Bella e o Ladrão de almas

Capítulo único

Bella fazia jus ao nome que carregava, pois era tão linda que despertava admiração por onde passava. Ela tinha cabelos loiros, longos e encaracolados; sua pele aveludada e sem uma sarda sequer era uma de suas características físicas mais atraentes. No entanto, eram os seus olhos verdes que realmente chamavam a atenção, pois eram tão expressivos que todas as suas emoções, fossem elas boas ou ruins, se espalhavam ali como um portal para sua alma.

Não era somente a beleza física de Bella que chamava a atenção de qualquer pessoa que tivesse o prazer de conhecê-la. Na verdade, ela possuía uma luz interior que poucas pessoas tinham, e por isso, conseguia fazer qualquer espírito sofredor sorrir.

Filha de um mercador, Bela morava em uma pequena vila no Sul da Inglaterra. Sua casa era humilde, sem qualquer luxo ou ostentação; tudo o que tinham já estava bastante gasto e muito pouco sobrava do dinheiro que seu pai ganhava para que pudessem repor os utensílios quebrados e a mobília velha. Entretanto, havia muito amor entre as quatro paredes finas e feitas de madeira de sua residência, e este era um bem que ninguém poderia tirar deles em hipótese nenhuma.

Para ajudar com as despesas da casa, Bella cultivava flores em um jardim local, o qual conseguira construir com muito trabalho e dedicação. Haviam espécies de todos os tipos de rosas que desabrochavam ali o ano todo, e tanto pessoas da vila quanto de outros lugares mais distantes apareciam no jardim para apreciar e comprar suas flores.

Desta forma, a vida cumpria seu ciclo, enquanto a garota iluminada levava seus dias com alegria e tranquilidade, sem saber que toda aquela calmaria tinha prazo de validade.

Não tão longe dali, em um castelo onde parecia que o inverno residia, morava uma bruxa chamada Shamira. Assim como Bella, ela era linda, mas o que tinha de beleza também tinha de maldade. Seus cabelos escuros eram lisos e brilhantes, seu rosto era perfeito, sem as costumeiras marcas do tempo, comuns para uma mulher tão antiga quanto ela, mas seus olhos eram frios, como se a morte tivesse feito sua morada ali.

Shamira tinha uma inteligência afiada, adquirida por milênios habitando neste mundo, e talvez fosse essa sua arma mais poderosa, se também não tivesse a inveja como sua principal ruína.

A bruxa descobriu por acaso sobre Bella, por meio de seu espelho mágico, que sempre lhe mostrava o que queria saber. O ódio, assim como a cobiça, fizeram com que a escuridão tornasse sua alma ainda mais tenebrosa, pois o espelho a fez acreditar que Bella era um obstáculo que deveria ser vencido para que toda a beleza do mundo fosse só de Shamira. Contudo, o espelho, que era seu súdito mais fiel e também seu escravo, tinha um plano para se livrar de seu cativeiro milenar e atiçou o ciúme de Shamira pela camponesa de alma angelical.

Ansiosa para acabar com aquela ameaça, a bruxa se disfarçou de mortal e foi até o jardim de Bella, se passando por uma compradora. A menina, que regava um canteiro de rosas, quando viu a mulher elegante entrar em seu local de trabalho, disse:

— Bom dia, posso ajudá-la?

— Bom dia, minha linda, menina. Procuro uma espécie de rosas muito rara. Será que a encontrarei neste jardim magnífico? — Samira perguntou, disfarçando seu olhar de ódio, enquanto observava com cobiça a juventude de Bella, que parecia o próprio sol em um dia de chuva. Esse fato fazia Shamira invejá-la ainda mais.

— Eu tenho muitos tipos de rosa aqui, talvez eu possa ajudá-la. Qual é a espécie que procura? — Bella perguntou, prestativa.

— Eu quero uma rosa negra. — A bruxa disse, com um sorriso simpático, que no fundo, escondia sua faceta mais perversa.

— Rosa negra? Que pena, essa espécie eu não tenho, mas se quiser, posso mostrar as que cultivo aqui. — Bella ofereceu.

— Está bem. Me mostre. Quem sabe eu não me interesse por alguma, embora a negra seja a que eu mais desejo. — Shamira disse, esperando o momento certo para colocar seu plano em prática.