Sim, sou eu

243 20 4
                                    

- Não importa o quanto vocês tentem ou o tanto de gente que me apoia lá fora... Chega uma hora que não dá, pô. Eu... Eu não consigo mais. - balbuciou Francisco, em meio às lágrimas, antes de tapar o rosto com as mãos e deixar o choro sair barulhento e doloroso.

- E tu vai deixar a tua vida passar, moleque? - disse Ramon, puxando o amigo para um abraço apertado. Francisco sempre sentiu como se o amigo fosse um irmão mais velho para si - Você tem tanto pra viver e tantas coisas pra acertar! Não para tua vida não. - ele acariciava os cabelos, agora negros, de Francisco, tentando acalmá-lo.

Naquele momento, Maciel, que encarava a cena de longe no estúdio, suspirou pesado e pegou o celular de Francisco sobre a mesa de gravação do Aqueles Caras. Ele já sabia a senha e o desbloqueou em segundos. Ele encarou a cena mais uma vez, com um semblante triste e o coração partido. Sua sensibilidade sempre foi um dom.

Ele viu que Chico tinha o aplicativo Tinder baixado e entrou ali, vendo que ele estava logado e havia dado match com muitas garotas. Ele sabia o porquê de ele estar assim. Ele passou os olhos por aquelas mensagens e notou que, não somente os participantes do programa fizeram brincadeiras sobre seu passado, mas a maioria das garotas que ele tentava conversar... Em meses.

- O que houve dessa vez? - questionou Beltrão, tocando o ombro do amigo.

- Eu vi Chico surtar logo depois de checar o celular no fim das gravações de hoje. - explicou o ruivo, suspirando - Ele tá tentando, cara. Ele tá tentando seguir em frente. Mas parece que todo mundo fica jogando na cara dele o que aconteceu com a Luísa e não quer nem dar uma chance. - ele mostrou a tela do celular à Beltrão - Ele não consegue nem ir pra um maldito date pra se divertir ou esfriar a cabeça. - ele suspirou e jogou o celular de Chico sobre a mesa novamente.

- Vamos tentar ajudar ele agora. É o melhor que a gente pode fazer. Vamo pega aquele lanche que ele adora! - Beltrão confortou o amigo, antes de ambos buscarem uma garrafa de água e o lanche favorito de Francisco para dar a ele.

O que os dois não notaram é que, ao mexer na tela para sair do aplicativo, Maciel sem querer deslizou para o lado e deu match com mais uma garota. Sim, mais um match no perfil fracassado de Francisco Veiga. O traíra e cafajeste do Brasil. O aquariano nato que ninguém parecia querer após toda aquela polêmica. Mesmo após tanto tempo e tantas tentativas.

- Eu levo ele pra casa. - disse Maciel, escoltando Chico para fora dos estúdios. Moedas tinha a cabeça baixa e cobria quase todo rosto com um boné preto. Ele sequer se despediu direito de todos - Você quer ficar lá em casa um pouco? A gente pode jogar conversa fora, jogar algum jogo... - tentou conversar, assim que notou o silêncio doloroso dentro do carro.

- Me leva pra casa, por favor, Maciel.

O ruivo assentiu e não disse mais nada diante da resposta ríspida e fria de Chico.

- Desculpa. - pronunciou apenas alguns segundos depois - Eu não tô legal.

- Eu sei, eu sei. Não se preocupa. - Maciel sorriu levemente e tocou o ombro de Francisco, em sinal de apoio e entendimento.

Francisco tinha se mudado para um pequeno apartamento, sozinho, havia alguns meses, no intuito de recomeçar. Contudo, aquele lugar, por mais vivo que pareça com plantas e um estilo rústico e brasileiro, nunca havia visto outro corpo além do de Francisco e seus amigos. E ele não tinha previsão para quando uma mulher pisaria ali.

- Me liga se precisar de alguma coisa. - disse Maciel, tocando o ombro do amigo, assim que estacionou em frente ao condomínio chique, mas que também exalava o jeito simples e confortável de seu amigo.

- Valeu, valeu.

Ele sorriu fraco e saiu do carro, acenando antes de entrar. Ele ergueu a mão e acenou ao Seu Zé, porteiro tão querido do prédio.

Fingir sem FugirOnde histórias criam vida. Descubra agora