O invasor

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Regra n° 1: todos os competidores devem vir com honra

Faltando uma hora pra fechar, minha única companhia na Lucky Tarven era o proprietário e sua família: sua esposa, três filhos e uma mãe idosa. Normalmente,quando o primeiro dia do torneio de qualificação terminava,multidões de pessoas saiam para as ruas e festejavam até o sol nascer.

Este ano,as massas pegaram atalho para casa,barricaram as portas e trancaram as venezianas. Um nome estava em suas línguas,sussurrado entre uma série de maldições. Os invasores.

Enquanto eu estava sentada no bar,bebendo cerveja morna,o filho mais novo sentou-se ao meu lado. Ele era alguns anos mais velho que eu,dezoito ou mais,e tinha um rosto cheio de espinhas que cheirava a peixe. Seus interesses incluíam trabalhos em madeira,dragões e tentar remover os botões superiores do meu vestido.

-Oh,não,não para mim,pra você.eu não quero fazer você se sentir desconfortável,em uma taberna tão quente e abafada. Sua gola vai praticamente até o queixo!-Ele também gostava de discutir meu rosto,o que "nada mal" pra alguém com tantas sardas-Espera aí,isso é uma cicatriz no seu queixo?O que uma garota legal como você está fazendo com uma cicatriz dessas?

Um sorriso apareceu em meus lábios enquanto imaginava o que ele diria se soubesse o que fiz para ganhar aquela cicatriz. Ou melhor ainda,se ele me visse pelas costas,inevitavelmente,a conversa voltou-se para o torneio de qualificação.

-Você acha que temos bons candidatos esse ano?-Ele disse-Algum futuro cavaleiro de dragão?

Tecnicamente todos tinham duas chances na vida de conseguir um lugar no Festival da Lua de Sangue,mesmo(os nascidos de baixa renda da Toca,o distrito mais pobre do reino).

Primeiro,passe na Avaliação de Prontidão Divina. Os oficiais testaram todas as crianças de nove anos do reino e,se elas tivessem níveis Divino altos o suficiente, uma carruagem as levava para começar o treinamento da corte.

Mas ninguém da Toca passou no DRA há décadas,então a segunda chance era muito mais provável. Aos dezoito anos,vencer o torneio de qualificação.

-Eu não sei-respondi-Eu só fui pela comida.

-Ah-ele bufou-Não fizemos todos?-Comida de graça era uma ocasião rara na Toca. Para muitos,o torneio de qualificação era o único momento no ano em que enchiam a barriga.

Por volta das dez,a esposa do dono começou a se cansar de mim,mas,para ser justa,a mulher parecia cansada da vida. Sua estrutura magra era dolorosa de se olhar,e nos dedos avermelhados estavam trabalhados até os ossos.

-Seu amigo próximo?-a esposa disse.

Desejei não ter visto os nós dos dedos dela. Agora eu continuava imaginando a esposa de joelhos,passando o dia todo esfregando o chão e a noite toda olhando para o teto enquanto dores no estômago a mantinham acordada. Eu sabia muito bem como era isso.

-Querido?- a esposa repetiu parecendo preocupada agora-Seu amigo próximo?

-Você sabe o que é?- eu disse-Eu acho que...acho que cometi um erro. Acho que deveria encontrá-lo em uma taberna diferente.

Mas assim que me levantei,a porta se abriu e Marcus entrou.Ele era magro e desengonçado,mais ou menos da minha idade,e tinha pelo menos cinco piercings em cada orelha. Mas sua característica mais notável era a tatuagem. Sua camisa estava aberta até o umbigo,expondo pelos finos nos peitos e uma caveira de carneiro tatuada no pescoço.

Os olhos da esposa se arregalaram quando pousaram em sua tatuagem-invasor!- ela engasgou. Ela agarrou a velha e correu até o fundo da taberna,escondendo-se atrás da prateleira de bebidas.Os homens levantaram-se de um salto menos o mais jovem,que permaneceu ao meu lado.

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⏰ Última atualização: Oct 16 ⏰

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