Chovia. A chuva molhava os seus ombros.
Desculpem-me, não chovia, fazia sol.O sol pesava sobre os seus cabelos curtos, descia sobre o seu rosto, do pescoço ia às tetas, descobertas, e à barriga, uma barriga um tanto fora do comum, talvez pelo excesso de informação que recolhera de onde fora enviada para espionar, já que se dizia ser membro dos Al Qaeda, ou talvez fosse gravidez, não estava claro aos que a acompanhavam.
O sol corria pelas suas pernas cansadas, que eram forçadas a correr com ele, voluntariamente. Voluntariamente forçada. O sol corria das suas pernas ao chão, ao alcatrão, que aquecido e mal agradecido pelo sol que lhe foi dado, devolvia aos pés da corredora, aquela que já nem sabia se sentia as queimaduras, as dores da posterior violação sexual, o sol agridoce bailando em sua pele ou o pau que a forçava voluntariamente a fugir.
(Imagina que estás cansado, cansado de correr, cansado de sofrer, cansado de viver, e vem um pau, que dói nas pernas um pouco mais que as pernas, o que farias? Voluntariamente, levantarias para correr, ainda cansado, porém estarias a ser forçado).
Ela corria descalça no pé, no corpo mas não descalça na alma.
Dizia então em silêncio, ao seu filho: "Quando nasceres, não seja como esses brutos, nascidos dos deuses, que nessa penitência acham-se exorcizando um demônio."
Ela ouvia os seus passos, pesados, vindo em direção dela e recordava dos passos do homem que amou, aquele que tomou seu coração. Recordava também dos passos do seu pai, que também a amara.
Pensou: "Devemos ser todos demônios, e eles os legítimos filhos dos deuses, ESCOLHIDOS."
Pesnsou: "HÁ ESCOLHIDOS!"
Enquanto a vara tocava na sua barriga, que, a todo custo, ela tentava proteger, pensava: "Querido filho, quando nasceres, aliás, se nasceres, não seja como esses brutos, nascidos dos deuses, que nessa penitência acham-se exorcizando um demônio."
Ouviu então a trovoada que aliviaria as queimaduras, a trovoada era em sua mente, que já estava mais cansada que qualquer um dos seus membros, pois eram os filhos dos deuses manipulando as suas armas.
A rajada de tiros veio como chuva, que no primeiro toque assustara-a, mas depois aliviara toda e qualquer dor, quando no último suspiro do seu pensamento ela disse ao seu filho: "Quando nasceres, não seja como esses brutos, nascidos dos deuses, que nessa penitência acham-se exorcizando um demônio."