capitulo unico

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Certa vez, nas profundezas de uma vasta savana, vivia um leão chamado Majar, conhecido por sua força imbatível e seu rugido que fazia as árvores tremerem. Majar era respeitado por todos os animais, não apenas por sua coragem e poder, mas também por sua sabedoria. Contudo, apesar de tudo isso, havia uma coisa que Majar nunca havia conseguido ter: a leveza e a liberdade dos pássaros.

Todas as manhãs, ao amanhecer, Majar acordava ao som dos cantos harmoniosos das aves que sobrevoavam sua caverna. Ele observava os pássaros riscarem o céu, dançando com o vento e explorando as alturas, indo para onde quisessem. Os pássaros podiam ver o mundo de cima, planando sobre montanhas e rios, algo que Majar jamais poderia fazer. Ele, apesar de ser o rei da terra, estava preso ao chão.

Um dia, o leão, cansado de observar a liberdade dos pássaros com olhos invejosos, tomou uma decisão. "Se eles podem voar, por que não eu?", pensou Majar. "Sou o mais poderoso de todos os animais! Não há nada que eu não possa conquistar, e isso inclui o céu."

Determinado a realizar seu desejo, Majar começou sua jornada. Primeiro, procurou os mais sábios da savana em busca de conselhos. Foi falar com Mavuto, a coruja anciã, que todos diziam conhecer os segredos do céu.

— Mavuto, — disse Majar com confiança — você que conhece os mistérios do ar, me ensine a voar. Quero subir aos céus e ver o mundo como você e os outros pássaros fazem.

A coruja, com seus olhos profundos e cintilantes, olhou para o grande leão por um longo momento antes de responder:

— Oh, Majar, você é o rei da savana. Seus pés foram feitos para correr pela terra e seu rugido para dominar o horizonte. O voo é uma habilidade dos pássaros, não dos leões. Aceitar suas próprias capacidades é a verdadeira sabedoria.

Mas Majar, determinado e teimoso, não aceitou aquelas palavras. Ele se despediu da coruja e continuou sua busca, certo de que poderia encontrar uma maneira de alcançar os céus.

Em seguida, Majar visitou Kubu, o abutre que voava tão alto que parecia uma mancha no céu. Kubu era conhecido por passar dias nas alturas, observando a savana de uma distância quase inimaginável.

— Kubu, ensine-me a voar como você. Quero sentir o vento sob minhas patas e ver o mundo lá de cima.

Kubu, que raramente falava, observou Majar com seus olhos penetrantes.

— Leão, o céu pertence aos que têm asas. O vento não sustentaria seu corpo como sustenta o meu. Cada criatura foi feita com suas próprias forças e fraquezas. Use as suas para conquistar a terra, como sempre fez, e deixe o céu para os que nasceram para ele.

Mas Majar, novamente, ignorou o conselho. Ele decidiu que, se os outros não o ajudariam, ele encontraria uma maneira por conta própria. Começou a treinar com todas as suas forças. Tentava saltar de penhascos altos, estendendo suas patas na esperança de que, com velocidade e impulso, o ar o carregaria como carregava as águias. Mas, toda vez que saltava, ele caía de volta no chão com um baque doloroso.

Dias se passaram, e o leão estava cada vez mais exausto, com cortes e arranhões no corpo. Ainda assim, não desistia. "Só preciso tentar mais uma vez", pensava. "Dessa vez, eu conseguirei."

Até que, numa manhã, após uma noite de tempestade, Majar escalou uma montanha ainda mais alta que as outras. Ele estava certo de que dessa vez voaria. A altura era assustadora, mas sua determinação era maior. Ele correu e saltou com toda a sua força, estendendo as patas, sentindo o vento bater em seu rosto.

Por um breve momento, sentiu-se no ar, suspenso. Mas, logo depois, o peso de seu corpo o puxou para baixo com força. Majar caiu, rolando pela encosta da montanha, até bater com força no chão. Seus ossos doíam, e seus músculos estavam cansados. Ele ficou deitado na grama, olhando para o céu, vendo os pássaros passarem livremente por cima dele, como sempre fizeram.

Foi ali, deitado no chão, que finalmente compreendeu. Não importava o quanto ele tentasse, ele nunca seria um pássaro. Ele era um leão, feito para a terra, feito para governar o que estava abaixo dos céus, não acima deles.

Naquele momento, Majar aceitou que sua grandeza não estava em tentar ser algo que não era, mas em ser o melhor daquilo que ele já era. Ele era o rei da savana, com garras afiadas, um rugido poderoso e a habilidade de correr como o vento. O céu não era seu domínio, mas a terra era — e isso era o suficiente.

De volta à savana, Majar se levantou com dificuldade e caminhou lentamente para casa. Ao passar por Mavuto, a coruja anciã, ela observou o leão com um olhar de compreensão.

— Agora você sabe, Majar, — disse ela calmamente — há sabedoria em reconhecer seus próprios limites.

Majar assentiu, finalmente em paz com aquilo. Ele podia não ser capaz de voar, mas sabia que, no chão, ele era incomparável. E isso bastava.

Moral da Fábula:

Cada um tem suas próprias forças e habilidades únicas. O desejo de ser o que não somos pode nos cegar para o que já temos de valor. Aceitar nossas limitações é, na verdade, uma forma de reconhecer e valorizar quem realmente somos.

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⏰ Última atualização: Oct 14 ⏰

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O Leão que Queria VoarOnde histórias criam vida. Descubra agora