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Caminhamos por um longo tempo, até chegar em uma parte um pouco mais afastada da vila. É um campo coberto de mato e capim, com uma casa no centro.

No quintal, um varal cheio de roupas, indicando a existência de moradores ali.

Vejo o rosto de Marceline se encher de esperança na medida que nos aproximamos.

Uma senhora está de costa para nós, mexendo em um enorme cesto de roupas no chão.

–Mãe? –Marcy chama baixinho, e a senhora se vira.

O rosto da garota murcha de repente, e ela recua um passo.

–Hein? –A mulher resmunga confusa.

–Eu te confundi, me perdõe. –Ela murmura, virando o rosto envergonhada.

Não posso evitar sentir pena de Marceline diante dessa situação.

Limpo a garganta.

–Perdão, Senhora. Estamos procurando alguém, os antigos moradores da casa. –Tomo a frente da conversa.

A mulher levanta os olhos para mim.

–Não sabemos de nada dos antigos moradores. –Ela da de ombros respondendo. –Viemos porquê disseram que a casa estava vazia, e meu marido precisava de um lugar para trabalhar. –Aponta para a casa. –Parece que o lugar era da família de um ferreiro, ou algo assim, de qualquer forma, deixou perfeito para meu marido fabricar os objetos para vender.

Balanço a cabeça.

–Seu marido está em casa? Podemos conversar com ele?

A mulher coloca as duas mãos na cintura, adotando uma personalidade defensiva.

–O que querem com meu marido? São mulheres da vida, por acaso? –Ela pergunta acusatória.

Franzo o cenho, sem entender.

–Mulheres da vida? O que é uma mulher da vida? –Pergunto confusa.

A mulher abre a boca furiosa.

–Só podem estar brincando com minha cara. –Ela bufa. –Fiquem bem longe do meu marido, suas assanhadas!

Está balançando as mãos, tentando nos enxotar, quando um homem grande sai de dentro da casa.

–O que está acontecendo aqui? –Ele pergunta, com uma voz grave e grossa.

Respiro fundo, jogando os cabelos para trás. Eu acho que essa mulher tentou me ofender.

–Senhor, desculpe o incômodo. –Começo dizendo, com as palmas para baixo, em um sinal de apaziguadora.

–Essas mulheres estão procurando por você! O que você anda aprontando na rua, Ivaldo? –A senhora se intromete e o homem franze as sobrancelhas.

–Cale a boca, mulher! –Ele fala grosso, fazendo a mulher se calar no mesmo instante.

Sei que aqui na vila, por algum motivos, os homens têm a palavra final. É como no acampamento, onde os homens são os diretores, e as mulheres, luzes.

Solto o ar pelo nariz. Situações de opressão e opressor acontecem em qualquer lugar.

–O que querem? –Ele pergunta, estufando o peito, como se tentasse nos intimidar.

Observo tudo, sem conseguir esconder o desdém.

–Quero saber sobre os antigos moradores. –Falo por fim, tentando deixar a situação para lá.

O homem coça a cabeça careca.

–Não os conheço. Quando cheguei, a casa já estava vazia. –Ele fala, cuspindo no chão.

Esse homem é realmente nojento.

–Realmente não sabe nos dizer nada? –Marcy tenta, falando pela primeira vez depois de seu momento em silêncio.

–Já disse que não. –Ele bufa. –O antigo morador era ferreiro também, assim como eu. Parece que se afundou depois que a filha morreu, ou algo assim.

Levanto as sobrancelhas e encaro o homem diretamente.

–Disse que a filha dele morreu? –Questiono, com uma sensação estranha.

–Foi o que eu disse. –O homem retruca arrogante. –Parece que ela se meteu floresta à dentro e nunca mais voltou.

–O que mais?

Ele me olha de cima. O homem é muito maior que eu, e sua postura arrogante é visível diante de mim. Ele estala os lábios.

–Não sei. Alguns dizem que a família se afundou sozinha no luto. Em um dia estavam aí, e no outro, desapareceram por completo. Dizem que se mataram todos juntos, entrando na maldita floresta. –Dá de ombros com desdém. –De qualquer forma, não tenho nada a ver com isso, e nunca sequer conversei com nenhum deles.

Olho para Marcy, que se encontra tremendo os lábios, com os olhos encharcados.

Me curvo, em um cumprimento silencioso.

–Obrigada pela informação. –Atravesso meu olhar, da mulher para o homem. –Tenham um ótimo dia.

O homem balança a mão no ar, como quem diz: "Que seja", e começa a caminhar para longe de nós.

A mulher ainda nos da um último olhar desconfiado, antes de se por a seguir o marido.

Me viro para Marcy, e ela passa uma mão sobre as bochechas, enxugando as lágrimas que banham todo seu rosto delicado.

–Estou bem. –Ela murmura, tentando conter as lágrimas.

–Marcy... –Chamo baixo, tocando seu cabelo crespo. –São só superstições

Ela balcão a cabeça, tentando acreditar em mim.

–Sim...

Estamos fazendo o mesmo caminho de antes, dessa vez, voltando para a vila.

Marcy está em silêncio, com o olhar triste e vago. Suspiro.

–Você tinha uma irmã? –Pergunto, e ela me olha um instante, antes de negar com a cabeça.

–Não. Era só eu e meu irmão.

Engulo em seco.

–Então a garota no qual ele falou, que entrou na floresta...

Marcy passa as mãos pela testa.

–Eu não sei...

Balanço a cabeça.

Marcy está tão confusa, e eu entendo que agora não é um bom momento para tentar puxar conversa.

De um jeito ou de outro, nos encontramos com os outros pouco antes de escurecer.

Ninguém precisa dizer nada para que eu entenda que a aventura deles não tiveram bons resultados, assim como a aventura de Marcy e eu.

O clima está pesado, mas resolvo perguntar mesmo assim:

–Encontraram algo?

Judy solta um longo suspiro frustrado.

–Não.

Sua resposta curta não me dá espaço para mais questionamentos. Busco o olhar de Jhon, e ele também nega, com a cabeça.

Marcy está sentada sozinha, um pouco mais distante do grupo. Ela olha para o além, com os olhos escuros e vazios.

Coço a cabeça. Parece que quanto mais procuramos, mais fundo entramos em um beco sem saída, que fica cada vez mais estreito e difícil de andar.

–Jhon, você pode patrulhar está noite? –Pergunto, e ele faz que sim.

–Claro! Vocês podem descansar.

Pisco meus olhos e engulo em seco. Não estou pensando em descansar agora, não mesmo!

Se a Luz apagar (EM ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora