Angels Like You

01.

22 de março | Segunda-feira

Que diabos! Meu dia já começou péssimo. Modéstia a parte, estou ansiosa para a entrevista, mas precisava mesmo ser tão longe?

Minha família é do interior, a cidade grande fica umas duas horas da minha casa. Meu pai é carpinteiro e minha mãe dona de casa. Somos uma família humilde, mas nunca faltou esperança e amor. Esta oportunidade vai mudar nossas vidas.

Vocês devem estar se perguntando o que está acontecendo, não é? Bom, vou explicar. Meu nome é Amélia Parks, tenho 18 anos e estou prestes a entrar na agência de modelos mais famosa de Miami: "LuxeStar Models". Meu deus, nunca achei que chegaria tão perto desse prédio. Ele é simplesmente incrível. Sua estrutura remete aos tempos antigos, a decoração aparenta ser dos anos 80. Provavelmente estão em algum mês festivo ou algo assim. Todas as pessoas que saíam do prédio estavam vestidas adequadamente, são pessoas de uma classe bem melhor que a minha, isso eu tenho certeza.

Bom, voltando, ano passado me inscrevi em um concurso de modelos. A garota que tivesse mais potencial e votos, iria ser patrocinada pela LuxeStar. E acreditem se quiser, eu fui a sortuda. Mas ainda preciso passar por uma pequena entrevista, querem ver se eu realmente tenho o jeito.

Respiro fundo quando minha mãe também sai do carro e seguro em sua mão. Seja o que Deus quiser. Entro no enorme prédio com ela e vamos juntas caminhando até a recepção. Ninguém aqui neste lugar parece estar contente, cadê o sorriso desse povo gente? De onde eu venho, chega a ser pecado não ser gentil e andar com um sorriso no rosto. Faço um pequeno barulho com a garganta para a recepcionista perceber que estamos ali. Assim que nossos olhares se encontram, sorrio amigável e me apoio no balcão.

─ Bom dia! Estou aqui para a entrevista com o senhor... ─ Olho para o papel em minha mão, escrevi o nome do cara que vai me entrevistar aqui, é muito difícil de pronunciar esse sobrenome gente. ─ Senhor Leo Dra...ven...

─ Leo Dravenwood? ─ Ela pergunta com um pequeno sorriso no rosto, esta querendo rir, tenho certeza. Você é uma burra Amelia! Como não tentou decorar o nome antes? Confirmo com a cabeça e dou um pequeno sorriso fraco. ─  Décimo primeiro andar.

─ Obrigado! Tenha um ótimo dia.

Sorrio amigável e puxo minha mãe até o elevador. Não sei como achei que poderia ser melhor que alguém e passar neste teste. Eu ao menos consigo pronunciar o nome do cara, como vou passar nessa merda de entrevista? Entro no elevador com a minha mãe e aperto o botão.

─ Já nos fez passar vergonha, meus parabéns amelia.

Ótimo. Já consegui fazer a minha mãe ficar furiosa. Não a levem a mal, mas eu nunca fui uma menina de dar orgulho para os meus pais. A relação deles é um pouco complicada e eu só complicava ainda mais a situação. Tirava notas baixas na escola, contava mentiras, saía escondido. Mas eu tinha meus motivos ok? Eles não me deixavam fazer quase nada.

Assim que o elevador parou, eu saí primeiro e logo depois a minha mãe também saiu. Ele abriu direto em uma sala gigante. Uau, só isso aqui é maior que a minha casa. Um homem estava com um cigarro na mão e olhando a janela, estava de costas para nós duas. Não sabia se já tinha notado nossa presença, mas resolvi ficar quieta. Diferente da minha mãe, que já abriu o bico no mesmo segundo.

─ Onde já se viu fumar em um lugar tão reservado assim?

PUTA QUE PARIU! Ela está doida??? Eu sei que ela tentou falar baixo, mas seu tom de voz não ajuda nem um pouco nisso. Meu deus, e se for outro participante. Acho que não é o senhor Dravenwood, ele não estaria fumando enquanto nos espera, nao é? Por favor, que não seja ele. Minha mãe nunca vai me deixar ficar com um homem de negócios que age assim.

─ Perdão senhorita, as vezes não consigo controlar a vontade.

O homem alto apaga o cigarro em uma planta que tinha perto da mesa e vira de frente para nós. Meu deus, ele é alto. Muito alto. Eu chuto que deve ter uns dois metros ou mais. Está vestido em uma camisa social preta e calça preta. Seu cabelo está penteado para tras e a manga de sua blusa está dobrada. Uau, ele é lindo. Qual é, Amélia? Lindo? Ele é um Deus grego. Agora está explicado o motivo desta agência só ter modelos bonitos. Olha para esse cara.

─ Bom dia. Amélia Parks?

Seu olhar para em mim. Seus olhos são castanhos e hipnotizantes. Acho que se eu olhar por muito tempo, vou me apaixonar. Pisco algumas vezes para voltar ao normal e dou um sorriso singelo. Estico minha mão para cumprimentá-lo e ajeito minha postura.

─ Prazer, senhor Dravenwood. Sou Amélia Parks, é um prazer imenso conhecê-lo.

Assim que minha mão toca na sua, um arrepio passa por todo meu corpo. Seu olhar parece querer me devorar. Em momento algum ele tirou os olhos dos meus, desde que entrei. Não sei se é certo, mas gostei dessa sensação. O QUE?? pirou sua idiota???? Ele é seu chefe! Volto para a realidade e afasto nossas mãos. Ele cumprimenta minha mãe e nos convida para sentar em frente da sua mesa. Sento logo depois da minha mãe e pego todos os documentos que ele pediu.

─ Espero que tenha consciência de que esta é uma oportunidade única dona Amélia. Muitas adolescentes gostariam de estar no seu lugar. De simplesmente ser modelo da maior agência de Miami, Sem ter nenhum custo. ─ Em momento algum ele olhou para a minha mãe, acho que ignorava a presença dela e imaginava que apenas eu estivesse ali. Ok, acho que estou pirando. Melhor parar de pensar essas besteiras do meu futuro chefe. ─ Bom, você ficará hospedada com sua mãe em um dos melhores hotéis de Miami, com tudo pago. Todos os dias da semana virá para a agência e fará uma sessão de fotos. Sendo essas com roupas de marcas, sapatos de marcas, roupas de praia, lingerie...

─ Lingerie? ─ Minha mãe o interrompe. Era só o que faltava gente. ─ Minha filha não vai desfilar seminua por aí.

─ Mãe, menos. Eles são super profissionais, são apenas fotos.

─ Não tem conversa, Amélia! Não vai andar que nem uma vagabunda e ser ofendida pela cidade. Sabe como as pessoas de lá são.

Ótimo. Ela acabou de destruir meu sonho, como ela consegue fazer isso com tanta facilidade? Olho para os meus próprios pés e engulo o choro. Leo parecia não ter nenhuma expressão facial, estava parado, apenas olhando para nós duas.

─ Sua mãe está certa, Amélia. Existem pessoas maldosas por aí. Mas não somos nós. Temos uma equipe totalmente profissional e qualificada para isso. Não haverá nenhum erro e sua filha não será exposta. São apenas fotos profissionais para capas de revista. Estamos falando de muito dinheiro, sabia? Tem minha palavra que não vai acontecer nada de errado com ela. Podemos fechar o negócio?

Minha mãe o olhou e depois olhou para mim. Respirou fundo e confirmou. AI MEU DEUS, ELA ACEITOU? Sorrio e abraço ela. Sou uma modelo agora. Vou realizar meu sonho.

Ou vai se tornar um pesadelo.