Safira ajeitava suas poucas roupas na gaveta de madeira envelhecida, enquanto olhava para Clara, que também havia passado na seleção. Ambas compartilhariam aquele pequeno quarto, simples e funcional, mas para Safira, aquele espaço significava muito mais: era o início de uma nova vida.
"Você também passou?", Safira perguntou, tentando disfarçar o nervosismo. Era uma mistura de alívio e ansiedade.
Clara sorriu, seus olhos brilhando com um misto de cansaço e satisfação. "Sim, conseguimos. Agora só temos que nos manter fora de problemas e sobreviver à governanta."
As duas riram, ainda que discretamente. Apesar de estarem ali juntas, sabiam que o caminho à frente seria difícil. A pressão para serem perfeitas seria constante, e os olhares críticos não seriam poucos. Mesmo assim, era melhor do que qualquer alternativa que o subúrbio oferecia.
"Isso é mais do que imaginei para mim," murmurou Safira, meio que para si mesma. "É uma oportunidade de mudar tudo."
Antes que pudessem continuar conversando, ouviram a batida na porta, e a governanta entrou com sua habitual expressão séria. "As novas criadas devem se reunir no salão principal agora. Vamos revisar as regras da casa e definir seus deveres. Sejam pontuais."
Clara piscou para Safira, num gesto que parecia dizer "Estamos juntas nisso", e ambas seguiram a governanta com passos apressados.
...
Do outro lado da mansão, Edgar de Vere estava imerso no ambiente sombrio e austero de seu escritório. O som suave da pena riscando o papel preenchia o silêncio, enquanto ele revisava documentos de terras e propriedades. A responsabilidade que carregava como conde era imensa, e os detalhes burocráticos, embora tediosos para alguns, eram essenciais para manter seu poder e influência.
Seu olhar se desviou momentaneamente para a janela, onde os jardins extensos da mansão pareciam um mundo à parte. Para muitos, a vida na nobreza era vista como uma existência de luxo e despreocupação, mas Edgar sabia que as aparências eram enganosas. A nobreza estava sempre em constante vigilância — tanto de seus pares quanto dos empregados.
Ele tinha uma visão clara da sociedade. Embora estivesse no topo, cercado por riqueza, Edgar não nutria ilusões sobre as intenções de quem o rodeava. Cada ação, cada palavra trocada nas festas ou reuniões da nobreza, era uma manobra calculada. Lealdade genuína era algo raro, e as intrigas sociais eram constantes.
Para ele, tudo era um jogo de poder e controle. Não havia espaço para fraqueza. Ao contrário de muitos nobres que se deixavam levar pelo conforto, Edgar tinha uma determinação fria que o tornava respeitado — e temido.
Ele suspirou e voltou aos seus papéis. O mundo à sua volta podia ser imprevisível, mas ali, entre contratos e cifras, ele mantinha o controle.
..
No salão principal, o grupo de novas criadas se posicionava em silêncio enquanto a governanta, Margaret, caminhava à frente delas com passos firmes. Seu olhar austero pairava sobre cada uma, como se já soubesse quem ali se destacaria e quem poderia ser um problema no futuro.
"Ouçam com atenção," começou Margaret, a voz carregada de autoridade. "Esta mansão tem suas regras, e é crucial que cada uma de vocês as siga à risca. Qualquer deslize, por menor que seja, não será tolerado."
Ela parou por um instante, permitindo que o peso de suas palavras afundasse nas mentes das criadas. "Há áreas nesta casa que exigem mais do que simples limpeza. Existem salas e aposentos onde apenas aqueles que conquistarem minha confiança poderão entrar. Esses lugares são de importância vital para o senhor Edgar de Vere e devem ser tratados com o máximo de respeito e discrição."
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Sob o olhar da nobreza
ChickLitNo século XIX, Safira, uma jovem empregada do subúrbio, recebe uma oportunidade que pode mudar seu destino: um teste para trabalhar na imponente mansão do conde Edgar de Vere. Ao cruzar os portões de ferro da propriedade, ela se vê em um mundo de op...