comentou Luna.
- E pelo visto você também - respondi.
- Estou sem sono - disse Luna.
- Nenhum namorado seu quis vir te visitar hoje? - perguntei.
- Pelo visto nenhum aguenta ser vigiado por um vizinho tão idiota quanto você - respondeu Luna enquanto ia para seu quarto.
- Espera, Luna! Me passa seu telefone antes? - pedi.
- Joga um estalinho pra ver se encontra - respondeu Luna com sarcasmo.
Luna fechou a porta e foi para seu quarto dormir. Fui fazer o mesmo e então pensei na possibilidade de escrever uma redação sobre o amor que sentia por ela. Era algo bobo e talvez eu estivesse estragando minha oportunidade de entrar na escola da Luna, mas talvez minhas palavras fossem mais bonitas do que as dos concorrentes.
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Amor Memorial
Roman d'amourO que é o amor? Uma questão tão complexa quanto fascinante, que pode ser tanto uma bênção quanto uma maldição. Sua essência parece flutuar entre a luz e a sombra, dependendo do ponto de vista de quem o observa. A intensidade com que amamos, as inten...