| Denver, Colorado
27 de Novembro, 2021
Às 09h10.ㅗ
Eu estava terrivelmente ansiosa para aquele jantar. A ansiedade parecia tomar conta do meu estômago, com um frio insuportável tomando aquela área como se não fosse nada, ao mesmo tempo que minhas mãos trêmulas soavam.
Já tinha estado perto do Asafe antes, mas aquela seria de uma forma diferente. Ele iria entrar na minha casa, ver a parte mais importante que eu tenho, tendo a visão mais ampla de onde minhas raízes vieram. E principalmente participaria de um jantar comigo, ficando a poucos metros de mim, me dando a chance de observá-lo descaradamente como eu estava ansiando.
Fiz uma careta em frente ao espelho, soltando um resmungo de frustração ao não saber o que fazer com meu cabelo. Meu cabelo era num tom mais escuro possível, chamado de petróleo ㅡ nomeado pelo Ross ㅡ , batendo em cima do meu quadril, combinando perfeitamente com o tom da minha pele. No entanto, nada parecia me agradar nele naquela noite.
ㅡ O que ainda está fazendo aqui, Flor? ㅡ Minha mãe indagou assim que entrou no quarto e me notou em frente ao espelho. Torci o nariz em resignação, balançando minha cabeça negativamente. ㅡ Seus irmãos e seu pai já estão lá embaixo.
ㅡ Não sei o que fazer com esse cabelo.
ㅡ Como assim? ㅡ Ela soltou uma risada. ㅡ Seu cabelo é lindo, Flor, deixe-o solto.
ㅡ Hm... ㅡ Choraminguei, voltando a observar meu reflexo no espelho. Minha mãe soltou uma risada de novo, se aproximando de mim, passando a mao pelos meus fios de um jeito delicado.
ㅡ Por quê está nervosa?
Juntei às sobrancelhas.
ㅡ Não estou nervosa, mãe. ㅡ Menti, passando a língua pelos lábios com uma tentativa falha de fingir que aquilo não me afetava.
ㅡ Argh... Acho que você esqueceu que, literalmente, saiu de mim. ㅡ Resmungou, separando meus fios em três mechas. ㅡ Conheço cada detalhe seu, Flor, assim também como conheço os detalhes de seus irmãos. Sei que algo que está te deixando nervosa. ㅡ Soltei um suspiro quando percebi minha derrota. ㅡ É por causa do jantar?
Engoli em seco.
ㅡ Não é o jantar em si, mãe, mas sim o... ㅡ Ela me interrompeu.
ㅡ O Asafe?
ㅡ Como a senhora sabe?
ㅡ Notei a forma que se olharam quando estavam na Confeitaria. ㅡ Afirmou de um jeito rápido, o que me fez rir. ㅡ Conheço uma troca de olhares digna de um romance de longe. Foi a mesma forma que olhei para seu pai quando percebi meu amor por ele e...
ㅡ ... Da mesma forma que ele me olhou durante anos. ㅡ Completei por ela, balançando minha cabeça em negação. Eu já sabia de cor cada mínimo detalhe da história dela com o papai. ㅡ Ele é diferente, mãe. Eu sinto... Eu sinto como se o Asafe estivesse entrando na minha vida, sabe? Mas não de um jeito comum, como amigo, mas sim como...
ㅡ Seu par romântico? ㅡ Completou, erguendo sua sobrancelha em minha direção.
ㅡ Não estamos em um clichê, mãe.
ㅡ Isso é o que você pensa. ㅡ Piscou, com um sorriso malicioso nos lábios. ㅡ Vocês ainda estão no começo, mas se é isso que você quer, eu apoio. Na verdade, o mais turrão é o seu pai.
ㅡ Argh... ㅡ Choraminguei, notando ela rir enquanto me puxava para fora do quarto para irmos logo em direção aquele jantar. Só então tinha notado a trança que ela havia feito em meu cabelo.
Assim que terminei de descer os lances de escadas junto com minha mãe, não demorei a notar que os convidados já havia chegado. Meu pai recebia o Raphael com um sorriso no rosto, enquanto a Ária abraçava a Emma, com o Asafe passando pela porta parecendo meio perdido. Um suspiro escapou dos meus lábios assim que o notei, reparando no quanto ele parecia ainda mais bonito naquele momento. Ele usava um casaco azul escuro, com uma touca em seus cabelos, assim também como uma calça da mesma cor.
