Cap. 4

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Capítulo 4: Vittorio Moretti

O silêncio permeava o convento, quase ensurdecedor. Yoongi percorria os corredores, sua mente afundada em pensamentos pesados. As últimas semanas haviam sido estranhas e desconcertantes — a noite em que presenciou a madre e o padre em uma situação que não conseguia descrever. Algo parecia fora de lugar, mas ele não conseguia identificar o que era.

Yoongi fora encarregado de limpar os aposentos do padre Jeon. Enquanto organizava o quarto mais uma vez, seus olhos observavam os detalhes austeros do ambiente. Tudo estava sempre meticulosamente arrumado, como se Jeon quisesse esconder qualquer traço de sua presença ali. Essa ordem excessiva o inquietava, como se houvesse algo oculto.

Um suspiro profundo escapou de seus lábios enquanto arrumava a escrivaninha ao lado da cama. Ao deslizar a mão sobre a superfície, sentiu uma leve saliência. Seus dedos hesitaram. A gaveta estava levemente entreaberta. Por um breve instante, ele hesitou. Seu coração acelerou.

Yoongi sabia que deveria continuar seu trabalho, ignorar o que vira. Mas uma força irresistível o atraía, um desejo de descobrir o que Jeongguk escondia. Ele puxou a gaveta e encontrou alguns papéis, ordens do convento e... uma fotografia.

Suas mãos começaram a tremer ao desdobrar a imagem amassada.

Seu coração parou.

Ele reconhecia aquele sorriso, aquele rosto, aquele momento.

Era ele. Yoongi, aos dez anos, ao lado de outro garoto. Jeon Jeongguk. Não havia dúvidas. O tempo não havia apagado aquela memória, por mais que ele tentasse enterrar o passado. As risadas, as corridas pelo campo, os sonhos de infância... e, em seguida, o abandono.

A dor familiar se instalou novamente em seu peito, como uma lâmina cravada lentamente. O mundo ao seu redor parecia desvanecer enquanto ele fixava o olhar na foto, perdido entre o presente e o passado.

Como pôde? Como Jeongguk teve coragem de permanecer em silêncio todo esse tempo? De agir como um estranho? A raiva fervia dentro de Yoongi, entrelaçada a uma dor tão profunda que mal conseguia respirar.

De repente, passos ecoaram pelo corredor. Yoongi recolocou a foto na gaveta, tentando controlar sua respiração. Mas já era tarde. Jeongguk entrou no quarto.

— Yoongi? — Sua voz, tão familiar, soou distante.

Yoongi virou-se lentamente, seu olhar furioso cravado em Jeongguk. Por um breve momento, Jeongguk pareceu paralisar, como se pressentisse que algo estava errado.

— O que você está fazendo aqui? — A voz de Yoongi saiu baixa, mas carregada de amargura.

Jeongguk franziu o cenho e deu um passo à frente, mas Yoongi recuou, seu peito subindo e descendo rapidamente, uma tempestade de emoções ameaçando transbordar.

— O que você quer dizer? — Jeongguk perguntou, confuso, mas algo em seu olhar indicava que começava a entender.

— Por que você está fingindo ser outra pessoa? — Yoongi gritou, sentindo as palavras rasgarem sua garganta. Ele não se importava mais se alguém ouvisse. Toda a sua mágoa, o abandono, tudo veio à tona de uma vez. — Eu sei quem você é, Jeon Jeongguk. Eu vi a foto!

O peso de suas palavras pairou no ar. Jeongguk ficou paralisado, seu rosto normalmente impassível agora revelando um breve momento de vulnerabilidade.

Yoongi viu a verdade nos olhos dele antes mesmo de ouvir sua resposta.

— Yoongi... — Jeongguk começou, sua voz baixa, mas repleta de um peso que Yoongi não conseguia ignorar. — Eu não queria que você descobrisse assim.

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