Anos 90, Século 21, é Desse Jeito

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Capítulo: Anos 90, Século 21, é Desse Jeito

Os anos 90 foram brutos. Quem viveu sabe que cada esquina da quebrada carregava uma história de luta, de dor, de sobrevivência. Não era só sobre crescer, era sobre tentar não morrer antes de ver o próximo dia. Cada passo era uma batalha, cada escolha, uma roleta russa. Mas naquele tempo, o rap era a única voz que nos representava de verdade. Era na batida, na rima, que a gente se enxergava. Nossas histórias estavam lá, sendo cuspidas no microfone. O que ninguém queria ouvir, os caras falavam. Não tinha filtro, não tinha medo.

Mano Brown, Sabotage, Racionais MC’s. Esses eram os professores. A escola do gueto. A nossa educação não vinha dos livros, vinha das fitas K7, das rádios piratas, dos toca-fitas dos carros que passavam. E, porra, como a gente aprendeu. Aprendeu que o mundo lá fora não tava nem aí pra gente. Aprendeu que a justiça nunca foi feita pra nós. Aprendeu que a sobrevivência era uma arte, e a favela, o campo de batalha.

Aí veio o século 21, e as coisas começaram a mudar. Mas não pra todo mundo. O mundo ficou mais rápido, mais digital, mais conectado. Mas lá no morro, o tempo ainda era outro. A violência continuava, o preconceito ainda gritava, e o rap ainda era a nossa arma. Só que agora, com mais vozes, mais ritmos, mais possibilidades. O rap se expandiu, virou o grito de uma geração que já não aceitava mais só sobreviver. A nova geração não queria só rimar sobre o que tava errado, queria mudar o jogo.

E esse é o espírito do século 21. A revolução que começou lá nos anos 90, com os pés no asfalto quente da periferia, agora invade os fones de ouvido, as redes sociais, os palcos gigantes. Os moleques tão crescendo sabendo que podem mais. Sabendo que não precisam só rimar sobre a miséria, mas sobre o sucesso, a conquista. Mas sem esquecer de onde vieram. Porque o rap sempre vai ser o retrato da realidade, e a realidade da favela ainda tá ali, crua, sem maquiagem.

Só que agora, o corre é diferente. O século 21 trouxe novas ferramentas, novas armas. Os moleques tão rimando no YouTube, tão produzindo em casa, tão vendendo shows por conta própria. A favela não é mais só cenário de sofrimento, é também palco de vitória. Eles tão misturando o rap com o funk, com o trap, com o pagode. Tão criando novas identidades, novas formas de se expressar. E isso é revolucionário.

Os anos 90 pavimentaram o caminho, mostraram que a favela tem voz. O século 21 é o grito da vitória. É a favela dizendo que não só vai sobreviver, mas vai prosperar. Vai ocupar os espaços que sempre foram negados, vai criar suas próprias oportunidades. E o rap vai continuar sendo a trilha sonora dessa caminhada. Vai continuar sendo a voz que incomoda, que denuncia, que emociona.

A diferença é que agora, no século 21, o jogo tá mudando. A gente não precisa mais aceitar as regras impostas. A gente tá criando as próprias. Os moleques tão fazendo dinheiro, tão construindo suas vidas, mas sem vender a alma. Tão aprendendo com os erros do passado, mas mirando num futuro diferente. E isso é poderoso.

O rap do século 21 ainda carrega a essência dos anos 90. A revolta, o questionamento, a resistência. Mas agora ele também fala de conquistas, de evolução. Ele mostra que o gueto pode ser palco de grandes histórias, de grandes vitórias. E eu tô vendo isso de perto, acompanhando esses moleques que tão chegando com tudo, cheios de fome, cheios de talento.

É desse jeito. O que começou lá atrás, nas rimas pesadas dos anos 90, agora ecoa no século 21, com mais força, mais alcance. E a favela tá no centro disso tudo. Porque a revolução começou aqui, e daqui, ela vai se espalhar pro mundo inteiro.

Agora, mais do que nunca, é hora de ser visto, de ser ouvido. O século 21 é nosso, e o rap é o caminho.

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