Capítulo 7

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Maitê despertou ao som estridente do celular vibrando sobre o pequeno banco ao seu lado. O primeiro reflexo foi buscar entender onde estava. As luzes brancas do hospital a lembraram de que não era um sonho. Seus olhos ardiam do cansaço, e seu corpo parecia pesar toneladas. Após uma noite em claro ao lado de sua mãe, que dormia de forma instável, ela mal teve a chance de descansar.

Sem muita energia, ela esticou o braço e pegou o celular. No visor, o nome de Kaila piscava. Sentiu uma pontada de alívio ao ver o nome da amiga.
— Alô... — sua voz saiu rouca, carregada pelo cansaço e pela noite mal dormida.

— Maitê! O que aconteceu? Como ela está? — a voz de Kaila, sempre calorosa, agora vinha carregada de preocupação.
Maitê suspirou, tentando encontrar as palavras certas, mas tudo ainda parecia confuso.

— Ela está... estável, mas é grave. O médico disse que precisamos encontrar um hospital mais especializado.
Kaila ficou em silêncio por alguns segundos do outro lado da linha, processando as informações. Maitê quase podia sentir a amiga planejando o próximo passo.

— Eu vou para o hospital — Kaila disse, finalmente, sem hesitação. — Fico com a sua mãe para você poder ir para casa, tomar um banho, comer alguma coisa... Não adianta nada você ficar aí se destruindo.

— Kaila, eu não sei se... — Maitê começou, mas foi rapidamente interrompida.

— Eu não aceito não como resposta! — a voz de Kaila estava firme. — E Dylan vai me levar. Ele também já está preocupado. Vamos em meia hora, tá?

Antes que Maitê pudesse argumentar, a linha ficou muda. Ela deixou o celular cair no colo e apoiou a cabeça nas mãos. Kaila era sempre assim, teimosa e determinada, mas era exatamente disso que ela precisava agora. Por mais que quisesse ficar ao lado da mãe, sabia que um momento para si mesma faria a diferença.

Suspirando, ela se levantou e olhou para sua mãe. Paloma continuava dormindo, respirando de maneira suave, mas cada respiração parecia um fardo para ela. Maitê sentiu um aperto no peito ao vê-la naquela condição.

Cerca de meia hora depois, Maitê ouviu passos no corredor. Levantou-se de sua cadeira, imaginando que fosse Kaila, mas, para sua surpresa, não era apenas ela. Kaila surgiu primeiro, com seu cabelo preso em um rabo de cavalo, seguida por Dylan, seu namorado. E logo atrás deles, como uma sombra inesperada, estava Henrique.

O coração de Maitê deu um leve salto ao vê-lo. Ela não sabia que ele vinha junto, e o desconforto que sentia toda vez que estava perto dele voltou com força.

Henrique estava com uma expressão séria, os olhos observando atentamente o ambiente ao redor, como se quisesse entender cada detalhe. Ao contrário de Dylan, que parecia descontraído e simpático, a presença de Henrique trazia algo mais denso, algo que a incomodava.

— Maitê! — Kaila exclamou assim que entrou no quarto, correndo para abraçar a amiga. — Como você está?
O abraço de Kaila era como um alívio momentâneo, um lugar seguro no meio do caos.

— Exausta... — Maitê admitiu, tentando sorrir.

Dylan acenou com a cabeça para Maitê, um gesto amigável e compreensivo, enquanto Henrique se manteve em silêncio, encostado na parede ao lado da porta, observando sem dizer nada.

— Bom, você vai para casa agora. Nada de ficar discutindo comigo! — Kaila falou, já assumindo o controle da situação, como era de seu feitio. — Eu vou ficar aqui com sua mãe e com Lucas e Henrique vai te levar para casa.

— Eu não sabia que vocês vinham... — Maitê disse, lançando um olhar rápido para Henrique, que continuava a observá-la.

