Capítulo 5 - A Conversa

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Paul fez um gesto com a cabeça para que eu o seguisse, e eu imediatamente o acompanhei. Entramos em sua casa, um espaço acolhedor que exalava o aroma reconfortante de café fresco. O ambiente tinha uma mistura de simplicidade e calor, com paredes decoradas por fotos de momentos familiares e algumas prateleiras cheias de livros, dando a impressão de que ali vivia alguém que valorizava tanto as memórias quanto o conhecimento.

Pela aparência da casa, parecia que Paul morava sozinho, mas essa ideia foi rapidamente desfeita quando ouvi uma voz feminina ecoar do andar de cima. “Paul! Você está aí?” A mulher chamou com um tom familiar e preocupado. Paul hesitou por um momento, olhando para mim com uma expressão de preocupação

—  Um minuto  —  ele disse antes de subir vagarosamente pela escada, seus passos pesados quebrando o silêncio da casa. Eu fiquei parada na sala, observando-o desaparecer no andar de cima enquanto a ansiedade crescia dentro de mim.

Enquanto permanecia na sala, observei o sofá amarelo, a mesa de madeira no centro, a lareira não usada há alguns dias e, por cima, vários porta-retratos. O ambiente exalava um ar de como se cada objeto ali guardasse memórias preciosas e dolorosas ao mesmo tempo. Ousada, me levantei e me encaminhei para a lareira, atenta aos quadros que adornavam as prateleiras.

Encarei a fotografia no centro, uma imagem alegre de Richy segurando um peixe enorme, ao seu lado estava seu pai, ambos parecendo felizes. Um aperto no coração me fez hesitar, mas continuei a examinar os outros quadros.

Em um deles, todos estavam reunidos no Aurora Bar, em uma celebração de Ano Novo. Richy estava na ponta da mesa, com os braços abertos como se estivesse abraçando o mundo. Dan estava ao seu lado, seguido por Thomas, Hannah, Cléo, Lilly e Jessy. Eu quase podia ouvir os ecos das conversas animadas e as taças tilintando. Mas agora tudo parecia tão distantene frio.

Uma lágrima percorreu meu rosto quando observei outro registro  — Richy em sua calça jeans surrada e o uniforme do ferro-velho. Ele estava ao lado de Jessy em frente ao imóvel; ambos sorriam abraçados de lado. Um nó se formou em minha garganta; a felicidade daqueles rostos contrastava com a dor que eu sentia agora.

Uma tristeza profunda invadiu meu ser. Queria chorar mais e mais ao ver aquelas fotos; cada sorriso parecia um lembrete cruel do que havia sido perdido. Havia apenas dez dias que Hannah havia sido encontrada e que Richy tinha morrido. O luto era uma nuvem de fumaça que pairava sobre mim, tornando cada lembrança um golpe emocional.

Enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto, percebi que não era apenas a perda de Richy que me consumia; era também a perda da inocência daqueles momentos compartilhados. O peso da dor parecia insuportável e eu sabia que precisava encontrar uma maneira de lidar com isso. Mas naquele instante, tudo o que conseguia fazer era permitir que as lágrimas falassem por mim, cada gota representando um pedaço do amor e da saudade que nunca desapareceria mesmo sabendo que todos nós fomos traídos, Richy ainda significava pra mim.

Finalmente, Paul desceu as escadas novamente, seu rosto refletindo uma mistura de emoções. Ele parecia mais sério agora, como se tivesse encontrado algum tipo de resolução ou clareza na conversa com sua esposa.

—  Vamos conversar  —  ele disse com um tom grave, gesticulando para eu segui-lo até a cozinha onde o cheiro do café ainda pairava no ar.

Assim que me acomodei e Paul me serviu, o silêncio dançava entre nós. Seus cabelos antes louros agora grisalhos balançavam com a brisa fria que entrava pela janela da cozinha ao mesmo tempo que dava vista para o quintal.

—  Quando você chegou?  —  sua voz grossa e fria penetravam meus tímpanos.

—  Ontem por volta das 18 horas  — respondi sem mais detalhes.

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