ㅡ Oi, Ally. ㅡ Abri um sorriso para Ally, que rapidamente retribuiu, desviando os olhos de seu irmão. ㅡ É um prazer recebê-la.
ㅡ Eu que o diga. ㅡ Abraçou-me, deixando um beijo na minha bochecha. ㅡ Oi, tia Quinn!
Voltei a olhar para o Asafe, flagrando seus olhos cor de chocolate fixos em mim. Aquilo me fez sorrir em sua direção, ainda lembrando das mensagens trocadas há minutos atrás.
ㅡ Oi, As.
ㅡ Oi, Florence.
Aquele tom afiado ao pronunciar meu nome pareceu correr com um arrepio até a linha da minha coluna, me fazendo soltar um suspiro.
ㅡ Já disse que pode me chamar de Flor, As. ㅡ Sugeri, de novo, cutucando seu ombro que parecia ser o único lugar que eu poderia tocá-lo naquele momento. Foi então que outro choque me varreu por inteira, despertando meu corpo. Tocá-lo era melhor que observá-lo.
ㅡ E eu já disse que gosto de Florence. ㅡ Piscou repetidamente seus olhos em minha direção, quase como um deboche, o que me fez suspirar em derrota. Se ele continuasse me olhando daquele jeito, não sabia quanto tempo eu resistiria.
O assunto morreu quando minha mãe nos direcionou até a sala de jantar, quebrando aquela tensão que se instalou entre nós naquele momento. Logo a nossa cozinha se preencheu de conversas e grupos, com Ross e Vicente fazendo mais barulho, com o cheiro do jantar para todo o lado.
Por sorte, Asafe tinha sentado em minha frente ao lado da Emma, que parecia alheia aos nossos olhares durante todo o jantar. Uma vez ou outra Ally lançava olhares cúmplices, como se estivesse tentando me lembrar que estava do meu lado, até o momento "torcendo" para que continuassêmos o que sequer tínhamos. Raphael estava entretido demais na conversa com meus pais, também concentrado em sua comida, feliz demais ao prová-la.
E, no meio daquele caos, estava eu. Eu tentava disfarçar, mas era difícil manter meus olhos quietos sabendo que ele estava em minha frente, pronto para me olhar com a mesma intensidade. Engoli em seco quando senti minha pele queimar, consequência dos seus olhos em mim, assim como eu esperava.
Ergui meu queixo lentamente, rapidamente seus olhos se fixaram nos meus. O caos que estava naquela cozinha se esvaiu subitamente, em modo automático, como uma resposta para o que acontecia entre nós naquele momento. Aquela faísca pareceu queimar os dois no momento instante, como apenas um terço do que tínhamos.
... ... ...
Me enfiei nas cobertas assim que cheguei no meu quarto, pronta para finalizar aquela noite tão fria em Denver. Eu estava começando a estranhar todo aquele atraso na neve, mas também estava ansiosa pela chegada dela, porque sabia que era um sinal para a chegada do Natal.
Puxei as cobertas até meu queixo, sobressaltando-me quando a porta do quarto se abriu de repente. Era minha mãe.
ㅡ Oi, mãe. Já estou indo dormir.
Ela encostou-se na ombreira da porta, curvando um sorriso malicioso no canto dos seus lábios.
ㅡ O que foi, mãe?
ㅡ Só queria vê-la. ㅡ Encostou sua cabeça na ombreira, com um sorriso tão bonito que já conhecia muito bem. ㅡ Você não parava de olhá-lo.
ㅡ E ele não parava também.
Nós duas rimos.
ㅡ Estava ansiosa para esse dia, sabia?
ㅡ Que dia?
ㅡ O dia em que lhe daria conselhos amorosos.
ㅡ O que? Não, mãe! Eu não preciso!
ㅡ Seu namorado é muito bonito.
ㅡ Ele não é meu namorado. ㅡ Afirmei, quase rindo, notando o sorriso presunçoso que minha mãe abriu no segundo seguinte. ㅡ Por enquanto.
•••
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Coração Rebelde | Vol.3
РомантикаAsafe estava completamente ansioso para suas férias de fim de ano, pronto para descansar depois do último ano exaustivo que enfrentou. Ainda indeciso sobre seus próximos passos no mundo acadêmico, tudo que o Asafe queria era descansar tranquilamente...