— Achei que seria uma boa ideia te dar uma força — Dylan respondeu com um sorriso, enquanto Henrique apenas manteve o olhar fixo nela, como se tentasse entender o que ela estava pensando.

— Você precisa descansar um pouco — Henrique disse, finalmente. Sua voz era firme, mas não havia qualquer traço de pressão, apenas uma constatação.

Maitê hesitou. Parte dela queria recusar, não queria depender de Henrique para nada, muito menos para levá-la para casa. Mas outra parte sabia que precisava aceitar. Ela estava exausta e precisava de alguns momentos longe do hospital.

— Ok — ela murmurou, pegando a bolsa e se despedindo de sua mãe com um beijo suave na testa. — Qualquer coisa, me liguem.

Kaila assentiu, sorrindo com suavidade, enquanto Dylan a tranquilizava com um aceno. Maitê olhou para Henrique novamente, sem saber o que esperar.

O caminho até o estacionamento foi silencioso. Dylan e Kaila ficaram no hospital, deixando Maitê sozinha com Henrique. Assim que entraram no carro dele, o cheiro familiar de couro e perfume masculino a envolveu, trazendo à tona sensações conflitantes.

Henrique dirigia em silêncio, os olhos fixos na estrada à frente, mas Maitê podia sentir que ele estava prestando atenção nela. A tensão no ar era quase palpável.

— Você está bem? — ele perguntou de repente, sem tirar os olhos da estrada.

— Estou... só cansada — ela respondeu, olhando pela janela, tentando desviar o foco da presença dele ao seu lado.

O silêncio voltou a se instalar, e Maitê se viu perdida em pensamentos. Não queria deixar que Henrique entrasse em sua vida mais do que já havia entrado. Ele era o tipo de homem que ela sempre evitou: charmoso, envolvente, mas cercado por uma nuvem de mistério e dor. Ela sabia que ele carregava segredos, mas não queria se envolver.

— Sabe... — Henrique começou novamente, interrompendo seus pensamentos. — Se precisar de ajuda com sua mãe, com qualquer coisa, pode contar comigo.

— Obrigada — ela respondeu, sua voz um pouco mais suave desta vez. — Mas eu não quero ser um peso para ninguém.

Ele soltou um suspiro quase imperceptível, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas.
— Você nunca seria um peso.

Maitê sentiu uma onda de emoção subir à garganta, mas rapidamente desviou o olhar para a janela novamente, sem responder. Não podia se dar o luxo de se apegar a alguém como Henrique. Ele era um homem que não buscava compromissos, que mantinha as pessoas à distância. E ela já tinha problemas demais para lidar.

Quando chegaram à casa de Maitê, ela desceu do carro rapidamente, sentindo o alívio de estar de volta ao seu espaço. No entanto, antes que pudesse abrir a porta para entrar, Henrique saiu do carro e a chamou.

— Maitê, espere.
Ela parou e se virou, surpresa por vê-lo andando em sua direção.

— Não precisa enfrentar tudo sozinha — ele disse, parando a poucos metros dela, o olhar firme. — Eu sei que sou o último cara de quem você espera ajuda, mas eu quero estar aqui por você.

Maitê sentiu seu coração acelerar, mas forçou-se a manter a calma. Ela sabia que aquele momento não era o certo. Não podia deixar que sua vida se complicasse ainda mais do que já estava.

— Eu agradeço, Henrique. De verdade. Mas agora eu preciso de um tempo sozinha.

Ele assentiu lentamente, respeitando o espaço que ela claramente pedia.
— Tudo bem. Se precisar, sabe onde me encontrar.

Henrique voltou para o carro, e Maitê entrou em casa, sentindo o peso do dia cair sobre seus ombros. Por mais que tentasse afastar as emoções, sabia que Henrique estava, pouco a pouco, se aproximando de forma inevitável. Ela só esperava que pudesse manter o controle — pelo menos por enquanto.


Me contem o que vocês estão achando da história e o que esperam ler nos próximos capítulos...

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