Sozinho Cê Num Guenta, Sozinho Cê Num Entra a Pé

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Capítulo 80: Sozinho Cê Num Guenta, Sozinho Cê Num Entra a Pé

A noite caía lentamente, e as luzes da cidade se acendiam uma a uma, como estrelas artificiais que piscavam em um céu de concreto. Eu caminhava pelas ruas, sentindo o peso do dia e as batalhas internas que nunca pareciam terminar. A verdade que eu sabia, e que muitos não queriam aceitar, era que sozinho, cê num guenta, sozinho, cê num entra a pé.

Olhar para os lados me fazia lembrar das várias vezes em que tentei lutar contra as marés da vida sem ninguém ao meu lado. Lembro-me de quando eu achava que podia dar conta de tudo, de quando a coragem me parecia suficiente para enfrentar qualquer desafio. Mas a realidade é que, na maioria das vezes, a solidão pesa mais do que as correntes de um passado que não se apaga.

"Ei, mano!" gritou alguém de uma esquina. Era um amigo de infância, o Leo, que sempre tinha um sorriso no rosto, mesmo que a vida não fosse fácil. "Tô aqui, esperando a galera pra gente dar uma volta. Você vai ficar aí pensando ou vai se juntar a nós?"

Olhei para ele e percebi que, por mais que a solidão me chamasse, ter alguém ao meu lado tornava tudo mais leve. A vida na quebrada ensina que, apesar de todos os pesares, é a coletividade que faz a diferença. Olhando para Leo, eu me lembrei das noites em que ficamos acordados, conversando sobre sonhos e medos. Era assim que enfrentávamos a vida, juntos.

"Vamos lá," respondi, e em um instante, as sombras da solidão começaram a se dissipar. A rua estava viva, e havia risadas e histórias sendo contadas, como se o tempo não importasse.

Enquanto caminhávamos, Leo me contou sobre as últimas novidades: a nova roda de rap que estava rolando no centro, onde as vozes de nossos amigos ecoavam como um grito de resistência. "Cê sabe que só tem valor quando tá junto da quebrada, né?" ele disse, com um brilho nos olhos. "Vamo mostrar pra eles que, sozinho, a gente não é nada, mas juntos, somos tudo."

Concordei, sentindo uma onda de energia positiva. A vida na favela pode ser uma batalha constante, mas com os amigos, as dificuldades pareciam mais suportáveis. Era como se, ao unir nossas forças, criássemos um escudo contra as adversidades.

Passamos pelo barulho da festa, pela agitação da praça. O cheiro de comida misturava-se com o aroma do asfalto molhado pela garoa que caía, e eu sentia que a vida pulsava ao nosso redor. As risadas e os gritos de alegria ecoavam, e eu sabia que, ali, em meio àqueles que amava, havia uma força maior.

"Se não tiver um, não vale," Leo disse, e a verdade de suas palavras ecoou em minha mente. Era mais do que uma frase; era um lema. E naquele momento, percebi que a luta não era apenas minha; era nossa. As experiências compartilhadas, as feridas curadas juntas, tudo isso nos tornava mais fortes.

E assim seguimos, entre risadas e sonhos, sabendo que, independentemente do que viesse, estávamos juntos nessa caminhada. Sozinho cê num guenta, sozinho cê num entra a pé.

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